Após ser obrigada a tomar remédio, Rayanne Christini teve parto induzido pelos criminosos.
Sequestrada, morta e queimada com sete meses de gravidez, Rayanne Christini Costa, de 22 anos, foi assassinada por enforcamento com uma borracha após parir o bebê. Como era prematura a criança, uma menina, não resistiu e também morreu. As informações são da Delegacia de Descoberta de Paradeiro (DDPA). Thainá Silva Pinto, de 21 anos, e o marido dela, Fábio Luiz Souza Lima, 27 anos, estão presos acusados do crime. Ele vai prestar novo depoimento amanhã à especializada. A polícia ainda precisa esclarecer alguns detalhes do fato. Três pessoas estão foragidas.
Segundo as investigações, Rayanne foi obrigada a tomar remédio para induzir o parto, que teria sido normal, de acordo com o depoimento de Thainá à DDPA. Depois, foi enforcada, o corpo levado para o quintal e queimado.
Já a criança, como era prematura, não resistiu. De acordo com a polícia, Thainá colocou o corpo do bebê dentro da bolsa de Rayanne e jogou num terreno baldio perto da casa onde aconteceu o crime, mesmo local onde ela e Fábio moravam.
Embora a vítima tenha tido o corpo queimado, peritos conseguiram identificar cortes nos restos mortais e concluíram por esses sinais que ela foi esquartejada. Parte do corpo dela foi encontrada na casa onde aconteceu o crime e outra, em Guapimirim, na Baixada Fluminense, numa mochila. Nela, estava a arcada dentária da jovem, que está sendo submetida odontograma, ou seja, sendo analisada por um dentista. O exame permite atestar se é dela ou não o material encontrado. Já os outros restos mortais foram submetidos a exame de DNA. O resultado ainda não saiu.
Rayanne desapareceu após sair de casa para buscar doações de roupas oferecidas por Thainá pelas redes sociais. Segundo as investigações da DDPA, Thainá e Fábio tramaram o crime para ficar com o bebê. Ela mentiu nas redes sociais dizendo que estava grávida de uma menina e, por isso, teria atraído Rayanne.
Entenda o caso
Na manhã do dia 13 de dezembro, Rayanne levou a filha de 3 anos, à creche. De lá, sozinha, pegou um trem com destino à Central do Brasil para buscar o enxoval para o bebê prometido por Thainá, que exigiu que ela fosse até Magé pegar as roupinhas e fraldas. As duas se conheceram pelo Facebook em um grupo para grávidas onde Thainá fez a oferta.
O bebê, que se chamaria Maria Luísa, nasceria entre janeiro e fevereiro.
Às 16h, Rayanne não apareceu para buscar a filha ma creche como fazia todos os dias. A família achou estranho e ligou para o celular da jovem, que estava desligado.
Desesperados, parentes decidiram registrar o desaparecimento na polícia. Na ocasisão, para ajudar nas buscas, a Polícia Civil disponibilizou um cartaz com o rosto da mulher e telefones para contato.
Quem era Rayanne
Filha de pais separados, a jovem morava com a mãe, a primeira filha de 3 anos e dois irmãos, um de 7 e 13 anos, respectivamente, em Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio. Rayanne, que aos 19 anos parou de estudar para dar à luz a primeira filha, passava os dias revezando os cuidados com os da avó, que sofre de Alzheimer.
Manifestação e procura
Cinco dias depois do sumiço, no dia 18 de dezembro, familiares e amigos de Rayanne fizeram uma manifestação em Bangu, na Zona Oeste do Rio. Eles cobravam da polícia mais empenho nas investigações do caso. Com cartazes e faixas eles percorreram várias ruas do bairro. Um dia antes, no dia 17, parentes da moça estiveram na Central do Brasil, no Centro do Rio, procurando pelo paradeiro na jovem.
No mesmo dia, eles estiveram também em Duque de Caxias e Magé, na Baixada Fluminense, para tentar localizar a jovem. À ocasião, uma testemunha contou ter visto Rayanne na rodoviária da cidade.
Na mesma semana, a família de Rayanne encontrou um antigo celular da vítima e conseguiram acessar o seu Facebook, no entanto, nada de estranho teria sido achado. Já entre os dias 17 e 19, um amigo da família conseguiu rastrear o telefone dela até Caxias, onde o aparelho teria perdido o sinal. Parentes foram até à cidade em vão.
Informações falsas e mensagens racistas
Durante a investigação da Polícia Civil, parantes e amigos de Rayanne receberem várias mensagens falsas sobre o paradeiro da jovem. Muitas delas foram de cunho racista. Jupira Costa, uma das tias da moça, contou que tem recebido, todos os dias, ligações, mensagens e comentários do suposto paradeiro da mulher.
No entanto, segundo ela, muitas mensagens eram de cunho racista. “Nesta semana recebemos a seguinte mensagem de uma pessoa: ‘Esse bebêzinho não custa mais que R$ 10 mil no mercado negro. Ainda mais prematuro. O valor vai uns 15%, ou seja, vai valer no máximo R$ 8 mil. É melhor destrinchar os órgãos e vende-lós avulso. O lucro triplicaria'”, dizia uma mensagem que a tia recebeu. “Isso é um absurdo, estamos sofrendo. Estamos recebendo diversas ligações. Não tenho nem mais a conta que quantas pessoas nos ligaram para informar o suposto paradeiro da Rayanne”, diz.
Comissão da Alerj cobrou resposta da polícia
No dia 22, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) informou, que atuaria no caso junto à Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) para cobrar mais agilidade a respeito do sumiço de Rayanne. À ocasião, o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) disse que marcaria um encontro com familiares da vítima e que entraria em contato com a delegada Elen Souto, responsável pelas investigações.
Prisão de suspeita
Após investigação,Thainá da Silva Pinto, 21, foi presa em casa, em Magé, mas não revelou o paradeiro da vítima. Na gravação entregue para a Polícia Civil, Rayanne, que havia chegado ao local de trem, vindo de Padre Miguel, na Zona Oeste, não teria deixado a estação. Na imagem é possível observar que vítima espera pela suspeita. Elas conversam por alguns instantes e em seguida saem. A suspeita estava de roupa listrada, camiseta branca e um short.
‘Família vive um inferno’
A vida dos familiares de Thainá da Silva Pinto virou pelo avesso após a polícia confirmar a autoria da acusada no sumiço de Rayanne. Um irmão da acusada chegou a dizer que não acredita na participação da irmã no crime. No entanto, ele contou que, caso fosse culpada, deveria pagar pelo crime. De família humilde, Thainá cresceu e morou a vida inteira em Magé. Sem passagem pela polícia, elaa é a filha do meio de três irmãos. O pai e a mãe são diáconos de uma igreja evangélica.
Outras vítimas
Thainá da Silva Pinto, suspeita de sequestrar Rayanne Christini, teria mentido para a família e disse que estava esperando um bebê. Inclusive, parentes chegaram a comprar berço, carrinho e várias roupinhas para a suposta criança da acusada, que se chamaria ‘Laura’. Já nas redes sociais, Thainá contava uma outra história. De acordo com depoimento de pessoas que chegaram serem procuradas pela suspeita, ela anunciou roupinhas em um grupo de Facebook e disse que estava fazendo as doações porque os itens não cabiam mais em sua filha, que havia nascido de sete meses.