Myrinho chegou a ser socorrido mas não resistiu aos ferimentos.
Um sequestro cujo resgate era negociado em sigilo terminou com a morte de Myro Garcia, de 27 anos, filho do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, assassinado em 2004. Ele foi baleado ontem na Estrado do Rio Morto, em Vargem Pequena, na Zona Oeste. Segundo as primeiras informações passadas por policiais, Myrinho, como era conhecido, levou tiros no momento em que era feito o pagamento do resgate, que seria de R$ 100 mil.
A morte do refém foi confirmada por policiais do
31º BPM (Recreio dos Bandeirantes), que não deram mais detalhes sobre o crime. O sequestro teria ocorrido há dois dias. De acordo com PMs, o resgate foi pago. Primo da vítima, Artur Oliveira Marques, de 27 anos, foi encarregado de levar o dinheiro para a Estrada do Rio Morto. Depois de receberem a quantia exigida, bandidos mandaram Myrinho e Pedro correrem em direção a uma mata, e, em seguida, abriram fogo. O primo de Myrinho não foi atingido, segundo policiais.
Pai de Myrinho, que era jogador profissional de pôquer, Maninho foi assassinado em setembro de 2004, quando deixava a academia de ginástica Body Planet, na Freguesia, em Jacarepaguá. Ele estava acompanhado de Myrinho, que, na época, tinha 15 anos e também foi baleado. O contraventor tinha 42 anos e era presidente do conselho fiscal da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro.
Maninho era filho do bicheiro Waldemir Garcia, o Miro, presidente de honra do Salgueiro e integrante da cúpula do jogo de bicho no Rio e em outros estados brasileiros. Miro morreu 34 dias após o assassinato do filho, aos 77 anos. Ele estava quase cego e não resistiu a uma infecção pulmonar.
Maninho foi um dos dez bicheiros condenados, em 21 de maio de 1993, a seis anos de prisão pela então juíza Denise Frossard. Todos forma considerados culpados pelo crime de formação de quadrilha. Por causa da condenação, Maninho passou três anos e meio no Presídio Ary Franco, em Água Santa. Ele foi solto em outubro de 1996. Miro também foi condenado e cumpriu pena na Penitenciária Esmeraldino Bandeira, em Bangu, mas acabou sendo libertado em dezembro do mesmo ano.
O grupo de sequestradores usava um carro de Myrinho, um Toyota Corolla preto, que foi encontrado queimado em Vargem Grande. Pedro chegou a socorrer o primo, que foi levado para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, mas não resistiu aos ferimentos. A Divisão Antissequestro (DAS) e a Delegacia de de Homicídios (DH) da capital do estado investigam o caso. Pedro prestou depoimento ontem mesmo na DH.
A história da família é marcada por denúncias graves. O caso mais rumoroso aconteceu ainda antes da condenação por formação de quadrilha, em 27 de outubro de 1986. Irritado com olhares para sua mulher durante um jantar no restaurante Fiorentina, no Leme, Maninho perseguiu e baleou Carlos Gustavo Santos Pinto Moreira, conhecido como Grelha, que ficou paralítico ao ter a 12ª vértebra atingida. O contraventor seguiu Grelha, que deixou o local acompanhado do ator Tarcísio Meira Filho, o Tarcisinho, e de um outro amigo, José Augusto. Na altura do Túnel Novo, em Botafogo, foram feitos os disparos contra o veículo do grupo, onde estava o rapaz, que levou três tiros. O caso teve grande repercussão. Na época, Grelha tinha 22 anos e fazia faculdade de engenharia. Maninho foi inocentado após um de seus seguranças assumir a autoria dos disparos.
Mais recentemente, episódios de violência envolveram o Salgueiro, escola de samba que sempre esteve sob forte influência da família. A história da agremiação é marcada por assassinatos, entre eles, o do vice-presidente Guaracy Paes Falcão, em 2007. Acusado pelo crime, o pecuarista Rogério Mesquita também foi morto dois anos depois, em janeiro de 2009 em Ipanema. A família Garcia é proprietária de haras e fazendas com cavalos de raça e cabeças de gado em Guapimirim.
Fonte: Jornal o Globo