Das 30 amostras testadas, 28 estavam adulteradas.
Em lugar de água mineral captada direto da fonte, pura e sem adição de produtos químicos, o carioca que tenta matar a sede recorrendo aos ambulantes que vendem garrafinhas de plástico em sinais e esquinas do Rio está comprando água de origem desconhecida, muitas vezes contaminada por bactérias prejudiciais à saúde. O comércio de água adulterada, crime contra a saúde pública (de dez a 15 anos de prisão) previsto no Código Penal.
Foi o que revelaram análises em laboratório da água em garrafas recolhidas por toda a cidade identificada nos rótulos como mineral ou processada com sais. Das 30 amostras testadas, 28 estavam adulteradas. Dessas, a metade tinha contaminação, sendo que duas com coliformes fecais, que podem provocar diarreia e outras doenças. O resultado mostrou que as garrafas foram manipuladas sem higiene.
A fraude a conta-gotas, de garrafinha em garrafinha, movimenta em todo o país R$ 46 milhões por ano, o equivalente a 1% do faturamento anual líquido do setor (R$ 4,6 bilhões em 2021), segundo estimativas da Associação Brasileira da Indústria das Águas Minerais (Abinam). Como o Estado do Rio representa 16,72% do mercado nacional de consumo de água mineral, as adulterações podem chegar por aqui a R$ 7,7 milhões por ano. No mercado ilegal, já existe a suspeita, pela polícia, de que as fraudes engordem os lucros da milícia e do tráfico.
O que vocês examinaram não foi água mineral. Houve adulteração. A legislação não tolera qualquer nível de coliformes. E as garrafas são fabricadas na hora, no momento do engarrafamento. São esterilizadas explica o presidente da Abinam, Carlos Alberto Lancia, em nome dos fabricantes.
‘Digitais’ de cada uma
Os testes foram realizados pelo laboratório Tecma, certificado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e dirigido pelo engenheiro químico e professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Meio Ambiente da Faculdade de Engenharia da Uerj Ghandi Giordano. Além de analisar se os produtos estavam contaminados por bactérias, o especialista mediu dois indicadores (pH e condutividade) e os comparou com os registrados nas embalagens.
Os marcadores servem como “digitais” da origem dos produtos, porque não mudam. O pH avalia o nível de acidez da água, enquanto a condutividade é medida para determinar a facilidade com que a eletricidade circula pelo líquido.
Como os índices são diferentes, é possível garantir que as adulterações ocorreram depois que saíram da fábrica. Esperava encontrar problemas, mas me surpreendi com o tamanho da fraude explicou o engenheiro químico.