Justiça concluiu que a ossada do ex-jogador foi exumada e está desaparecida.
Cinquenta e seis anos após Manoel Francisco dos Santos, o Mané Garrincha, ajudar o Brasil a ganhar a Copa de 1962, restam apenas abandono e incerteza em dois túmulos com o nome do craque, no Cemitério Municipal de Raiz da Serra, em Magé, na Baixada, local em que o atleta foi sepultado em 1983, após perder a luta contra o álcool. Inquérito da Polícia Civil remetido à Justiça concluiu que a ossada do ex-jogador da seleção brasileira e do Botafogo foi exumada e está desaparecida.
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Numa da sepulturas, um jazigo coletivo de cimento e sem mármore onde Mané foi enterrado, uma pintura recente com cal tenta realçar antiga inscrição informando que ali estaria sepultado aquele que foi “a alegria do povo”. No outro túmulo, construído em 1985, onde há um obelisco, as informações sobre o atleta que ajudou o país a ganhar duas Copas (1958 e 1962) se apagaram com o tempo. Na lateral, com pinceladas de tinta, algum torcedor, provavelmente em 2013, pichou uma “homenagem”: “30 anos sem a maior lenda do futebol”.
Em maio de 2017, com a suspeita de que os restos mortais de Garrincha haviam desaparecido, o prefeito de Magé, Rafael Tubarão, disse que, com autorização dos parentes do atleta, faria exumação das ossadas nos dois jazigos e providenciaria exame de DNA para apontar se alguma era do ex-jogador.
A autorização foi concedida pela família de Garrincha e o mistério sobre onde está a ossada do gênio das pernas tortas continua.
Queria que meu pai estivesse numa sepultura digna. Ele merecia estar enterrado num local adequado. Fico triste. Nem jogo da Copa estou vendo. Em época de Copa me dá mais tristeza com a situação da sepultura do meu pai e sem saber onde ele está disse uma das filhas, Rosângela dos Santos.
O inquérito concluiu não ter havido violação da sepultura onde Garrincha foi enterrado em 1983. A família do craque contou que Maria de Lourdes dos Santos, irmã dele, autorizou a exumação. No entanto, a retirada dos restos mortais da sepultura não foi registrada no livro de controle do cemitério nem acompanhada por parentes. A data em que ocorreu é desconhecida e não se sabe onde teria sido guardada a ossada.
Lourdes morreu em 2011, anos após ter autorizado a exumação. Ela foi enterrada na mesma sepultura onde Garrincha foi sepultado originalmente. Um familiar do craque prestou depoimento, e disse que, além da ossada de Garrincha, os restos mortais de um primo do craque, depositados no mesmo local, também desapareceram.
Administradora do cemitério na época, Priscila Libório confirmou a ausência de registros que comprovem a exumação ou transferência da ossada. Priscila foi exonerada e substituída, há cinco meses, por Kátia Estrela. Segundo a prefeitura, a troca no comando ocorreu por outros motivos.
Administradora do cemitério, Kátia Estrela disse que a família de Garrincha não costuma visitar o túmulo do craque. Segundo ela, em março, a sepultura onde Garrincha foi sepultado teve de ser aberta. Na ocasião, uma criança que morreu após o nascimento e que seria da família do ex-jogador foi enterrada no mesmo jazigo. Kátia verificou, então, que havia no jazigo coletivo restos mortais de mais de uma pessoa.
Vi que há três ou quatro ossadas no túmulo em que o Garrincha foi sepultado disse.
Segundo ela, a Prefeitura de Magé quer melhorar as condições das sepulturas onde constam o nome de Mané Garrincha.
Tentei notificar o responsável pelo túmulo, mas até agora não tive resposta. Queremos cuidar melhor dos dois túmulos, reacender as letras dos dizeres e até colocar uma lápide. Para isso, precisamos de autorização disse, alegando que, sob sua gestão, o cemitério passou a ter controle das exumações: E desde março temos vigia diurno e noturno.
Fonte: Jornal Extra