O percentual marca o recorde negativo do setor.
O Centro do Rio de Janeiro chegou ao fim de 2020 com 45% de seus espaços comerciais lojas, escritórios e salas vazios. O número é da Associação Brasileira de Administradoras de Imóveis (Abadi). O percentual marca o recorde negativo do setor.
“O Centro nunca esteve tão vazio”, avaliou o diretor da Abadi, Marcelo Borges.
Não é exagero. Ao andar pela região, mesmo nos dias de semana e em horários antes muito movimentados, o esvaziamento é visível. Lojas fechadas, portas trancadas e algumas das principais ruas quase desertas.
Um processo de esvaziamento da região já estava em andamento e ganhou força a partir de março do ano passado, quando a pandemia de Covid-19 se transformou em realidade no Brasil.
Ao ficar claro que a proximidade entre pessoas em locais fechados era um fator fundamental de propagação do novo coronavírus, as empresas se viram obrigadas a esvaziar escritórios e investir em alternativas distanciadas de trabalho como alternância de presença por escalas e home office.
“A pandemia acelerou um processo que já ocorria pelo menos desde 2014 em busca de aluguéis mais baratos e prédios mais modernos, muitas empresas haviam migrado para outras regiões da cidade, sobretudo para a Barra da Tijuca, na Zona Oeste. No entanto, nunca vimos nada que possa ser comparado à desocupação que aconteceu no Centro em 2020. A pandemia causou um esvaziamento surpreendente”.
Os números comprovam a afirmação.
Segundo a Abadi, no final de 2018, 33% dos espaços comerciais do Centro estavam vazios. No ano seguinte, muitas firmas se estabeleceram no Centro, motivadas principalmente pelo leilão de ativos da Petrobras na região. Isso fez com que o percentual de desocupação caísse para 25%.
“Mas aí a pandemia chegou e mudou tudo. Além da questão da implantação do home office, que pode vir a ser incorporado de forma definitiva, por conta de toda a crise provocada pela pandemia, muitas empresas, que se serviam da ocupação do Centro, hoje em dia não se sentem mais atraídas pela área o giro financeiro não permite mais o pagamento de aluguéis na região com o local vazio como está. Nesse cenário, não há compra, não há comercialização, não há geração de negócios”.
O esfriamento de atividades comerciais no Centro do Rio ocorre em intensidade contrária ao surgimento de novos empreendimentos imobiliários com perfil habitacional.
Essa movimentação pode ser percebida pela construção de espaços não comerciais, mas voltados a moradias em algumas das principais ruas da região, como a Senador Dantas, a Marrecas e a Visconde de Inhaúma.
“Um imóvel comercial que deverá se transformar em residencial é o Edifício ‘A noite’, localizado na Praça Mauá. Durante anos foi o prédio mais alto da América Latina. O leilão do edifício já foi autorizado pelo Governo Federal, proprietário da construção. O edifício tem uma vista impressionante. Além disso, está em um lugar privilegiado”, avaliou o vice-presidente do Sindicato da Habitação do Rio (Secovi-Rio), Leonardo Schneider.
Erguido na década de 1920 e marco na história da arquitetura brasileira, o arranha-céu foi, durante várias décadas, sede da pioneira Rádio Nacional emissora de maior audiência no país.
O preço estimado da estrutura tombada pelo Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é de R$ 90 milhões.
Os tipos de construções habitacionais no Centro vão ser variados. Serão apartamentos, studios imóveis de perfil reduzido, voltados para apenas um morador e também os chamados coolivings, locais que, além da moradia, oferecem funções essenciais aos moradores, como serviço de quarto e lavanderia.
Para quem acompanha o mercado imobiliário carioca de perto, o Centro do Rio pode estar no início do processo de recuperação de uma antiga vocação local.
“Até o início da década de 1960, o Centro do Rio tinha um perfil híbrido, que conciliava muitos imóveis residenciais com espaços comerciais. Era comum morar ali. Com a mudança da capital federal para Brasília, essa situação começou a mudar: boa parte dos habitantes saíram em busca de moradias em outras regiões da cidade, principalmente na Zona Sul. O Centro se transformou em um espaço quase que totalmente comercial. Agora, com toda a mudança provocada pela pandemia, talvez estejamos diante de uma retomada da vocação habitacional da região”, avaliou Schneider.
Naquela ocasião, muitos edifícios habitacionais foram transformados em comerciais. Especialistas do setor agora esperam um movimento contrário, com prédios de escritórios sendo convertidos em espaços residenciais.
“O Centro é uma região atraente para moradias. É um local bonito de ponta a ponta. Além disso, é muito bem servido de todo tipo de serviços e transportes ônibus, metrô e barcas. Além disso, a atual gestão municipal parece ter uma disposição em revitalizar o Centro da cidade”.
Revitalização
A revitalização do Centro e a consequente retomada de espaços habitacionais de fato está entre os objetivos da prefeitura.
Conforme mostrou reportagem, o projeto “Reviver Centro”, da Prefeitura do Rio, será encaminhado para a Câmara de Vereadores do Rio este mês.
O conjunto de decretos e projetos de lei do plano urbano tem o objetivo de atrair novos moradores e estimular a recuperação da região.
Atualmente, 40 mil pessoas moram no Centro do Rio. O local concentra 800 mil empregos.
Os pontos previstos no projeto são:
Incentivos para quem construir unidades habitacionais ou transformar imóveis comerciais em residenciais;
Entre os incentivos estão previstos o perdão de dívidas de tributos municipais e a isenção de IPTU por até 10 anos;
Há também a previsão de aumentos progressivos do IPTU para os proprietários de imóveis vazios há vários anos;
Os maiores incentivos são para os empreendimentos com unidades destinadas ao Programa de Locação Social da Prefeitura do Rio.
“O público alvo para esta locação social são servidores públicos até seis salários mínimos, estudantes universitários e estudantes universitários cotistas”, disse o Secretário de Planejamento Urbano, Washington Fajardo.
Ainda segundo ele, com o projeto, a prefeitura espera aumentar entre 10% e 15% a população da área.
Fonte: Portal G1