Dados que constam em processo, que tramita na 38ª Vara Criminal do Rio, revelam que bandidos chegavam a pagar R$ 1.200 por plantão para alguns PMs.
Uma investigação da Polícia Civil, deflagrada para desestabilizar o tráfico de drogas nas Favelas Nova Holanda e Parque União, na Maré, e em comunidades dos Complexos do Jacaré e de Manguinhos, esbarrou num esquema de corrupção envolvendo maus policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Arará/Mandela, na Zona Norte. Dados que constam em processo, que tramita na 38ª Vara Criminal do Rio, revelam que bandidos chegavam a pagar R$ 1.200 por plantão para alguns PMs.
Segundo a investigação, o bando composto por pelo menos 27 pessoas, pagou propinas a alguns policiais, por um período de pelo menos seis meses, tempo em que a quadrilha teve suas ligações telefônicas monitoradas pela polícia. Escutas, feitas com autorização judicial pela 21ª DP (Bonsucesso), revelaram que bandidos do Parque Arará e Mandela recorriam ao pagamento de propina para não serem incomodados por quem devia coibir o tráfico.
A estimativa da polícia é de que, semanalmente, o tráfico movimente um total de R$ 500 mil com a venda de drogas no Arará e na Mandela.
Um dos diálogos gravados pela polícia, que faz referência ao pagamento de propina, ocorreu no dia 29 de setembro de 2015. Na conversa, o traficante Thailan de Jesus Soares, que está atualmente foragido, diz para Diego de Souza Alves, o Miguelo, apontado na investigação como um dos gerentes da distribuição da drogas no Arará, que um PM encarregado de supervisionar o policiamento poderia ser acionado para tirar os PMs da UPP das ruas da favela (veja abaixo a transcrição de parte do diálogo).
Nenhum que receberia propina chegou a ser identificado. O inquérito foi remetido à Justiça com a identificação de 27 traficantes.
Bando acobertava Fat Family
De acordo com denúncia feita pelo Ministério Público, o bando que age nas comunidades da Nova Holanda, Parque União, Arará, Mandala e Manguinhos faz parte da maior facção criminosa do Rio. Entre os traficantes do segundo escalão da quadrilha, que ainda continuam em liberdade, estão Rodrigo da Silva Caetano, o motoboy e André Luiz dos Santos Cabral, o Lacraia.
O primeiro está com a prisão decretada por crimes de tráfico e de homicídio. O Disque-Denúncia (2253-1177) oferece recompensa de mil reais por informações que levem a sua prisão. Motoboy é acusado de comandar o comércio de drogas na Nova Holanda, onde, em junho, a polícia encontrou uma casa que servia de esconderijo para outro bandido da mesma facção criminosa: Nicolas Labre Pereira de Jesus, o Fat Family, resgatado do Hospital Souza Aguiar, por homens armados, naquele mês.
Já Lacraia é acusado de ser o responsável pelo comando do comércio de drogas no Parque Arará. Em nome do bandido, existe um mandado de prisão por crime de tráfico de drogas. A recompensa pela prisão dele também é de mil reais.
A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) informou que toda denúncia de desvio de conduta envolvendo policiais é apurada com total rigor e que casos como esses para a corporação são exceções à regra.