Após a privatização de uma rede de gasodutos a Petrobras registou o maior resultado trimestral da companhia.
Ao divulgar o resultado, a Petrobras informou que ele se deve “principalmente” à conclusão da venda, em junho, da Transportadora Associada de Gás (TAG), que atua no transporte e na armazenagem de gás natural.
A operação faz parte do processo de privatização de “braços” da Petrobras, prometido pelo comando da companhia e pela equipe econômica do governo Jair Bolsonaro.
O governo e a Petrobras têm se empenhado para promover a venda de outros ativos da companhia e concentrar esforços na área de exploração e produção de petróleo. O plano é vender para a iniciativa privada ativos em áreas, como o refino e o transporte e distribuição de gás.
Agora, a dúvida é qual será a velocidade – e as condições – em que esses ativos serão privatizados. E a decisão de vendas para a iniciativa privada, claro, continua a dividir opiniões: se o mercado aprova a iniciativa, representantes dos funcionários são contrários ao plano.
Fila de privatização
O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a defender a privatização de ativos da Petrobras em evento no Rio, em julho.
“O petróleo está no fundo do mar, pode ser que daqui a 20 ou 30 anos o carro seja elétrico e o petróleo fique sem valor. Então, estamos trabalhando a mil por hora para focar a Petrobras na extração do petróleo”, afirmou Guedes, que no mesmo dia voltou a dizer que a intenção do governo é “disparar o canhão da privatização”.
Em mensagem aos investidores, divulgada com o resultado do segundo trimestre, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, disse que “com um programa de desinvestimentos desenhado, a prioridade daqui em diante será a estruturação e execução das transações“.
“Estamos firmemente comprometidos em sair completamente dos negócios de transporte e distribuição de gás natural e em reduzir nossa participação nas compras para menos de 50%, concentrando-nos consequentemente na exploração e produção“, escreveu.
Em conferência com investidores na sexta-feira (2), Castello Branco disse que “internamente” o plano de desinvestimentos “está praticamente fechado”.
A Petrobras já divulgou que pretende privatizar oito refinarias: Refinaria Abreu e Lima (RNEST); Refinaria Presidente Getúlio Vargas (REPAR); Refinaria Alberto Pasqualini (REFAP); Refinaria Landulpho Alves (RLAM); Refinaria Gabriel Passos (REGAP); Refinaria Isaac Sabbá (REMAN); Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (LUBNOR); Unidade de Industrialização do Xisto.
Neste ano, a Petrobras também vendeu parte da participação da BR Distribuidora, concluiu a venda da refinaria de Pasadena, no Texas, para a Chevron, e vendeu suas operações no Paraguai à empresa paraguaia Copetrol.
Na mensagem aos investidores, Castello Branco mencionou vender, “no futuro”, parcial ou totalmente o que a Petrobras ainda tem em participação na BR Distribuidora.
“Os desinvestimentos somaram US$ 15 bilhões até o final de julho, com destaque para as transações da TAG, da BR Distribuidora – primeira privatização via mercado de capitais na história do Brasil – e de campos maduros de petróleo. Ficamos ainda com 37,5% do capital da BR, que no futuro temos a intenção de vender parcial ou totalmente. Enquanto isso, vamos nos beneficiar como acionistas do enorme potencial de criação de valor da BR com a flexibilidade que possui uma empresa privada.“
Não à privatização
Marcos Dias, diretor da secretaria de política e formação sindical do Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro) do Rio de Janeiro, chama o resultado da Petrobras no segundo trimestre de “lucro artificial”.
“O lucro foi altíssimo por conta da venda da TAG. Isso aí não necessariamente quer dizer que a empresa está mais saudável, que as contas estão mais saudáveis. É um lucro artificial“, disse.
Contrário a qualquer venda de ativos da estatal, ele diz que “está se desenhando um cenário bem nefasto” para os próximos meses, já que “o governo está trabalhando a todo vapor” pelas privatizações.
Dias argumenta que o Sindipetro defende uma Petrobras “100% estatal”, inclusive sem ações na bolsa de valores.
“A partir do momento que lança ações em bolsa, você fica refém dos interesses daqueles investidores. E não é isso que defendemos. Queremos uma Petrobras 100% estatal, para preservar a soberania nacional, para a população brasileira dar pitaco na nossa política energética.”
Ele também diz que o enxugamento da companhia representa uma redução do quadro de funcionários e diz que não está claro o que será oferecido para os funcionários que trabalham nas áreas que a Petrobras quer vender, como as refinarias.
Questionada sobre o assunto, a Petrobras informou que “conduzirá o processo de desinvestimento em absoluto respeito aos profissionais e à legislação”.”O modelo de gestão de pessoas que será adotado envolverá opções aos empregados. Já há um programa de desligamento voluntário (PDV) anunciado pela companhia e outras opções também surgirão, como a realocação interna, conforme interesse da companhia, plano de deslocamento via acordo, existindo ainda a possibilidade de o empregado migrar para as novas empresas de refino que serão constituídas“, informou a assessoria da Petrobras.
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Paulo Guedes pediu a agências reguladoras informações sobre concessões nas áreas de petróleo, mineração e energia. Objetivo é levantar R$ 75,3 bilhões.
Fonte: BBC Brasil