Segundo as investigações, traficantes pagavam propina para que os policiais permitissem a livre venda de drogas.
Pelo menos 81 pessoas, suspeitas de participação e envolvimento com o tráfico de drogas, foram presas entre elas, 25 policiais militares do 28º BPM (Volta Redonda), no Sul Fluminense, o equivalente a quase 5% da unidade, que tem 670 homens.
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Três operações, batizadas de Sideros, Confinado e Corruptio, desencadeadas de forma conjunta entre a Polícia Federal (PF), Coordenadoria de Inteligência da PM, com apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), e Corregedoria da PM, ocorreram no município e nas cidades vizinhas de Resende e Itatiaia, no Sul do estado.
Ao todo, segundo o promotor do MP, Fabiano Cossermeli, 650 agentes, vinculados às três forças policiais, tiveram a missão de cumprir 102 mandados de prisões (32 para PMs do 28º BPM e 70 civis) . Sete PMs, que estariam de férias ou de folga, ainda não tinham se apresentado à corporação até o final da tarde. Durante a as investidas, foram apreendidas certas quantias de drogas, munições, e 472,500 bolívares venezuelanos (R$ 27.877,50), cuja origem está sendo investigada. O dinheiro estava na casa de um dos alvos da operação, que não foi localizado, no Jardim Aliança, em Resende.
Em outro ponto da cidade foram apreendidos um tablete de maconha, 65 trouxinhas da mesma droga, 129 pinos pequenos de cocaína, 420 pinos grandes da droga, entre outros materiais.
Durante a operação, mais de 120 mandados de busca e apreensão de 191 expedidos , também foram cumpridos nas três cidades. Os detidos foram encaminhados para o presídio Ary Franco, no Rio. Os PMs, entre eles um ex-policial, expulso da corporação recentemente por outro motivo, por sua vez, foram levados para a Corregedoria da PM, em São Gonçalo, na Região Metropolitana.
Segundo as investigações, que duraram dois anos, 32 PMs do 28º BPM, entre soldados, cabos e sargentos, participavam de um esquema de corrupção, com o recebimento de caixinhas no valor entre R$ 500 e R$ 2 mil, por semana, para fazer “vista grossa” e não combater ações de traficantes, ligados a uma facção criminosa do Rio de Janeiro. Os suspeitos vão responder por tráfico de drogas, associação criminosa armada, corrupção, e roubo, entre outros crimes, análogos ao envolvimento com traficantes em troca da permissão de venda de entorpecentes e a liberação de criminosos presos e de drogas interceptadas.
“Estamos tristes por saber que convivíamos com maus policiais, que chegavam até a fazer boas apreensões na tentativa de despistar suas verdadeiras condutas, que era a de não servirem à sociedade, mas a traficantes”, afirmou o comandante do 5º Comando de Policiamento de Área (CPA), coronel Antonio Goulart. “É doloroso, mas necessário. Se for preciso cortarmos mais na própria carne, vamos cortar. É preferível ter um efetivo menor, que contar com criminosos nos nossos quadros”, completou o comandante do 28º BPM, tenente-coronel César Vieira.
As investigações tiveram acanço a partir de informações coletadas na fase final da Operação Camará, deflagrada pela PF em 2017, para combater crimes ligados ao tráfico. Sete denúncias apresentadas pelo MP-RJ apontam o envolvimento dos 32 PMs, 57 traficantes de Volta Redonda e 13 traficantes de Itatiaia e Resende no esquema de propina. As investigações ainda revelaram indicações para voto em político de interesse do tráfico e homicídios.
“De dentro da prisão, um dos traficantes líderes do esquema, Rafael Neves, o Tio 10, ordenou que seus subordinados em Resend ‘dessem um jeito’ de conseguir 4 mil votos, aproximadamente, para eleger uma pastora à deputada estadual. Ela acabou não se elegendo, mas isso mostra a ousadia do traficante que (em escutas autorizadas pela Justiça), alegava que ‘a candidata defenderia os interesses do tráfico’”, detalhou Cossermeli, elogiando a atuação do comando da PM da região e do trabalho de inteligência da própria corporação, que identificou e prendeu os PMs acusados de corrupção. “Fizeram uma limpeza dentro da própria casa”, disse.
Durante as investigações, ficou comprovado que os PMs envolvidos chegavam a cobrar até R$ 10 mil para a liberação de traficantes ou drogas. “Numa das ocorrências absurdas, como o bandido flagrado, em Resende, não tinha dinheiro para pagar a propina, um dos policiais ordenou que ele fosse vender a droga, enquanto sua guarnição fazia a ‘escolta’ da boca de fumo, para que a quantia exigida fosse arrecadada. O traficante fala da situação para seu chefe, ao lado do PM, e o bandido ri da inusitada situação”, afirmou o promotor.
Abusos de traficantes
Na denúncia do MP consta mais abusos por parte de traficantes. Um deles, chamou policias que encostaram duas viaturas, interditando via pública e parando carros, de “chatos”. Os PMs teriam questionado os traficantes sobre a venda de drogas na região e apreenderam drogas na ocasião. Porém, acabaram liberando a carga por um suborno de R$ 1,5 mil.
Em outra parte da denúncia, um outro traficante fica insatisfeito por conta da apreensão de drogas em sua área, uma vez que o PM envolvido (preso nesta terça), exigiu R$ 5 mil para liberar o material.
Fonte: Jornal O Dia