Ação cumpre 17 mandados de busca e apreensão e investiga monopólio ilegal de serviços em comunidades dominadas por facções criminosas.
A Polícia Civil do RJ iniciou nesta terça-feira (5) a Operação Rede Obscura, contra provedores de internet que operavam a serviço do tráfico na Zona Norte da capital. Segundo as investigações, essas firmas tinham “apoio logístico” de criminosos armados, que impediam a entrada de operadoras licenciadas, como a Claro e Vtal. Técnicos ainda relataram sabotagens na rede de cabos de fibra óptica.
Agentes da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) e da 38ª DP (Brás de Pina), com apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), saíram para cumprir 17 mandados de busca e apreensão. A Justiça também autorizou a quebra de sigilo de dados dos materiais apreendidos. Duas pessoas foram conduzidas à delegacia.
Segundo o delegado Pedro Brasil, houve a imposição, pelo tráfico, de “um monopólio de serviços de internet”. “Começamos um trabalho de monitoramento e identificamos que havia 2 principais empresas, cada uma aliada a uma facção”, explicou.
Os provedores investigados são:
Flaquinete Serviços Ltda, que operava no Morro do Quitungo com apoio do Comando Vermelho e tem como responsável Rogério Nascimento. Ele já possui antecedentes por tráfico de drogas, furto de energia e receptação. Em depoimento, Rogério afirmou ter recebido propostas de facções para expandir o serviço para outras comunidades e admitiu fazer repasses financeiros a líderes do tráfico.
RDO Telecomunicações, ligada ao Terceiro Comando Puro, com atuação em Cordovil, Cidade Alta e arredores, cujo dono é Renato de Oliveira. Ele já tinha sido preso em flagrante por receptação qualificada em um galpão na Penha, policiais encontraram grande quantidade de cabos de operadoras regulares e veículos sem documentação fiscal.
De acordo com o delegado, o sinal oferecido pela Flaquinete e pela RDO era de baixa qualidade. “Um dos pontos de partida dessa nossa operação foi a notícia de que muitos hospitais, escolas e pequenos comércios também vinham sofrendo com esse crime”, emendou.
Em uma das ações, realizada em fevereiro no Estácio, agentes flagraram técnicos da Flaquinete operando em uma rede clandestina. Pouco depois, a Claro registrou queda de sinal na região — a empresa confirmou que seus cabos haviam sido danificados de forma intencional.
“A operação busca restabelecer serviço nesses locais para que a população tenha direito a um serviço de qualidade”, emendou o delegado.
O mapeamento feito a partir de denúncias recebidas pelo Disque Denúncia e pela Ouvidoria da Segurança mostrou que o monopólio do serviço de internet pelo crime organizado já é presente em quase todas as favelas do Rio de Janeiro.
“Essa alteração no regulamento da Anatel é mais um duro golpe nas organizações criminosas, atingindo seu ponto mais sensível: o financeiro”, afirmou o subsecretário de Inteligência da secretaria, Pablo Sartori.