No réveillon de Copacabana, cariocas e turistas pedem segurança, emprego e fim da corrupção.
Virada do ano foi marcada pela maior queima de fogos da história da cidade.
O verbo em francês onde tudo começou é réveiller. Deriva dele o réveillon. Tradução: acordar. Também pode ser reanimar ou, simbolicamente — etimologia da palavra mais à parte que à risca —, reagir.
2018 chegou ontem com esse sentimento. Para o Rio de Janeiro, e também para todo o país. Uma festa de ano-novo que fez o céu brilhar com a mais longa queima de fogos da cidade, 17 minutos, e a areia lotar com a presença de 3 milhões de pessoas (estimadas pela prefeitura) sob uma super lua em Copacabana.
Dois mil e dezessete foi um ano por extenso. Política de mãos dadas com a corrupção, economia em crise, violência em cada esquina. Um contexto difícil que abre as portas para a mudança. Um processo de mudança firme e consciente que tem em seu caminho uma arma poderosa: o voto dos cidadãos.

Inspiradas na música “Aquele abraço”, de Gilberto Gil, amigos, familiares e também pessoas que nunca se viram, e que dificilmente voltarão a se encontrar, trocaram desejos de vida melhor em 2018 logo após os fogos começarem. Foi um show com 25 toneladas de explosivos, disparadas de 11 balsas e um toque high-tech, com drones sobrevoando os fogos — acionados por GPS — e transmitindo novos ângulos da grande festa para o todo o mundo.
Se por um lado os drones funcionaram, captando também imagens do Cristo Redentor iluminado com as cores da bandeira estadual — azul e branco —, por outro, foram atrapalhados pela fumaça dos explosivos que encobriu parte do céu. Quem foi à praia também relatou ter sentido um forte cheiro de pólvora.
É verdade que muitos chegam ao fim do ano se sentindo iguais ao afogado da crônica de Rubem Braga, exaustos como se tivessem se debatido contra ondas de ressaca — especialmente os servidores públicos do estado, que passaram mais um ano com salários atrasados e parcelados.
Durante a virada na orla, muitas pessoas relataram furtos na areia, apesar da presença ostensiva de policiais no calçadão e nas ruas de acesso. A volta para a casa não teve grandes transtornos e, até 1h30m, o movimento nas estações de metrô era tranquilo.
Na praia, uma multidão de ambulantes vendia todo tipo de apetrechos e adornos. Um item em especial fez a cabeça das mulheres: uma coroa de flores branca.
Passada a festa, fica a dúvida: como será 2018 para o Rio e o Brasil? Cientista político e professor da UFRJ, Charles Pessanha lembra que, no ano que vem, a Constituição Brasileira completa 30 anos. E que o ano eleitoral começa mais cedo: no dia 24 de janeiro, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será julgado em segunda instância.
— Três décadas depois, ainda não temos um controle real sobre o judiciário, o executivo e o legislativo. Vamos entrar em um ano eleitoral decisivo com essa fratura na sociedade — afirma o professor.
Na área de segurança pública, uma das maiores fragilidades do estado no ano passado, a socióloga Julita Lemgruber torce por renovação.
— Precisamos de uma política de segurança que consiga articular o trabalho das polícias civil e militar, mas que mantenha o respeito aos cidadãos em primeiro lugar.
Passou 2017 — e passou com tudo. Deixará saudade? Cedo para dizer. Agora é tempo de olhar para frente. Pois como escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade, “para ganhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo’’. Eternizado em bronze no Posto 6, onde morava, Drummond sabia que “é dentro de você que o ano novo cochila e espera desde sempre’’. Seja bem-vindo, 2018.
Fonte: Jornal O Globo
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