Um dos integrantes da quadrilha, diz a um dos sócios que está tendo problemas com a polícia e que vai avisar ao traficante Fernandinho Beira-Mar.
A quadrilha que dominava a venda de botijões de gás em comunidades do Rio, e que foi desmontada pela Polícia Civil, após um ano de investigações, é suspeita de ter ligações com um deputado. Em uma gravação obtida pela reportagem, o suposto chefe do bando, Carlos Eduardo Camilo, reclama com Chiquinho Mecânico, suplente de vereador em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, do cerco da polícia que, ao longo das investigações, prendeu mais de 70 pessoas .
“O negócio está sério mesmo. Os caras pegaram meu caminhão lá embaixo, todo certo. Estão levando para delegacia”.
“Vou ver seu eu consigo falar com o Áureo, vou insistir aqui”, diz na gravação uma voz que seria do suplente de vereador.
Segundo documentos da investigação, Áureo seria Áureo Lídio Moreira Ferreira, deputado federal pelo partido Solidariedade (SDD).
O deputado Áureo Lídio disse em nota que desconhece o tema e que repudia qualquer associação do seu nome com o episódio. Ele pediu rigor das autoridades na apuração dos fatos.
A quadrilha tinha ainda ligações com o traficante Fernandinho Beira-Mar, que cumpre pena na Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Catanduvas, no Paraná. Gravações de conversas telefônicas obtidas pela reportagem mostram a ligação.
Numa gravação, segundo os investigadores, Anderson de Oliveira Souza, um dos integrantes da quadrilha, diz a um dos sócios da quadrilha que está tendo problemas com a polícia e que vai avisar ao traficante Fernandinho Beira-Mar:
“Não, tranquilo, vamos dar andamento nesse negócio aí então. Aí eu já mandei ele agitar o negócio do Beira-Mar, mandei avisar tudo”, diz o homem na gravação.
A investigação da Polícia Civil descobriu como o grupo controlava a distribuição e a venda de botijões de gás em comunidades do Grande Rio, muitas delas com UPPs, e cobrava até R$ 70 por um botijão, que custa em média pouco mais de R$ 40.
O homem apontado como chefe do bando é Carlos Eduardo Camilo, que foi preso nesta quinta-feira (3) juntamente com a mulher, Cláudia Tavares Camilo, numa operação em um depósito de gás em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde a polícia recolheu computadores, cadernos de contabilidade e botijões de gás.
Além de Camilo, dono da distribuidora de gás onde foi preso, e Camila, estão sendo investigados os sócios os Marco Aurélio Furtado Gomes e Alexsandro Oliveira Souza; e Adalberto Gonçalves Teixeira. Os investigadores dizem que todos os envolvidos vão responder por crime contra a economia popular, crime contra a ordem econômica, formação de quadrilha e associação criminosa.
A polícia acredita que a quadrilha vendia, em média, 50 mil botijões de gás por mês e chegava a lucrar R$ 3 milhões. O lucro era dividido com traficantes. De acordo com as investigações, cerca de 200 mil pessoas eram obrigadas a comprar o gás vendido pela quadrilha em áreas controladas pela mesma facção como o conjunto de favelas do Lins, o complexo da Mangueira, os morros da Formiga, Turano e Chacrinha na Zona Norte; os morros da Coroa, Fallet e Fogueteiro, em Santa Teresa, na região central, os morros do Pavão-Pavãozinho, Cantagalo e Cerro-Corá, na Zona Sul; além de 12 comunidades em São Gonçalo.
“As pessoas sabem que, se por acaso contrariar essa ordem, podem sofrer represálias e isso faz com eles realmente temam e só comprem lá. Agora estão livres par comprar onde quiser”, disse o delegado Roberto Gomes.
A Coordenadoria de Polícia Pacificadora informou que colabora com as investigações para a identificação e prisão dos bandidos.
A reportagem não conseguiu contato com as demais pessoas citadas na reportagem.