Depois de dizer que a Casa está “com poder muito grande”, ministro ligou para o presidente da Câmara, Arthur Lira, para negar críticas à atual composição do Legislativo.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicou, na tarde desta segunda-feira, as declarações que deu sobre a Câmara dos Deputados, quando afirmou que nunca viu a Casa “com tantos poderes”. Segundo Haddad, a fala não se referia à atual legislatura.
Não vamos fazer disso um cavalo de batalha. A primeira providência que eu tomei foi ligar para o presidente Arthur Lira e esclarecer o contexto das minhas declarações. As minhas declarações não dizem respeito à atual legislatura. Eu sou só elogios para a Câmara, para o Senado e para o Judiciário. Nós não teríamos chegado até aqui sem a concordância dos poderes da República declarou.
Ele explica que estava fazendo uma reflexão sobre “o fim” do chamado presidencialismo de coalizão. Essa forma de viabilizar a governabilidade foi presente nos 2 primeiros governos de Lula e não foi substituída “por uma relação institucional mais estável”, avaliou o ministro.
Haddad ligou e conversou com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para esclarecer sua fala. Ele avaliou que importante medidas econômicas tão teriam sido aprovadas ou encaminhadas no Congresso se não fosse o apoio do Legislativo.
Na lista estão a Reforma Tributária, o marco fiscal e as medidas que foram tomadas no começo do ano para “fazer o ajuste fiscal”, diz.
Até falei com o presidente Lira. Fiz questão de ligar para ele para que isso fosse esclarecido. Antes de mais nada, fiz questão de me comunicar com ele. Foi excelente (a conversa). Ele falou: ‘Haddad, talvez caiba um esclarecimento, porque as pessoas estão achando que foi crítica pessoal. E à luz de toda a relação que foi estabelecida entre nós, eu gostaria que
O Ministério da Fazenda negou que o cancelamento da reunião – marcada para hoje entre Arthur Lira e líderes da Câmara – tivesse relação com a declaração de Haddad.
‘Poder muito grande’
Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, do programa Reconversa, realizada na última sexta-feira, mas que foi ao ar nesta segunda, Haddad disse que a Câmara está com “poder muito grande”:
Haddad reconheceu que há atritos entre o Executivo e a Câmara dos Deputados. Ele elogiou a articulação como as lideranças da Casa, mas diz que a negociação não está sendo ‘fácil’.
O fato é que estamos conseguindo encontrar caminho. Não está fácil, não pense que está fácil. A Câmara está com um poder muito grande e ela não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo. Mas, de fato, ela está com um poder que eu nunca vi na minha vida — havia dito Haddad, no programa.
Já na tarde desta segunda-feira, ele decidiu esclarecer sua fala e lembrou que as vitórias do primeiro semestre são “divididas” com o Congresso, Câmara, Senado e Judiciário.
Longe de mim querer criticar a atual legislatura. Era uma reflexão justamente para que a gente estabelecesse regras mais estáveis e duráveis, pensando no futuro da relação entre Executivo, Senado e Câmara Federal. Eu quero crer que não vai ser uma questão como essa que vai colocar em risco uma relação construída durante muitos meses e que rendeu tantos frutos para o país — disse.
Rotativo do cartão de crédito
O ministro da Fazenda comentou também a discussão da semana passada sobre o fim do rotativo no cartão de crédito. No Senado, na quinta-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, adiantou que as negociações com instituições financeiras estão se encaminhando para o fim do rotativo, atendendo uma demanda do Congresso.
Em contrapartida, segundo Campos Neto, o consumidor inadimplência iria quitar o débito de forma parcelada, com juro de 9% ao mês. O chefe do BC também falou da possibilidade de militar o parcelamento sem juros.
Nesta segunda, Haddad mostrou preocupação com o impacto no bolso do consumidor, ao mexer no parcelamento sem juros.
Nós estabelecemos um prazo de 90 dias para resolver o problema do rotativo, que afeta muito a vida das pessoas. E o parcelado sem juros responde hoje por mais de 70% das compras feitas no comércio. Então nós temos que ter muito cuidado para não afetar as compras no comércio e não gerar um outro problema para resolver o primeiro. Então, o nosso problema, o nosso foco, é o rotativo, que não pode continuar como está disse.
Sobre a articulação do governo, Haddad disse que há um prazo de 90 dias para o amadurecimento da proposta.
Essa mesa de negociação tem prazo para terminar. Nós estamos levando ao Congresso Nacional, sobretudo à Câmara que está debruçada sobre essa matéria, um compromisso feito pelo setor privado, pelos bancos privados e também públicos afirmou.
Sobre a Medida Provisória que estabeleceu a tributação de empresas controladas no exterior (“offshores”), Haddad diz que o governo pode enviar um projeto de lei, caso a MP não seja votada.