Moradores falam em centenas de traficantes deslocados para a região em estratégia para confrontar ação dos militares.
A confirmação na tarde desta quarta-feira da morte do soldado Marcus Vinícius Viana Ribeiro, de 22 anos, lotado no Batalhão de Infantaria Motorizado, o terceiro desde o início da ocupação dos complexos do Alemão, Penha e Maré, revela o grau de sofisticação que os militares têm enfrentado na difícil tarefa de retirar de circulação criminosos armados que atuam com táticas de guerrilha em comunidades construídas em montanhas, de difícil acesso e divididas por becos e ruelas. Um terreno minado que os generais não encontraram nem mesmo no Haiti, país para onde foram enviadas tropas brasileiras em 2004, na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah).
PUBLICIDADE
Especialmente nos complexos do Alemão e Penha, os traficantes parecem bem mais organizados que em outras favelas.Moradores da Vila Cruzeiro e da Chatuba, no Complexo da Penha. Antes da ocupação dos militares do Exército na segunda-feira, criminosos de outras favelas controladas pelo Comando Vermelho foram chamados para reforçar o poderio bélico dos parceiros para enfrentar o Exército. Numa clara demostração de que tinham informações privilegiadas dos planos do Gabinete de Intervenção Federal de ocupar aquelas favelas.
A confirmação dessa estratégia pode ser atestada com as prisões que estão sendo realizadas após a tomada das tropas dos complexos do Alemão e Penha. Ainda nesta terça, policiais civis da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) prenderam no Hospital Getúlio Vargas, Eber do Nascimento Cândido, conhecido como Ebinho. Segundo os policiais, ele é dono do tráfico na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. Ele foi baleado na Chatuba, no Complexo da Penha, que fica a cerca de 10 km de distância da região que comanda. Um dia antes, outro importante chefe do tráfico também foi preso: o traficante Eduardo José dos Santos, conhecido como Sonic. Ele foi detido na Avenida Brasil, na altura de Bonsucesso, por policiais civis da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA).
Moradores falam em centenas de traficantes deslocados para os complexos da Penha e do Alemão de outras favelas do Comando Vermelho. Segundo as mesmas fontes, isso estaria dificultando até mesmo a identificação dos cinco mortos nos confrontos, todos suspeitos de envolvimento com o tráfico.
Enfrentamento é complexo:
Os oficiais que comandam as tropas que tomaram favelas e morros no Rio na última segunda-feira sabem há muito tempo que parte dos criminosos que agora empunham fuzis automáticos e defendem facções do crime, tiveram passagem pelas Forças Armadas. Aprenderam técnicas militares e a usar com precisão armas de guerra.
De acordo com último balanço divulgado pelo Comando Militar do Leste, 70 suspeitos foram presos até agora. Ao todo, 554 quilos de maconha foram apreendidos até o momento na ação. Quatorze armas, entre elas cinco fuzis, também foram recuperadas, além de sete carregadores, 1.045 munições e um colete balístico. Uma moto foi apreendida.
Fonte: Jornal O Globo