Site de notícias The Intercept Brasil, deflagra presença de ex-vereador na Câmara do Rio.
Proibido pela Justiça de retornar ao Rio de Janeiro – onde foi condenado por formação de quadrilha – justamente por fazer ameaças aos seus desafetos, o ex-vereador Cristiano Girão Matias, acusado de chefiar uma milícia em Jacarepaguá, circulou sorrateiramente na semana passada pelos corredores da Câmara Municipal carioca. Ele foi fotografado pelo sistema de identificação e controle de visitantes da casa às 12h09m da última quarta-feira, 7, segundo matéria dos repórteres Sérgio Ramalho e Ruben Berta, publicada de madrugada pelo site de notícias The Intercept Brasil.
Registro mostra gabinete da Presidência da Câmara como destino de Girão
Cristiano Girão foi um dos 226 indiciados em 2008 pela CPI das Milícias, presidida na Assembleia Legislativa fluminense pelo deputado Marcelo Freixo (PSOL), que até hoje sofre ameaças e anda sob a proteção de seguranças. Na época, Marielle era assessora do deputado e participou ativamente dos trabalhos investigativos da comissão. Procurado pelos repórteres do The Intercept, Freixo disse saber que Cristiano, que estava preso, havia sido solto, mas demonstrou surpresa ao ser informado da sua presença no Rio, já que ele foi proibido de voltar à cidade.
Samantha acusou Cristiano Girão de ser o mandante do crime
Outro desafeto do miliciano morto na mesma noite
As suspeitas sobre Cristiano Girão ganham ainda mais peso diante da informação, também publicada na matéria de Ramalho e Berta, do assassinato, na mesma noite da execução de Marielle, de Marcelo Diotti da Mata, marido da ex-mulher do miliciado, a funkeira Samantha Miranda. O casal foi alvejado por um atirador dentro de um restaurante na Barra da Tijuca. Samantha conseguiu escapar e acusou Cristiano Girão de ser o mandante do crime.
Na mesma noite em que Marielle foi morta, outro personagem ligado a Girão foi assassinado. A ex-mulher do miliciano – a funkeira Samantha Miranda – e seu marido, Marcelo Diotti da Mata, foram alvejados por tiros de fuzil no estacionamento de um restaurante na Barra da Tijuca. Há nove meses, o casal já havia sofrido uma tentativa de homicídio na mesma região. Samantha, então, acusou o ex-vereador de ter contratado um homem para matá-los.
Marcelo da Mata desta vez não escapou. O empresário levou dois tiros e morreu no local. A mulher conseguiu fugir. Pela segunda vez em depoimento à Divisão de Homicídios, ela voltou a acusar o ex-marido miliciano. Sob intervenção federal, as investigações na DH seguem em sigilo.
Contactado por WhatsApp, o deputado Marcelo Freixo disse saber que o miliciano estava em liberdade, mas demonstrou surpresa com sua volta ao Rio. Da primeira vez em que foi solto, Girão foi impedido de retornar ao Estado por causa das ameaças que fazia a seus desafetos locais. O advogado Leandro de Andrade Meuser, que representa Girão, não foi localizado para falar sobre o benefício concedido a seu cliente e para dizer o que fazia o ex-vereador na noite de quarta-feira enquanto Marielle e Marcelo da Mata eram executados.
The Intercept Brasil teve acesso à imagem que mostra o rosto de Girão no momento em que ele entrou no prédio na última semana. Na recepção, o destino informado pelo visitante – condenado por formação de quadrilha – foi o gabinete da Presidência da Câmara. O ex-vereador, porém, ainda esteve no sétimo andar, onde ficam as salas do pessolista David Miranda e de Zico Bacana (PHS) e Chiquinho Brazão (MDB) – este último irmão do ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Domingos Brazão, preso pela Operação Quinto do Ouro, em março do ano passado.
A presença de Girão na Câmara é especialmente emblemática diante do assassinato de Marielle Franco. Em 2008, a vereadora morta brutalmente na quarta-feira trabalhou ativamente na CPI das Milícias, como assessora do deputado Marcelo Freixo. A Comissão indiciou 226 pessoas – entre elas Cristiano Girão. Freixo ainda se desloca com seguranças por causa daquele período. Enquanto a Casa perdia uma guerreira contra os paramilitares, o miliciano ressurgia das cinzas e voltava a circular nos corredores e gabinetes.
Matéria completa do The Intercept no link abaixo:
https://theintercept.com/2018/03/16/marielle-franco-cpi-ex-vereador-miliciano-camara-rio.