O Água Escondida foi apresentado na semana passada ao Subcomitê Leste da Baía de Guanabara, ao qual pertencem os municípios de Guapimirim, Magé ,Rio Bonito, Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Tanguá, e Cachoeiras de Macacu.
Depois de Araribóia ajudar os portugueses a expulsar os franceses que ocupavam o Rio no século XVI, Estácio de Sá, sobrinho de Mem de Sá, governador geral do Brasil na época, deu ao cacique o direito de escolher qualquer uma das regiões da Guanabara para viver. Sem titubear, ele apontou para o outro lado da Baía e disse que queria aquela região de “águas escondidas” — Niterói, em tupi-guarani. Passados cinco séculos, boa parte deste patrimônio natural que deu nome à cidade permanece oculta. Com o intuito de revelá-lo, a Secretaria municipal de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade começou a catalogar, na última semana, nascentes e olhos d’água de três bacias hidrográficas: do Rio das Pedras, do Rio Sapê e do Rio Muriqui. O objetivo é promover ações para preservar as 32 bacias hidrográficas da cidade.
As primeiras ações serão feitas no olho d’água que fica na esquina da Avenida Frei Fabiano com Rua F, em Itaipu. No local, a água de um lençol subterrâneo que pertence à bacia do Rio Santo Antônio brota do chão, formando um curso hídrico pelo canto da Avenida Frei Fabiano. Geógrafo da secretaria, Thiago Leal explica que, em casos como esse, em que o líquido emerge do solo em menor proporção que as nascentes, sem muita movimentação, muita gente confunde a nascente com simples poças.
— Como a água fica mais parada, é difícil identificar. Mas já avaliamos o líquido é limpo e vem do lençol freático. Para proteger esse olho d’água, vamos começar na próxima semana o plantio de dez mudas de plantas nativas da Mata Atlântica em volta dele e vamos sinalizar para que os moradores conheçam e preservem o local — conta.
Nas margens da Avenida Ewerton Costa Xavier, em Várzea das Moças, na região do Parque Estadual da Serra da Tiririca, uma nascente mais abundante já foi identificada pelos técnicos da prefeitura. Pertencente à bacia do Rio João Mendes, ela também deve receber intervenções para que seja preservada. Por estar dentro de uma propriedade privada, os trabalhos precisam ser conduzidos de forma mais protocolar.
— Já entramos em contato com o proprietário, e ele se mostrou receptivo. Estamos tentando marcar uma nova ida ao local para iniciarmos as ações. A participação e o engajamento dos moradores são fundamentais — diz Leal.
APLICATIVO PARA MORADORES
Além de detectar a localização das nascentes perenes e intermitentes, o projeto Água Escondida quer envolver os moradores do entorno dos corpos hídricos no esforço de eliminar os fatores de degradação, como a presença de animais domésticos, de espécies invasoras ou de formigas, além da ação do fogo, da erosão e do descarte de resíduos. De acordo com a secretaria, a participação da população da cidade também será importante no trabalho de catalogação das nascentes. Um aplicativo para celular que está sendo desenvolvido permitirá aos niteroienses fotografar os fenômenos geológicos e passar as coordenadas do local, via GPS.
O Água Escondida foi apresentado na semana passada ao Subcomitê Leste da Baía de Guanabara, ao qual pertencem os municípios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Tanguá, Guapimirim, Rio Bonito, Magé e Cachoeiras de Macacu. A ideia, segundo Amanda Jevaux, subsecretária de Meio Ambiente, é que os municípios da região possam aderir e pôr em prática iniciativas semelhantes.
— Diante da crise hídrica que vem se instalando no país, são necessárias medidas para que não haja escassez de água, que é um recurso não renovável. Por isso, vamos trabalhar para, na medida do possível, preservar as nascentes e os olhos d’água nas áreas urbanas — explica.