‘Desespero’: mulher espancada em Araruama vai processar responsável pelo boato

Ainda abalada, dolorida e reclusa com medo de retaliações, a jovem agradece a Deus por não ter morrido.

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Espancada após um boato, Pâmella Martins, de 20 anos, promete processar o responsável pela divulgação das informações falsas que a fizeram quase perder a vida nas ruas de Araruama, na Região dos Lagos. Um áudio e fotos que circularam no WhatsApp identificavam a jovem e Luiz Aurélio de Paula, de 60 anos, como sequestradores de crianças na região. Nesta quarta-feira, centenas de pessoas cercaram e só não lincharam a dupla porque agentes da Guarda Municipal intervieram.

Ainda abalada, dolorida e reclusa com medo de retaliações, a jovem agradece a Deus por não ter morrido. A reportagem ela contou que “será difícil responsabilizar a maioria” dos que apoiaram a agressão e compartilharam o boato. Mas vai acionar a Justiça contra a mãe da criança que pivô do mal-entendido, que teria atiçado moradores contra Pâmella nas redes.

— Eu pretendo correr atrás dos meus direitos com a mãe, com os parentes da criança. Em rede social, ela afirmou que fomos eu e o Aurélio. Me mandaram um print dessa publicação dela. Agora ela excluiu o Facebook. Muitas pessoas postaram as fotos, mas hoje a maioria apagou, então não tenho muitas provas — explicou Pâmella, que demorou a ter acesso à internet para ver a repercussão porque seu celular havia sido roubado no tumulto.

Policiais contaram à jovem que a mãe da criança, mais tarde, relatou na delegacia de que tudo havia sido um mal-entendido. Mesmo traumatizada, Pâmella fez questão de expor sua versão “para tentar ao menos conseguir a dignidade de volta”.

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— Foi Deus que não permitiu que eu perdesse a vida ontem. Onde você vai, as pessoas te olham e te julgam. Quando fomos à UPA receber atendimento, os próprios seguranças faziam piadinhas. Um me perguntou o que nós fazíamos com as crianças depois de sequestrá-las. Disseram que eu usava peruca (no crime), só porque me conhecem loira e eu pintei os fios de preto há seis meses. Eu não tenho nada a ver com isso — contou Pâmella, que precisou ser medicada por ferimentos nos braços e na cabeça.

A dor dos ferimentos, causados pela sequência de chutes e socos na cabeça, apareceu no dia seguinte. No momento da agressão, segundo ela, “o desespero falava mais alto”. Apesar da constatação do boato, ela ainda teme voltar para casa e nem sabe quando voltará a sair nas ruas. O espancamento ocorreu a cinco minutos da casa em que Pâmella nasceu e cresceu em Araruama.

— Se não fosse Deus, a gente estaria morto. As pessoas acreditam em tudo o que falam, ainda mais nas redes sociais. Ontem eu fui vítima delas, amanhã vai ser outra pessoa. Não voltei em casa por medo, porque me juraram de morto. Eu lá vou tentar a sorte? Não pretendo sair tão cedo — ressaltou a jovem.

O BOATO E A AGRESSÃO

Pâmella explicou que estava com Luiz Aurélio porque começaria a trabalhar na loja dele na segunda-feira. O mineiro expandiria o negócio de artigos de Minas Gerais. Por volta das 13h, ele dirigia para deixá-la em casa quando a multidão cercou o carro. Revoltadas, as pessoas já começaram a agredir os dois. Pâmella correu para um salão de cabeleireiros; Luiz Aurélio, se refugiou em uma padaria próxima.

— No que eu corri, me agrediram por trás e eu caí. Entrei no salão e encontrei uma menina que eu conhecia há anos. Foi a sorte. Eu nem estava perto da criança quando a mãe acusou o Aurélio de querer roubá-la. Foi no começo do mês. Como eu estava com ele naquela tarde, tiraram fotos e reconheceram nós dois. Foi Deus — reforçou.

Na delegacia, policiais contaram à jovem que Luiz Aurélio havia abordado a mãe da criança para oferecê-la um emprego na loja, no começo do mês. A mulher negou. Ele teria brincado com o bebê, quando uma terceira mulher gritou para a mãe que ele queria roubá-la. Neste momento, Pâmella disse estar em casa, com o marido e a sogra. Não está claro se os pais registraram queixa na delegacia. Mas, a partir daí, o boato começou a circular no WhatsApp.

Protegida no salão, Pâmella soube que o pai havia sido hostilizado pela multidão ao chegar no local para resgatá-la. No tumulto, um policial também acabou ferido — com uma pedrada na cabeça, segundo a mídia local. A jovem conta que os agentes da Guarda Municipal chegaram cinco minutos depois do começo das agressões, mas não conseguiram conter sozinhos as centenas de pessoas. O carro de Luiz foi destruído e incendiado na ação. Uma mulher foi presa em flagrante por atear fogo no veículo.

A Polícia Militar foi acionada e levou a dupla em segurança para a delegacia. Pâmella só passou em casa, escoltada por agentes, para buscar algumas roupas e passou a noite em um local afastado.

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As imagens  mostram o momento em que o carro de Luiz é cercado e atacado por centenas de pessoas.

001Fonte: Jornal Extra

 

 

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