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Secretário de Saúde do Rio quer multa para quem não cumprir o isolamento

‘As pessoas respondem mais quando pesa no bolso’, diz secretário de Saúde sobre multa.

Médico anestesista e tenente-coronel da PM, Edmar Santos, hoje à frente da Secretaria de Saúde do Estado do Rio, estuda o novo coronavírus desde janeiro, quando surgiu na China. Até esta quarta-feira, foram registrados 1.938 casos em território fluminense, sendo que 106 já resultaram em mortes. Ele ressalta que o Brasil não está acostumado com guerras, mas terá que se adaptar: “Vai ser difícil, vamos aprender muito. Ninguém sai igual. Os europeus já passaram por momentos em que todos perderam algum ente querido em combates”.

O chefe da pasta falou abertamente com  sobre a pandemia no Rio de Janeiro.

Os testes para diagnóstico da Covid-19 comprados da China já chegaram ao Rio?

Depois da movimentação em todo o mundo pela aquisição dos testes, a gente teve vários contratos interrompidos. As entregas não estão acontecendo. Tinha previsto para chegar até amanhã (ontem) um carregamento de 700 mil testes, de um total de 1,2 milhão encomendados. Mas, na verdade, só chegaram 50 mil, e a situação não está clara para nós. Não tive do fornecedor nenhuma informação de confisco. Ainda não sabemos quando vamos conseguir tudo, pode ser na semana que vem ou na outra.

Quando os 50 mil que já chegaram começarão a ser aplicados?

Na próxima semana. Vamos fazer testes por amostragem em diferentes regiões, o que nos permitirá estimar o percentual da população exposta ao vírus. Sabemos que, se os resultados forem positivos para 60% das pessoas testadas, não teremos o risco de uma supercurva ascendente no quadro de estatísticas. Assim, poderemos ser mais ousados no processo de saída do isolamento social, mesmo que continuemos a ter internações. Mas os idosos terão de continuar em casa, caso contrário não há secretário de Saúde que resolva. Não está escrito em lugar algum do mundo como e quando devemos sair do isolamento. Aqui, isso é discutido entre nossos pesquisadores.

Existe a chance de um confisco de respiradores?

Isso não é uma estratégia necessária. Temos opções no meio do caminho, estamos buscando. Há possibilidade de utilização de aparelhos de anestesia para fazer ventilação mecânica. O setor privado tem desempenhado um papel importante, até mesmo de forma voluntária. O diálogo franco tem sido suficiente, fomos atendidos em tudo que pedimos, não cogitamos ações intempestivas ou truculentas, como invadir hospitais. A UFRJ está fazendo um modelo a partir de impressoras 3D, acho uma iniciativa muito válida. Analisamos também um equipamento de uso na medicina veterinária. Se ele ventila um porco, ventila um homem adulto. Aí vem a pergunta: mas faz tudo que um aparelho padrão faz? Não, mas pode ser adotado nos casos mais simples, o que já é uma solução.

A quantidade de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual, para médicos e enfermeiros), enviada pelo Ministério da Saúde é suficiente para o Rio?

Do número que o próprio ministério anunciou, não veio nem a metade. A quantidade de alguns itens ficou bem abaixo da esperada. Luvas, por exemplo. Havia uma promessa de mais de 10 milhões de pares, mandaram 978 mil. Avental, prometeram 63 mil, mas repassaram pouco mais de 4 mil. Máscaras, de 1,3 milhão, vieram 950 mil. Não tem sinal de que será um abastecimento regular.

Faltam equipamentos e insumos no mercado mundial. O que fazer?

Isso reforça a necessidade do isolamento social. Neste momento, não dá para discutir se é bom ou não. Se nós não segurarmos a proliferação do vírus, se ele percorreu o mundo com a velocidade que percorreu, como é que vou deixar os jovens do lado de fora, colocando só os idosos de quarentena? A Inglaterra começou com essa história e voltou atrás correndo. Se você não para um pouco, o resultado vem logo.

O estado tem um plano B, no caso de haver muitos profissionais de saúde infectados pela Covid-19?

Temos um suprimento interno de EPIs graças a uma mudança na produção das indústrias da Região Serrana. Uma das estratégias é contar com o voluntariado, temos mais de 25 mil inscritos. O país nunca passou por uma guerra. Aqui é diferente da França, da Alemanha. Queremos saber quem está disposto a lutar. Vamos tentar lançar uma segunda onda de voluntariado.

Guerra?

Vai ser difícil, vamos aprender muito. Ninguém sai igual. Os europeus já passaram por momentos em que todos perderam algum ente querido em combates. Todos passaram fome de verdade, indústrias foram destruídas. Em algum momento você se reconstrói no pós-guerra, você se reinventa. Esse vírus não discrimina classe social. O presidente do Santander morreu no melhor hospital de Portugal. A pandemia nos dará um outro olhar.

Alguns países se preparam para uma segunda onda de casos da Covid-19…

Temos que aprender com essas experiências. Japão, por exemplo, saiu e voltou (a adotar medidas de isolamento social). O que devemos anunciar num primeiro momento é uma saída já pensando na volta. Aí, vamos definir quais serão os gatilhos para que a curva não suba muito, para que a gente segure de novo a situação. Vamos acompanhar como isso acontecerá na China e no Japão.

Em 2020 ainda haverá essa intermitência?

Essa é a pergunta de um milhão de dólares. O que eu sei é que trabalhamos com um panorama de ter uma saída segura, se Deus quiser, de setembro para frente. Ter uma vida normal no nosso país. Se isso será possível, ainda não sabemos. É um vírus novo, e nenhuma verdade científica sobre ele é absoluta. Estamos aprendendo. Podemos errar no processo, o que é absolutamente natural, e, se isso ocorrer, a gente corrige o rumo e segue em frente.

Temos a chance de um lockdown?

Não vejo como acentuar as medidas, a menos que imprudências causem um aumento inesperado da curva. Temos que ter, sim, um grau maior de cobrança. O limite da boa vontade já passou. Se viesse da Assembleia Legislativa uma lei que permitisse a aplicação de multas, seria bem-vinda. As pessoas respondem mais quando pesa no bolso. O uso obrigatório do cinto de segurança e a Lei Seca só pegaram porque têm multas.

O decreto que o estado baixou na terça-feira afrouxou medidas restritivas em cidades que não registraram casos.

Não fizemos isso antes porque tínhamos a preocupação de que uma onda de disseminação da capital avançasse para o interior do estado muito rapidamente. Hoje temos uma redução de 73% nos modais de transporte. Não é uma liberação total. Na hora que tiver um caso positivo, a cidade retoma o isolamento. É um decreto que permite aos prefeitos abrir o comércio com algumas regras, e alguns já manifestaram que não o farão. Mas ninguém segura esse tipo de situação por muito tempo. De qualquer forma, o isolamento vem dando certo. Sem ele, teríamos mais mortes, teríamos perdido o controle no programa para criação de leitos. Hoje, fico refletindo: qual vai ser o peso na consciência de cada um e quanto vai custar aquela corridinha no calçadão? Cada corridinha daquela representa centenas de mortes que vão acontecer. Depois, essas pessoas que não levaram o isolamento social tão a sério vão refletir.

Qual o motivo de uma parte maior da população ter saído de casa no último fim de semana?

A sociedade é muito imediatista. Se tivesse milhares de leões do lado de fora, ninguém sairia. Mas, como o vírus é invisível, as pessoas acham que a primeira situação é pior. Muitas não têm uma noção clara do perigo.

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