Quatro pessoas são presas em operação da Polícia Civil e MP-RJ contra roubo de cargas

Criminosos chegavam a pagar diárias para ambulantes venderem os produtos roubados pela quadrilha.

A Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) da Polícia Civil e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro realizam, na manhã desta quarta-feira (4), uma operação para cumprir 12 mandados de prisão de integrantes de uma quadrilha de roubo de carga que atua no Rio. Até 7h15, quatro pessoas foram presas.

Os investigadores ficaram impressionados com o esquema de roubo e distribuição criado pelo grupo criminoso. Alguns integrantes eram responsáveis pelo roubo de cargas. Outros avisavam uma rede de distribuição quais eram as mercadorias disponíveis.

Fazem parte dessa rede de distribuição comerciantes e camelôs de calçadões de vários pontos da cidade. Os criminosos também contratavam ambulantes e pagavam diárias a eles para venderem produtos que eram roubados pela quadrilha.

“Nós conseguimos identificar uma sofisticada rede de revenda por comércio varejista, em que essa quadrilha chega a pagar camelôs por sua jornada diária para que eles revendam as mercadorias roubadas nas imediações das estações ferroviárias”, explicou o promotor Alexandre Themístocles.

Os envolvidos no esquema também foram denunciados pelo MP-RJ por organização criminosa e financiamento do tráfico de drogas, já que dividiam os lucros obtidos com os crimes com traficantes da facção Comando Vermelho. O esquema de roubo de carga se beneficiava do domínio territorial que os criminosos exerciam nas favelas Pica-pau, Dick, Ficap e Furquim Mendes, para fazerem nestes locais o transbordo das mercadorias roubadas. Eles também chegaram a pagar propina a agentes públicos para não serem presos em flagrante.

Nos primeiros 12 dias de 2018, foram registrados 281 casos de roubo de cargas, uma média de 23 casos por dia no RJ. De janeiro a novembro do ano passado, foram 9,4 mil casos. A polícia sabe que os roubos de carga se tornaram um braço financeiro do tráfico de drogas em várias favelas do Rio de Janeiro.

De acordo com a Fetranscarga, os produtos mais visados pelos criminosos são os alimentos, as bebidas, os medicamentos, produtos farmacêuticos, eletrônicos e autopeças.

Em entrevista, o general Richard Nunes, secretário de Segurança do RJ nomeado pelo interventor Braga Netto afirmou que o combate aos roubos de cargas e de veículos são uma prioridade de sua gestão.

Escutas revelam esquema

Um dos acusados é Alan Pinheiro de Oliveira que, de acordo com as investigações, possui contato direto com traficantes e outros criminosos que roubam as cargas. As investigações apontaram que o material roubado é comprado em diversas favelas do Rio. O pagamento pelo serviço é feito à vista ou em consignação e o material é distribuído em feiras, trens e calçadões.

Quando Alan consegue comprador para grandes quantidades, ele mesmo negocia e repassa a carga para intermediários, como a esposa de Alan, Danieli Bezerra. Em um áudio gravado pelos policiais, eles negociaram uma carga de bebidas energéticas. Em uma outra gravação, eles falam sobre a comercialização de uma carga de óleo de cozinha.

Danieli Bezerra – “Você vai trazer óleo para casa?”
Alan Pinheiro de Oliveira – “Vai, Baiano saiu daqui agora com 20”.
Danieli Bezerra – “Vou anunciar”.
Alan Pinheiro de Oliveira – “Pode anunciar 4 por R$ 10”.

Alan também conversa com outro intermediário sobre a venda de margarina roubada em outra gravação interceptada pelos investigadores.

Os policiais também gravaram uma outra conversa de Marlen Marlon Souza da Silva, conhecido como “Marlinho Gordinho”, que fala da necessidade de usar fuzis nos assaltos, se referindo ao armamento como “negocinhos” e “brinquedos”.

Marlen Marlon Souza da Silva – “Tá com escolta?”
Criminoso – “Escolta, escolta mesmo”.
Marlen – “Só um cara?”
Criminoso – “O piloto e um outro, pô”
Marlen – “Então tem que ir com dois ‘negocinhos’”.
Criminoso – “É, dois ‘brinquedos’”.

Fonte: Portal G1

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