A modalidade é esgoto doméstico, e a medalha de ouro vai para Rio Magé.
Falta um ano para os Jogos 2016, mas já tem medalhista quando o assunto é poluição das águas que receberão as competições olímpicas de vela. Na semana seguinte a mais um compromisso assumido pelo estado para limpar a Baía de Guanabara —agora, com previsão de término só em 2030 —, a reportagem ouviu especialistas em meio ambiente e saneamento e, com base em índices da qualidade da água, de acesso a rede de esgotamento sanitário e histórico de acidentes ambientais, entre outros dados, construiu o pódio dos campeões do abandono pelo poder público. A partir de hoje, a reportagem mostra onde estão os recordistas da poluição na baía. Hoje, a modalidade é esgoto doméstico, e a medalha de ouro vai para Rio Magé.
Com o pior índice de qualidade da água (IQA) no último boletim do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), de março — 12,9, numa escala de zero a cem —, o Magé desemboca na Guanabara depois de cortar o município da Baixada de mesmo nome, onde 57,7% dos moradores não têm acesso ao saneamento, segundo o Censo 2010. Um dos principais parâmetros do IQA é a quantidade de oxigênio dissolvido e de coliformes fecais na água, provenientes do esgoto doméstico.
A prata ficou com o Canal da Penha, que teve IQA 14,1. O rio corta Penha e Penha Circular, bairros densamente povoados da Zona Norte, com pouco acesso a saneamento. O Censo mostrou que a capital tem 1,3 milhão de habitantes que moram em casas sem rede de esgoto, o que gera 89 mil litros de dejetos sem tratamento por dia, o equivalente a 222 piscinas olímpicas.
Com uma Unidade de Tratamento de Rio (UTR) à espera da inauguração, o Rio Irajá levou o bronze, com IQA 14,7. A Cedae informou que a UTR entrará em funcionamento até o fim do ano com capacidade para tratar 12% do esgoto que vai para baía, aumentando a cobertura para 63% dos dejetos produzidos.
Segundo o biólogo Mario Moscatelli, no entanto, a maioria dos mais de cem rios e canais que desembocam na baía estão em estado grave de poluição.
— Estabelecer um ranking é quase impossível, estaríamos comparando defunto fresco com defunto velho — diz Moscatelli. — Quase todos os rios já estão mortos, viraram valão de lixo e esgoto.
O ambientalista, economista e professor da PUC-Rio Sérgio Besserman concorda que a falta de saneamento é o maior problema, mas aponta outra dificuldade.
— O maior desafio não é tecnológico e nem sequer o custo, embora custe bastante. O problema é de governança. Em qualquer lugar do mundo, para um desafio como este, há uma instituição forte, com poder, orçamento, capacidade para abranger todas as dimensões — critica.
O estado alega que a cobertura de tratamento de esgoto nos 15 municípios do entorno da Baía de Guanabara foi ampliada nos últimos oito anos. “Para se universalizar o saneamento nos 15 municípios do entorno da baía, serão necessários R$ 12 bilhões”, diz a nota da Secretaria do Ambiente. A prefeitura de Magé não respondeu.