De acordo com os especialistas da Cruz Vermelha no Rio, não há uma receita de bolo.
”Os japoneses sabem como se comportar num terremoto. Nós temos que aprender a lidar com a violência”. A professora Aura Liane Souza sabe bem que os tiros podem matar a Educação. Ela passou 14 anos à frente de uma escola municipal no entorno do Complexo do Alemão. Sentiu na pele o que é encontrar um projétil de bala dentro da escola. Viu os alunos perderem aulas por não poderem sair de casa ou por não terem transporte público funcionando em dia de confronto. Agora, é uma dos 41 professores que estão no curso “Acesso mais seguro para serviços públicos essenciais”, ministrado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
— Essa é uma medida de prevenção. A Cruz Vermelha nos ensina o passo a passo para pensar no que fazer antes de acontecer. A gente sinaliza as situações que a gente passou e reflete. A ideia é não ficar desesperada na hora da emergência e agir de forma equivocada. Nós somos seres humanos, ficamos nervosos na hora de um confronto — conta Aura, que agora é assistente de gabinete da Secretaria municipal de Educação e será uma das profissionais responsáveis por multiplicar o conhecimento para a rede: — Pensa numa escola que tem uma quadra de esportes descoberta. Se a gente já percebe, antes do tiroteio começar, que a situação está ficando complicada, já podemos cancelar a aula de educação física ao ar livre e botar ela para dentro da sala, por exemplo.
De acordo com os especialistas da Cruz Vermelha no Rio, não há uma receita de bolo. Um dos pontos a observar é como está o entorno da escola. A ausência de cachorros na rua, em determinadas favelas, pode indicar riscos, por exemplo. Em outras, o barulho da rotina de carros passando diante do colégio deixa todos mais tranquilos. O curso, uma iniciativa da secretaria municipal de Educação (SME), também ensina, por exemplo, quais são os melhores lugares para se proteger na hora das trocas de tiro.
— A gente começou a aprender como montar um plano de ação para acesso de segurança. Temos que levar em consideração as particularidades de cada escola. Esses planos de acesso seguro que vamos criar serão totalmente individualizados — conta a ex-diretora Aura.
A ideia, segundo os organizadores, é fazer com que as escolas consigam identificar os momentos onde não há mesmo condição de aulas e, assim, possivelmente aumentar os dias com as escolas abertas.
— Nós precisamos trabalhar. Essas crianças não podem ficar sem escola. Mas temos que trabalhar com qualidade e segurança. A gente faz um trabalho de saber como agir diante de um confronto. Tem a ver com como se comportar.