Tanto faz se o capitão não tem um plano econômico concreto. Para o mercado, basta ele estar longe do PT.
Se há uma certeza no mercado financeiro sobre um eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL) é de que ele não estará próximo do PT. Por enquanto, isso basta. Até porque, não há qualquer proposta que os agentes econômicos vejam como concreta. É só olhar para o desempenho da bolsa de valores esta semana, na qual o militar se distanciou do rival Fernando Haddad (PT) em duas pesquisas. O índice Ibovespa subiu 2,04%, aos 83.273 pontos nesta quarta-feira maior patamar desde 17 de maio. O dólar, por sua vez, caiu 1,2%, a 3,888 reais. Essa é a menor cotação desde 14 de agosto.
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Especialistas consultados pela reportagem são unânimes em dizer: não há proposta. No máximo, dizem acreditar na continuação da política econômica atual redução de gastos públicos por meio de reformas e privatizações. Além da manutenção do chamado “feijão com arroz”, qualquer elucubração sobre um possível mandato de Bolsonaro é um grande tiro no escuro.
O fato é que a figura de Paulo Guedes, mestre pela Universidade de Chicago, fundador do antigo Pactual (atual BTG) e ex-sócio do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), ainda garante credibilidade à candidatura. Sem ele, todo o amor que o mercado demonstra pelo “Bolso”, pode se esvair rapidamente.
“Medidas concretas? Não existe absolutamente nada ainda”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. “Pode ser que alguma reforma aconteça com o Paulo Guedes comandando a economia, assim como algumas privatizações, concessões. O problema é que não imagino ele durar mais de três meses na Fazenda”, decreta.
Bolsonaro acabou se transformando na única candidatura disponível para afagar a birra que o mercado tem com a candidatura de Haddad. Inicialmente, o sonho de consumo era Geraldo Alckmin (PSDB), que não decolou. Assim, foi o que sobrou. E por que a birra é tão grande com o PT? Porque o partido retomou o discurso de expandir gastos públicos, o que acarreta em aumento de impostos. E disso, o mercado não gosta.
“Nem adiantaria o Haddad falar em reformas, quando é sabido que o partido não acredita. Imagina-se que o Bolsonaro entregaria mais medidas, porém, sua trajetória nunca demonstrou esse liberalismo. O mercado só tem a sensação de que ele pode ser melhor, nada mais”, afirma Vale.
Recentemente, Bolsonaro se desentendeu com seus assessores mais próximos no campo econômico. Primeiramente, Guedes aventou a possibilidade de reeditar a CPMF, o imposto do cheque. Depois, General Mourão, seu vice, criticou por duas vezes o 13º salário. O presidenciável desautorizou os dois, que saíram dos holofotes. Ao não participar de debates, devido a sua condição clínica após sofrer um atentado, Bolsonaro permite que suas propostas habitem apenas o imaginário do mercado.
Proposta para geração de emprego e renda? Nenhuma. No plano de governo entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), há apenas a menção a uma nova e maior reforma trabalhista. Como ela seria, ninguém sabe. “Se pensarmos em futuros cenários, não qualquer percepção do que realmente vai ser feito”, diz a economista Thais Zara, da Rosenberg Associados.
Apesar de o mercado estar praticando tiro ao alvo em uma sala escura, a vizinha, vermelha, assusta mais. “Na realidade, o Bolsonaro, como plataforma, não vejo lá grande coisa”, diz João Medeiros, economista da corretora de câmbio Albatross. “Mas, ao pensarmos numa vitória de Haddad, com Dilma Rousseff presidindo o Senado, Gleisi Hoffmann, a Câmara, com Lula na Casa Civil. Isso assusta”, afirma.
Segundo turno
Com pouco tempo no rádio e na TV, Bolsonaro tem desculpas prontas para não precisar expor suas propostas. No entanto, caso a contenda passe para o segundo turno, o tempo será igual para o capitão e para Haddad. Nesse momento, o militar será cobrado por suas propostas.
“O jogo começa em zero a zero no segundo turno. Os dois times vão ter que mostrar o jogo, coisa que não fizeram até agora”, diz Gilberto Braga, professor do Ibmec.
Para o economista, até o momento, as campanhas têm focado em temas mais relacionados ao cotidiano da população, como educação, saúde e segurança. Economia, tem ficado em segundo plano diferentemente de todas as eleições desde 1989.
“As questões ideológicas já estão postas. Quem vota no PT não vai mudar, nem quem vota no Bolsonaro. Mas há uma massa de eleitores que votaram em outros candidatos, e que precisarão escolher entre esses dois. As propostas precisam aparecer para conquistar esse eleitorado”, afirma Braga.
Fonte: Revista Veja