ONÇA-PARDA: BIÓLOGOS E AMBIENTALISTAS CELEBRAM IMAGENS DE SUÇUARANAS NA REGIÃO SERRANA

Elas foram avistadas com dois filhotes cada uma, o que acende esperança de renovação da espécie. 

Em fins de março, enquanto moradores de Petrópolis se alvoroçavam com o suposto avistamento de uma rara onça branca num paredão rochoso da cidade, um outro animal misterioso vagava há tempos por ali sem ser percebido. O bichano branco era um bem nutrido gato doméstico que, visto a distância, causava ilusão. Já o felino discreto era, sim, uma onça, que uma câmera captou, ainda que sem nitidez.

Era uma suçuarana ou onça-parda (Puma concolor), espécie registrada com frequência cada vez maior em cidades do Estado do Rio de Janeiro e que traz um desafio inédito de convivência entre pessoas e carnívoros silvestres, numa das regiões mais densamente habitadas do país. A felina é o lado frágil e o ser humano, aquele com poder de decidir seu destino.

Estamos à frente de um desafio do Antropoceno, a era dos homens, em que os animais selvagens que restaram vivem perto de nós, pois nós é que invadimos com nossas casas e fazendas os territórios deles. Porém, sem eles, não existirão as florestas que tanto queremos e das quais dependemos para ter água e regular o clima

Mãe onça, símbolo de esperança
 
Na mesma Região Serrana, biólogos e ambientalistas celebraram este mês a captação de imagens de duas mães onças, com dois filhotes cada. Sinais de esperança da saúde da floresta e da renovação da espécie.

Sem perigo para seres humanos
 
Misteriosa e discreta, a parda não oferece perigo para o ser humano — não existe registro comprovado de um único ataque de suçuarana a pessoas no país. Ao contrário, enfatizam especialistas, ela precisa de nós para continuar a existir.

A onça é a ponta frágil da relação e sem ela não há futuro para a Mata Atlântica, pois está no topo da cadeia alimentar e mantém o equilíbrio, destacam os cientistas. Há registros de Campos e São Fidelis, no Norte, a Paraty, no Sul, passando por Maricá e um provável aparecimento em Guaratiba, na Zona Oeste da capital fluminense. Eventualmente, ela sai das matas e passeia por condomínios, se esgueira por ruas desertas e atravessa estradas nas proximidades de áreas naturais.

Um oásis para grandes gatos
 
Os especialistas não sabem se o aumento de registros se deve ao crescimento da população de onças, à multiplicação de câmeras de segurança e de armadilhas fotográficas, à explosão da malha urbana que comprime as florestas, ao trabalho de formiguinha de ambientalistas para conectar os fragmentos florestais ou a tudo isso combinado.

São uma relação e um desafio novos, ressalta André Lanna, biólogo do Caminho da Mata Atlântica, iniciativa que reconecta áreas naturais. Lanna já identificou 15 onças-pardas na Reserva Ecológica de Guapiaçu (Régua), um oásis para as suçuaranas e animais ameaçados.

É uma questão de aprender a conviver. Só há conflito quando o ser humano cria condições para isso, descuidando de seus animais de criação. As onças só querem existir. Estamos muito felizes porque temos aqui uma mãe com dois filhotes pequenos frisa Lanna.

A suçuarana é como um espírito da Mata Atlântica quase impossível de observar diretamente porque ela evita e teme o ser humano, explica Ricardo Mello, pesquisador e chefe substituto do Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis (PNMMT).

Mello estuda em sua dissertação de mestrado a resolução de conflitos entre seres humanos e onças no estado. Para ele, não faltam provas de que a convivência em harmonia é possível, se o ser humano assim decidir.


 

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