Segundo funcionários do gabinete, todos eram obrigados a entregar parte dos vencimentos, entre R$ 1.470 e R$ 2.940, todos os meses.
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) está investigando a deputada estadual Bolsonarista Índia Armelau (PL) por suspeita de praticar o crime de rachadinha em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A rachadinha ocorre quando servidores públicos se veem obrigados a repassar parte dos seus salários para os parlamentares, e no caso de Índia Armelau, os assessores da deputada eram forçados a devolver entre R$ 1.470 e R$ 2.940 do seu auxílio alimentação.
De acordo com relatos de ex-funcionários e funcionários do gabinete da deputada, o repasse de dinheiro acontecia, em grande parte, em espécie e muitas vezes dentro do próprio gabinete de Armelau, mas também em outros locais, como na academia da parlamentar e até na sua residência.
O ex-chefe de gabinete, Leandro Araújo, detalhou ao RJ2 que presenciou o repasse de dinheiro várias vezes e até foi informado por Armelau que os valores entregues aos assessores serviam para “pagar as contas” da parlamentar.
O ex-funcionário Leandro Araújo foi quem revelou detalhes sobre a prática, dizendo que os repasses eram feitos por meio de um aplicativo de mensagens, onde os pagamentos eram chamados de “documento” em mensagens, como uma forma de disfarçar o ato ilegal. A cobrança era feita constantemente, com os assessores sendo instruídos a entregar o dinheiro próximo ao dia 20 de cada mês, data do pagamento do auxílio alimentação.
Ainda de acordo com as denúncias, o dinheiro era repassado em espécie, muitas vezes em uma sala no gabinete da parlamentar, para um assessor de confiança da deputada. Contudo, em algumas oportunidades, a entrega de parte dos salários dos servidores era feita na academia de Armelau ou na casa dela.
“Depois dos primeiros meses eu comecei ver o movimento das pessoas que entravam e iam para a sala do lado para entregar para esse rapaz um pacote. (…) Teve dias que eu entrei para entregar e eu vi um dinheiro”.
Além disso, foi relatado que um dos funcionários contratado inicialmente como assessor parlamentar, mas que depois passou a trabalhar como piscineiro na residência da deputada, também fez parte do esquema. O funcionário contou que realizava serviços particulares para Armelau enquanto sua função oficial era praticamente inexistente, e todo seu salário era usado para pagar os serviços prestados à deputada.
Outro ponto que gerou questionamentos foi o aumento expressivo no patrimônio de Índia Armelau. Em apenas dois anos, seu patrimônio declarado à Justiça Eleitoral cresceu mais de 20 vezes, saltando de R$ 37,5 mil em 2022 para mais de R$ 700 mil em 2024. Esse aumento foi atribuído a uma série de bens adquiridos, incluindo meia propriedade de uma casa, meio apartamento e R$ 52 mil em dinheiro vivo.
O que diz a deputada
Em nota, a deputada Índia Armelau negou as acusações.
“Nesses tempos em que são recorrentes os casos de manipulação de áudios e vídeos, até por inteligência artificial, assusta a que ponto chega a maldade humana. Eu vou tomar as medidas legais cabíveis sobre essas mentiras. O mandato é íntegro, não será manchado por pessoas e pseudo ex-funcionários vingativos, sem aptidão técnica, que mentem e difamam para tentar destruir a minha reputação e demais assessores do gabinete.
Tentaram me difamar na época da última campanha eleitoral e não conseguiram porque a Receita Federal possui todas as informações sobre o meu patrimônio, construído legalmente e, em sua maior parte, fruto de um endividamento para financiamento imobiliário.
Estou sofrendo ataques de pessoas que frequentavam a minha casa há mais de um ano, ocupavam cargos de confiança e não aceitaram as demissões por desempenho insuficiente e quebra de confiança, inclusive assédio contra membros da minha equipe.
As medidas legais cabíveis sobre essas mentiras serão tomadas. Tenho tranquilidade para dizer que o meu mandato é íntegro, e que eu não me submeto a mau-caratismo e chantagens. Todas as calúnias e difamação não vão prevalecer”.