Beata foi professora e deu abrigo a doentes recusados até em hospitais.
Conhecida em vida como “a santa das sarjetas” e canonizada neste domingo (4), Madre Teresa de Calcutá nasceu em 26 de agosto de 1910 em uma família albanesa em Skopje, capital da atual república da Macedônia – que na época pertencia à Albânia –, com o nome de batismo Gonxhe Agnes Bojaxhiu.
Ela entrou em 1928 para a ordem religiosa Irmãs de Nossa Senhora de Loreto, que tem sede na Irlanda, e passou a usar o nome Teresa em homenagem a Santa Teresa de Lisieux.
Enviada a Calcutá, na Índia, foi professora durante muitos anos em uma escola para meninas de classe alta, antes de decidir servir a Deus através dos pobres. No início de 1948, se mudou para os bairros pobres de Calcutá, onde suas ex-alunas se tornaram, a seu lado, as primeiras Missionárias da Caridade.
Em 1952, ao observar uma mulher agonizante, abandonada na rua e com os pés atacados por ratos, ela sentiu uma profunda comoção e decidiu assumir uma nova tarefa: ajudar os mais pobres entre os pobres. Depois de procurar com insistência as autoridades da cidade, conseguiu a concessão de um antigo edifício para dar abrigo às pessoas que sofriam de tuberculose, desinteria e tétano, as quais nem os hospitais queriam atender.
Dezenas de milhares de necessitados passaram pelo lugar. Muitos encontraram uma morte digna, com respeito às suas próprias religiões, e outros se recuperaram graças aos cuidados das freiras. Pelo seu trabalho, ela foi laureada com o Prêmio Nobel da Paz em 1979.
Milagres
A igreja abriu caminho no ano passado para a canonização da beata após declarar como milagre a recuperação do brasileiro Marcilio Haddad Andrino, que tinha múltiplos pontos de inflamação no cérebro.
Quando Andrino sofreu em 2008 os abscessos cerebrais, dos quais médicos disseram que ele não iria se recuperar, sua família rezou para Madre Teresa. Ele conta que seu estado de saúde piorou ao ponto de ter sofrido para conseguir andar ao altar durante seu casamento, em setembro de 2008. Em dezembro foi levado inconsciente para hospital.
O brasileiro estava com uma cirurgia cerebral marcada, mas acordou sem dores de cabeça pouco antes da operação e o médico afirmou que uma intervenção médica não seria mais necessária (veja no vídeo abaixo a história de Andrino em reportagem do Fantástico).
Em 2002, o Vaticano já havia reconhecido um primeiro milagre atribuído à intervenção da freira: a cura de uma mulher de 30 anos, Monika Besra, que sofria de um tumor abdominal. Ela se viu livre da doença depois que as irmãs da congregação a presentearam com uma “medalha milagrosa” da Virgem, que antes havia sido usada pela beata aos 87 anos.
Madre Teresa foi, então, beatificada por João Paulo II em 19 de outubro de 2003, em Roma, durante cerimônia que teve a presença de 300 mil fiéis.
Críticas
Mas nem todo mundo comemorou a transformação da beata em santa. Críticos questionam a comprovação dos milagres admitidos pela igreja e consideram que sua canonização é símbolo de mais um “triunfo da fé religiosa sobre a razão e a ciência”.
O autor britânico Christopher Hitchens, que morreu em 2011, era um dos principais. Ele descreveu Madre Teresa como “uma fundamentalista religiosa, uma agente política, uma pregadora primitiva e uma cúmplice dos poderes seculares mundanos”.
Em um livro famoso lançado em 1995, “A posição missionária: Madre Teresa em teoria e prática, Hitchens critica o que diz ser a “cultura de sofrimento” da freira e afirma que ela criou um imaginário de “buraco do inferno” da cidade que a acolheu, além de ter se tornado “amiga de ditadores”. O autor também foi responsável por um documentário chamado “O anjo do inferno”, em que explora os argumentos.
Em 2003, o físico de Calcutá Aroup Chatterjee publicou uma nova crítica, depois de ter feito pelo menos 100 entrevistas com pessoas envolvidas com a congregação criada por Madre Teresa. Ele descreveu o que disse ser uma “espantosa falta de higiene” nos centros de saúde administrados pelas Missionárias de Caridade e descreveu os locais em que o grupo cuidava de doentes como “confusos e mal organizados”.
Legado
Madre Teresa de Calcutá morreu em 1997, aos 97 anos. Seu enterro em Calcutá, em 5 de setembro de 1997, foi um acontecimento nacional na Índia e milhões de pobres acompanharam seu corpo pelas ruas da cidade.
Ao canonizá-la, o papa Francisco afirmou que a figura da madre será a santa de “todos os voluntariados” e pediu que ela fosse considerada o “modelo de santidade”.
“Sua missão nas periferias das cidades e nas periferias existenciais permanece até hoje como testemunho eloquente da proximidade de Deus aos mais pobres entre os pobres.”
O pontífice lembrou ainda que a beata fez “sentir sua voz aos poderosos da terra para que reconhecessem suas culpas diante dos crimes da pobreza criado por eles mesmos”. O Papa conheceu Teresa pessoalmente, por ocasião de um sínodo de bispos em 1994, em Roma.