Pedidos foram feitos com base na delação do senador Delcídio Amaral (Sem partido-MS).
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) abertura de dois inquéritos para apurar o suposto envolvimento do senador Aécio Neves (PSDB-MG) com desvio de dinheiro de Furnas Centrais Elétricas e com maquiagem de dados do Banco Rural. Janot também solicitou a abertura de inquéritos contra o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva (PT), e os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, ambos do PMDB.
Outros quatro peemebistas estão entre os nomes a serem investigados: Valdir Raupp, Jader Barbalho, Romero Jucá, apontado como homem forte de Temer, e Vital do Rêgo, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Os pedidos foram feitos com base na delação do senador Delcídio Amaral (Sem partido-MS), um dos delatores da Operação Lava-Jato.
Renan, Jucá, Jader e Raupp serão investigados por supostos desvios de dinheiro da usina hidrelétrica de Belo Monte. Fraudes nas obras da hidrelétrica também foram denunciadas por ex-dirigentes da Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, entre outros.
No inquérito contra Cunha deverão ser investigadas as relações entre o presidente da Câmara e o banqueiro André Esteves. Na delação, Delcídio levantou a suspeita de que Esteves pagou R$ 45 milhões a Cunha por uma emenda à medida provisória 668, de interesse do BTG Pactual. Segundo o senador, a emenda teria sido escrita pelo BTG, de Esteves. Delcídio conta ainda que a emenda foi aprovada, mas depois vetada pela presidente Dilma Rousseff.
À época, segundo o senador, Esteves tentaria convencer em uma reunião o então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a acolher a proposta de interesse do BTG numa outra medida provisória. A emenda permitiria a bancos como BTG pagar dívidas com o governo com títulos de baixa liquidez.
No inquérito sobre Edinho Silva, a PGR pretende investigar supostas relações do ministro com laboratórios farmacêuticos. Num dos depoimentos, Delcídio disse que orientou o senador a procurar o laboratório EMS para pagar uma dívida de R$ 1 milhão relacionada à campanha do senador ao governo do Mato Grosso do Sul em 2014. No período, Edinho era tesoureiro da campanha da presidente Dilma.
Pelas declarações de Delcídio, os pagamentos seriam feitos mediante a simulação de contratos de prestação de serviços entre as empresas FSB e a Black Ninja, da publicitária Zilmar Fernandes, com a EMS. Depois do surgimento de denúncias contra a EMS, as duas empresas desistiram de receber dinheiro do laboratório.
OUTRO LADO
Em um dos depoimentos, Delcídio disse que, quando presidiu a CPI dos Correios, foi procurado por intermediários de Aécio para prorrogar o prazo de entrega de documentos do Banco Rural. O atraso daria tempo ao banco de mascarar informações desfavoráveis à relação entre o governo de Minas Gerais, durante a gestão de Aécio, e o banco, um dos pivôs do mensalão. O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) deve ser um dos alvos da investigação do inquérito sobre maquiagem dos dados bancários. Delcídio apontou ainda supostas ligações de Aécio com um suposto esquema de desvio de dinheiro de Furnas operado pelo ex-diretor Dimas Toledo.
A partir das declarações do senador, Janot pediu o desarquivamento das investigações sobre fraudes em Furnas e a abertura de um novo inquérito para apurar as novas e antigas acusações de desvios de dinheiro da estatal para políticos de vários partidos. Também com base na delação de Delcídio, o procurador-geral pediu abertura de inquérito contra o ministro Vital do Rêgo, do Tribunal de Contas da União (TCU) e do deputado Marco Maia (PT-RS), acusados de cobrar propina para evitar depoimento de empreiteiros na CPI da Petrobras.
Em nota, o senador Aécio Neves disse que considera “natural” e “necessário” que sejam feitam investigações após a homologação de uma delação pelo STF. No entanto, ele ressalta que os temas são antigos e já foram objeto de investigações anteriores ou “que não guardam nenhuma relação com o senador”. A nota ainda reitera o apoio do presidente nacional do PSDB à Operação Lava-Jato.