Método de construção pode ter inspirado os astecas no Templo Maior de Tenochtitlán.
O poderoso terremoto que sacudiu a região central do México em setembro do ano passado, deixando mais de 300 mortos apenas na capital do país, provocou danos estruturais na pirâmide principal do sítio arqueológico de Teopanzolco, em Cuernavaca, no estado de Morelo, a cerca de 85 quilômetros da Cidade do México. Mas os trabalhos de restauração revelaram uma grata surpresa: um templo secreto, no interior da estrutura, que altera a datação da ocupação do local e revela a influência dos tlahuicas na arquitetura de Tenochtitlán, capital da civilização asteca.
Em entrevista Isabel Campos Goenaga, diretora do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) em Morelo, explicou que equipes estavam trabalhando na consolidação e restauração da edificação principal do sítio de Teopanzolco, que sofreu graves danos com o terremoto. Para reforçar o núcleo da pirâmide, os operários escavaram poços de sondagem para analisar o interior da estrutura e descobriram o templo escondido.
Apesar de todo o significado do terremoto, temos que agradecer por este fenômeno natural ter revelado esta importante estrutura que altera a datação do sítio arqueológico afirmou Isabel.
Teopanzolco é um dos sítios arqueológicos mais importantes dos tlahuicas, povo que prosperou no altiplano mexicano até ser conquistado pelos astecas, no século XV. Bárbara Konieczna, que liderou os trabalhos de restauração ao lado de Georgia Yris Bravo López, ambas do INAH, explicou que foram descobertos muros do templo e restos de uma pilastra que sustentava o teto. Aparentemente, foi a primeira etapa construtiva da pirâmide, erguida entre os anos 1150 e 1200, e que serviu de base para a pirâmide atual.
Este achado muda a cronologia de Teopanzolco, já que primeiro foi construído o interior. Depois, a imagem desse tipo de construção, o Templo Maior foi construído em Tenochtitlán afirmou Bárbara. Não é que os mexicas (como são conhecidos os astecas) tenham trazido este estilo arquitetônico para esta região, ao contrário, as construções tlahuicas que os inspiraram a construir o Templo Maior.
O terremoto provocou danos consideráveis à pirâmide, sobretudo na parte superior, onde estão os templos de Tláloc (deus da chuva) e Huitzilopochtli (deus da guerra). O piso dos dois templos afundou e se inclinou, colocando em risco a estabilidade da construção. Para os trabalhos de restauração, foram abertos dois poços, um no templo de Tláloc e outro no vão que separa os dois oratórios. A cerca de dois metros abaixo foi encontrada a estrutura escondida.
O padrão arquitetônico do templo recém-descoberto é semelhante ao da pirâmide que o recobre, com muros de fachada dupla de pedras grandes, bem cortadas, recobertas por argamassa. Segundo Bárbara, é provável que o templo tenha sido dedicado a Tláloc, da mesma forma que o oratório existente hoje sobre ele, com dimensão aproximada de seis metros de comprimento por quatro de largura.
Possivelmente, do lado direito estão os restos de outro templo dedicado a Huitzilopochtli pontuou a arqueóloga.
Por causa da umidade acumulada ao longo dos anos, a argamassa dos muros está bastante danificada. Foram encontrados restos de cerâmica e de um incensário com detalhes tlahuicas. Uma grande quantidade de carvão foi encontrada no templo, que pode ser resultado da atividade ritual ou de uma possível destruição para dar início à nova construção, ou se tratar de restos de algum desastre.
Não havia notícias, até agora, da existência de uma subestrutura no interior da pirâmide disse Bárbara. O que encontramos pode ser o templo mais antigo de Teopanzolco, mas faltam estudos para ver se é contemporâneo com a primeira etapa da construção da pirâmide de Tenayuca, na Cidade do México.
Fonte: Jornal O Globo