Nove em cada dez delegacias distritais no estado do Rio têm déficit de policiais

A Polícia Civil conta com pouco mais de 9.500 servidores cerca de 200 deles, cedidos a outros órgãos.

Após ser vítima de um acidente de trânsito em São Gonçalo, um homem chega à 75ª DP (Rio do Ouro) para registrar a ocorrência. Na porta da delegacia, um agente explica que todo o efetivo da unidade oito policiais, naquele momento estava mobilizado autuando um preso em flagrante por tráfico de drogas.

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Você pode voltar daqui a três horas? perguntou o policial.

A delegacia fica numa casa antiga, com infiltrações no teto e paredes descascadas. À noite, por conta do baixo efetivo, a porta da frente costuma ficar fechada. “Toque a campainha e aguarde”, diz uma folha de papel afixada na entrada.

A 75ª DP é a unidade com maior déficit de agentes da Região Metropolitana

A delegacia tem metade do efetivo previsto por decreto. A carência de pessoal, entretanto, se espalha por todo o estado. Um levantamento revela que 123 de todas as 138 delegacias distritais do estado ou nove em cada dez unidades têm déficit de policiais. Juntas, as unidades têm, atualmente, 4.070 agentes lotados 27% a menos que o ideal. Em São Gonçalo, cidade que abriga a 75ª DP, a situação é crítica: quatro das dez delegacias com maior déficit de agentes no Grande Rio ficam no município.

Para chegar a essas conclusões,a reportagem cruzou dados do efetivo total de cada delegacia, obtidos via Lei de Acesso à Informação, com a quantidade de registros de ocorrência feitos pelas unidades no último mês de setembro. A metodologia usada no levantamento é a mesma utilizada pela polícia para determinar a quantidade mínima de policiais que deve ser lotada em cada delegacia.

Um decreto assinado pelo então governador Sérgio Cabral, em 31 de maio de 2012, estabelece que as delegacias distritais são divididas em cinco grupos Pequenas, Médias, Grandes, Extra-Grandes e Extra-Grandes Especiais de acordo com a quantidade de ocorrências que cada uma registra por mês. Pelo decreto, cada grupo deveria ter um número mínimo de policiais.

Baixa elucidação

Levantamento também comparou o déficit de agentes em cada delegacia com dados de inquéritos de roubos instaurados e concluídos com êxito em cada uma das unidades, obtidos novamente via Lei de Acesso à Informação. Das dez delegacias distritais da Região Metropolitana com menores índices de elucidação de janeiro a agosto de 2018, nove têm menos policiais do que o ideal. Essas unidades esclareceram menos de 35% dos inquéritos de roubo.

Jit é fruto de uma “política de segurança equivocada”.

Não faltou dinheiro nos últimos anos, o orçamento da Segurança Pública é de mais de R$ 10 bilhões afirma.

A Polícia Civil conta com pouco mais de 9.500 servidores cerca de 200 deles, cedidos a outros órgãos. O número ideal, estabelecido por lei, é de 23.126 policiais.

As delegacias da capital contam com um déficit de 342 servidores, somadas apenas as que estão com um número de agentes inferior ao previsto em decreto. Nas da Baixada, são menos 176 funcionários que o ideal. Na Grande Niterói, 161.

De acordo com o decreto que rege a distribuição de agentes, o Estado deveria contar com 5.520 nas delegacias distritais. Hoje, porém, são 4.070, equivalente a 73% do ideal. Somados Rio, Baixada e Grande Niterói, 3.392 policiais deveriam compor o efetivo. O total, porém, é de 2.760, equivalente a 81% do mínimo.

Gilberto Ribeiro: ‘O efetivo impacta diretamente na resolução dos crimes’

Ex-chefe de Polícia Civil e atual subchefe operacional da corporação, o delegado Gilberto Ribeiro é sincero ao falar sobre a atual situação da Polícia Civil do Rio. Com déficit de pessoal e estrutura precária, ele não esconde que o serviço entregue a população está distante do ideal. Para piorar, segundo ele, o período de intervenção federal na Segurança não rendeu frutos para a corporação.

Qual a avaliação do atendimento nas delegacias espalhadas pelo Estado?

A avaliação que ocorre é que o efetivo impacta diretamente na resolução, seja nas distritais seja nas especializadas. Hoje, a questão do efetivo é ruim em termos de agentes e muito ruim em termos de delegados.

Consegue dar um exemplo prático de como o déficit afeta o serviço?

Hoje, nós já temos algumas delegacias do interior em cidades com um pouco mais de movimento que “seguram” delegacias de outras cidades. O mesmo delegado acumula as duas. É a solução que está sendo implementada.

E na capital, qual a organização adotada?

Você tem que levar em conta a importância que se dá a determinados bairros. Por mais que isso seja não seja a ideal, você não pode deixar de dar uma atenção especial aos bairros que são turísticos. Como é que você vai querer que o turista venha se você não tem o mínimo de segurança para ele.

Existe alguma previsão de melhora imediata?

A gente tem concursos aprovados, mas com esse Regime de Recuperação Fiscal há o entendimento de que só se pode contratar até o limite do que existia na data da adesão. Isso significa dizer que, na data da adesão, a gente estava com um efetivo baixíssimo e que vamos continuar com um efetivo baixíssimo.

Concursos

Tem para delegado, mas são poucos (16 vagas). E tem para inspetor de polícia. Um concurso desses leva de um ano a um ano e pouco. E a expectativa nesse tempo é que muita gente se aposente

E a situação da estrutura?

No básico, precisamos dar segurança ao policial. Coletes, armamento adequado e viaturas. Estão para chegar umas 300 ainda esse ano. Se chegar, vai dar uma melhorada. Isso é o básico.

A intervenção beneficiou a Polícia Civil?

Para a Polícia Civil, a intervenção não trouxe nada. Mas, a gente percebe um esforço. Está para chegar as viaturas. Eles estão nos ajudando na questão do efetivo. Convocamos os papiloscopistas (97) e estamos formando 250 oficiais de cartório, que têm expectativa de posse na primeira quinzena de dezembro.

Fonte: Jornal Extra

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