O terrorista venezuelano está preso na França desde 1994.
Quando pensamos em terroristas, os nomes que normalmente nos vêm à mente são o de Osama Bin Laden ou os de integrantes de grupos como Hamas, Hezbollah e Estado Islâmico, por exemplo. No entanto, muita gente se esquece de um nome lendário, o do venezuelano Ilich Ramírez Sánchez — mais conhecido como “Carlos, o Chacal”.
Bin Laden Sayed Nasrolá Carlos, o Chacal
Caso você não faça ideia de quem foi esse cara, ele se tornou o homem mais procurado do planeta entre as décadas de 70 e 80 e arquitetou uma das ações terroristas mais audaciosas já realizadas. Em 1975, o Chacal sequestrou nada menos do que 11 ministros de países-membros da OPEP, e três deles perderam suas vidas.
Quase 43 anos depois de um atentado em Paris que deixou dois mortos e dezenas de feridos, o venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, apelidado Carlos, será julgado a partir de segunda-feira no tribunal especial da capital francesa.
No momento em que a França enfrenta desde 2015 uma série de atentados islamitas, a justiça se dispõe a voltar no tempo até os “anos de chumbo” das décadas de 1970 e 1980, quando a Europa sofria com ações terroristas anti-imperialismo em nome da causa palestina.
‘O Chacal’, de 67 anos, figura do terrorismo internacional dessa época, será julgado durante três semanas em Paris, por um tribunal especialmente formado pelos magistrados, pelo atentado mais antigo da história da justiça francesa. Essa será o último que ele vai comparecer na França.
Na tarde de 15 de setembro de 1974, duas pessoas morreram e 34 ficaram feridas pela explosão de uma granada lançada no interior da loja Drugstore Publicis, em pleno centro de Paris.
Carlos, preso na França desde sua detenção no Sudão pela polícia francesa em 1994, já foi condenado duas vezes à prisão perpétua pelo assassinato de três homens, entre eles dois policiais em 1975 em Paris, e por quatro atentados com explosivos que deixaram 11 mortos e 150 feridos em 1982 e 1983, em Paris, Marselha e em dois trens.
Filho de opostos perfeitos
O pai de “Carlos”, Jose Altagracia Ramirez Navas, foi um advogado brilhante, mas com forte inclinação marxista, enquanto sua mãe, Elba Sanchez, era uma devota cristã. Quando ele nasceu, em 1949, o pai saiu com a melhor — e batizou o filho de Ilich, em homenagem a Lenin (Vladimir Ilich Ulyanov). Aliás, seus irmãos também receberam nomes na mesma linha — Vladimir e Lenin —, mas Ilich foi o único que se tornou um comunista radical.
Início de carreira
Como você pode imaginar, o venezuelano cresceu em um lar desequilibrado e, na adolescência, treinou com grupos revolucionários adeptos ao comunismo. Aos 18 anos, a mãe de Ilich, divorciada de seu pai há muitos anos, enviou os filhos para Londres. Só que Jose ainda tinha muita influência sobre os jovens — e mexeu todos os pauzinhos possíveis para que os três fossem aceitos pela Universidade Patrice Lumumba, em Moscou.
Surpreendentemente, apesar de ser um comunista ferrenho, Ilich não se adaptou muito bem à estrita vida acadêmica soviética — e acabou sendo expulso da universidade depois de se envolver em protestos com radicais palestinos. Foram eles, aliás, que “adotaram” o jovem venezuelano e deram a ele o codinome Carlos. O venezuelano, por sua vez, tendo se encontrado como revolucionário, se uniu à Frente Popular para a Libertação da Palestina.
Primeiro atentado
Ilich foi enviado a Londres e agiu alguns anos em segredo enquanto seus companheiros palestinos conduziam ataques terroristas mundo afora — incluindo o abominável ataque aos atletas israelenses durante as Olimpíadas de Munique, em 1972. Após a retaliação de Israel contra o ocorrido, que teve fim com a “caçada” e a morte dos envolvidos, os terroristas convocaram Carlos para a sua primeira ação: assassinar um figurão judeu como vingança.
O alvo escolhido foi o proeminente empresário — e ativo membro da comunidade judaica de Londres — Joseph Sieff, e o ataque a ele foi de uma simplicidade inacreditável. O venezuelano apenas bateu à porta do milionário, apontou sua arma ao mordomo e ordenou que ele fosse levado até o judeu. Ilich atirou no rosto de Sieff e fugiu para Paris e, por sorte, o londrino milagrosamente sobreviveu ao atentado.
Enriquecendo o currículo
Uma vez em Paris, Carlos se fez passar por um estudante estrangeiro e aproveitou o tempo para conduzir uma série de atentados a bomba e tentativas de assassinato na Cidade Luz. Na época, a polícia francesa nem desconfiava que o venezuelano estava envolvido nas ações, mesmo depois de ser levada até ele por um comparsa libanês chamado Michel Moukharbal.
Esse cara sim estava sendo investigado, e as autoridades francesas pensaram que Ilich poderia dar pistas de quem eram os colaboradores do libanês. Quando chegaram a seu apartamento, Carlos recebeu todos com sorrisos e bebidas — mas aproveitou um momento de descuido para usar uma pistola automática. No ataque, o venezuelano matou Moukharbal, dois policiais e feriu um terceiro.
Depois de fugir para Londres, Ilich foi rastreado e seu esconderijo — um pequeno apartamento na capital inglesa —, descoberto. No local, os policiais britânicos encontraram uma cópia do popular livro “O Dia do Chacal”, de Frederick Forsyth, e foi daí que ele ganhou o infame complemento para o seu apelido.
O grande ataque
Em 1975, a OPEP — Organização dos Países Exportadores de Petróleo — tinha uma reunião marcada em Viena, na Áustria, e o Chacal aproveitou a oportunidade para liderar um grupo de seis pessoas para perpetrar seu mais famoso ataque. O bando invadiu o local da conferência pela porta da frente e, de cara, matou um policial, um cidadão iraquiano e um líbio.
Depois, os terroristas mantiveram todos os presentes como reféns, incluindo 11 ministros que estavam na reunião, e divulgaram suas exigências. Uma delas era a de que o Governo da Áustria lesse mensagens de apoio aos palestinos a cada duas horas para evitar que os criminosos matassem um refém a cada 15 minutos. Além disso, o grupo exigiu que um avião fosse preparado para a sua fuga.
Após liberar alguns austríacos, o bando embarcou com os ministros com destino ao norte da África, e, depois de tensas negociações, todos foram libertados mediante o pagamento de um resgate de US$ 50 milhões. Bem, a partir desse atentado, o Chacal ganhou fama internacional, se tornou o homem mais procurado do mundo e se envolveu em inúmeros ataques terroristas.
Terrorista infame
Além do audacioso atentado na Áustria, Carlos, o Chacal, se envolveu em inúmeras ações terroristas entre as décadas de 70 e 90. Segundo diversas fontes, Ilich tinha laços tanto com Saddam Hussein como com Moammar Gadhafi, que financiaram alguns de seus “trabalhos”, e assumiu ter matado mais de 80 pessoas.
No início da década de 90, o venezuelano se converteu ao islamismo e, em 1994, foi capturado por agentes franceses no Sudão. Depois de muitas idas e vindas aos tribunais, Ilich Ramírez Sánchez — ou Carlos, o Chacal — foi condenado à prisão perpétua na França, mas ele ainda continua sendo julgado pelos crimes pelos quais foi acusado.