Tromba d’água o ‘tsunami dos rios’ os sinais do perigo

Magé, Guapimirim e Cachoeiras de Macacu, sofrem incidências do fenômeno.

A morte de oito pessoas arrastadas por trombas d’água em diferentes pontos do Brasil na última semana serve de alerta sobre os perigos de visitar rios e cachoeiras durante a temporada de chuvas que se inicia.

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Especialistas afirmam que há formas de minimizar os riscos  como medir constantemente o nível das águas, evitar se banhar em vales com encostas íngremes e monitorar as nuvens nas cabeceiras dos rios.

Trombas d’água -ou cabeças d’água costumam ocorrer quando chove na cabeceira (nascente) de um rio, ampliando rapidamente seu fluxo. O nível das águas pode subir vários metros em poucos segundos, como uma espécie de tsunami dos rios. As chances de ocorrência aumentam no período chuvoso, que em boa parte do país coincide com o verão.

A expressão tromba d’água também designa outro fenômeno climático, que consiste na formação de colunas de água que lembram tornados sobre mares ou grandes rios.

Mortes por trombas d’água

No sábado, seis pessoas foram engolidas por uma tromba d’água em São João Batista do Glória (MG) quando visitavam a cachoeira do Zé Pereira, em uma fazenda na região da Serra da Canastra.

Só um dos banhistas sobreviveu ao se refugiar em uma gruta e caminhar por três dias até outra fazenda, de onde foi levado para casa em bom estado de saúde.

Na segunda, duas adolescentes morreram em uma tromba d’água em São Roque de Minas (MG), e uma banhista morreu em Saúde (BA), na sexta.

Muitas vezes, pessoas são surpreendidas pelas correntezas ao se banhar vários quilômetros abaixo das cabeceiras, sem que haja qualquer sinal de chuva no local onde estão.

Por isso, diz o tenente Roberto Morais Ribeiro, do Corpo de Bombeiros de Passos (MG), é preciso ficar atento à presença de nuvens na parte alta dos rios.

“Se o clima está fechado lá em cima, mesmo que embaixo faça sol, já há grandes possibilidades de chegar uma tromba d’água”, afirma. Nesse cenário, ele afirma que os banhistas devem sair do rio imediatamente. Às vezes, segundo o bombeiro, é possível o barulho causado pela tromba d’água instantes antes de sua chegada.

Riscos de esportes radicais

Ribeiro diz ter acompanhado dezenas de casos de tromba d’água com “múltiplas vítimas” em seus 20 anos de profissão – entre os quais o incidente recente em São João Batista do Glória (MG).

Segundo o tenente, deve-se evitar a prática de rapel ou outros esportes radicais em áreas sujeitas a trombas d’água – como a cachoeira onde os banhistas morreram no último sábado.

Quatro das seis vítimas faziam rapel quando a vazão do rio do Peixe subiu repentinamente. Uma delas chegou a ficar presa pelas cordas, mas não resistiu aos ferimentos.

“Eles estavam num cânion, num vale profundo. Depois que você começa o rapel, não tem como voltar.”

Em trombas d’água, é comum que rochas e pedaços de árvores sejam arrastados rio abaixo, criando riscos adicionais aos banhistas.

Sinais de tromba d’água

A presença de folhas secas ou outros materiais flutuantes no rio é outro indício de que uma tromba d’água possa estar a caminho, diz à BBC News Brasil Fernando Tatagiba, chefe do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás.

Segundo ele, normalmente é possível antever o fenômeno. Porém, como seus indícios são sutis e há pouco tempo para reagir, deve-se manter plena atenção durante a visita a esses locais.

Tatagiba recomenda que, ao entrar no rio, o banhista localize pedras que lhe permitam marcar mentalmente o nível das águas. “Se perceber que a pedrinha ou o nível de referência sumiu, acompanhado de uma possível turbidez da água, tem que sair imediatamente de perto do rio, buscando um local mais elevado.”

Locais mais sujeitos a trombas d’água

Tatagiba diz que os lugares mais sujeitos a trombas d’água mortíferas são trechos do rio com encostas íngremes e afastados das nascentes, onde o nível da água tende a subir mais com o aumento da vazão.

Já locais próximos às cabeceiras tendem a ser menos perigosos.

Ele defende que gestores de parques naturais e donos de cachoeiras privadas alertem os turistas sobre os locais e épocas do ano em que há maior risco de acidentes.

“Diferentemente de clubes ou shoppings, o ambiente natural não é controlado, por isso é fundamental que o visitante esteja ciente de que há riscos inerentes a esses espaços e adote condutas que reduzam a chance de ser pego de surpresa.”

No Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, segundo Tatagiba, todos os turistas têm de assinar um termo de conhecimento dos riscos – que incluem, além das trombas d’água, animais peçonhentos e pedras escorregadias, entre outros pontos.

Segundo ele, os cuidados adotados impediram que o parque registrasse qualquer morte por tromba d’água desde 1996 – embora o fenômeno seja frequente nos rios locais. A última ocorrência no parque resultou na morte de uma jovem francesa e um guia, arrastados por uma tromba d’água que fez o nível de um rio subir dez metros.

Segundo o tenente Roberto Morais Ribeiro, do Corpo de Bombeiros de Passos (MG), alguns donos de cachoeiras privadas da região da Serra da Canastra instalaram placas para sinalizar os locais mais sujeitos a trombas d’água e costumam alertar os banhistas quando há possibilidade de chuva nas cabeceiras.

Outros, porém, não adotam qualquer medida de precaução, segundo ele.

Trombas d’água nos EUA

Nos EUA, segundo o National Weather Service – órgão governamental que monitora eventos climáticos -, trombas d’água são o fenômeno climático que mais provoca mortes no país.

De acordo com o órgão, quase a metade das mortes ocorre quando trombas d’água invadem estradas e arrastam carros com passageiros.

Um dos mais graves eventos da história do país ocorreu em 1990 em Shadyside, Ohio, quando uma tromba d’água elevou o nível das águas em 10 metros, provocando 26 mortes pelo caminho.

Fonte: BBC

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