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Polícia crê em motivação política em só 2 de 13 mortes na Baixada, RJ

Duas outras mortes teriam ocorrido por motivo fútil, aponta investigação.

A menos de um mês das eleições municipais, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio tentam nessa quinta-feira (8) prender suspeitos de matar 13 políticos entre novembro de 2015 e agosto de 2016. Segundo as investigações da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense, apenas dois desses crimes, em Paracambi e em Magé, teriam ligação direta com brigas políticas.

“Não é puramente o elemento político partidário que está causando as mortes na Baixada. A minha percepção de crime político a gente percebe em dois casos: Geraldão [Seropédica] e Luciano DJ”, disse o delegado Giniton Lages, titular da Divisão de Homicídios da Baixada (DHBF), em entrevista.

Geraldo Cardoso, vereador do PSB em Magé, foi morto dentro da Câmara de Vereadores, com três tiros. O crime ocorreu em 13 de janeiro, no caminho entre o gabinete e o carro do parlamentar no estacionamento.

Após a morte dele, o prefeito Nestor Vidal foi cassado, e assumiu o até então presidente da Câmara, Rafael Tubarão (PPS). Segundo as investigações, Geraldo coordenava uma das comissões especiais de inquérito (CEI) da casa, e lutava para tentar cassar Vidal por irregularidades em contratos com a Clínica da Cidade.

“Quem o matou ali dentro tinha privilégio de informação. Ele morreu abraçado com a pasta que tinha todos os documentos da CEI. A DHBF não pode fechar os olhos para isso”, explicou Giniton.

O caso de Luciano Nascimento Batista, conhecido como Luciano DJ, também aponta para os mesmos elementos. De acordo com as investigações, o processo na Câmara Municipal estaria inclusive mais avançado do que em Magé para a cassação do prefeito.

“Luciano era da oposição, e certamente votaria a favor da cassação do prefeito. No dia da sessão, no entanto, ele faltou, e o prefeito consegui depois suspender o processo. No dia 15 de novembro de 2015, Luciano apareceu morto”, conta Lages. O vereador foi morto ao sair de uma casa noturna em que atuava como DJ no município.

A polícia investiga ainda a ligação entre Luciano e Júlio César Fraga Reis, morto em agostode 2016. Segundo a investigação, ambos eram amigos. Luciano já havia sido dono de linhas de vans no passado, e a polícia descobriu que Julio tinha negócios que conflitavam com a milícia.

“No caso do Júlio, estamos tentando descobrir se houve divergências de negócios e política, ou apenas de negócios. A milícia, em um período eleitoral, precisa de poder. Então, ela precisa fazer apoios. O Júlio estava apoiando um candidato a prefeito, resta saber se é o mesmo grupo que a milícia também apoia”, explicou o delegado.

Mortes sem relação política
A polícia indica que duas mortes ocorreram por motivos fúteis ou passionais: as de Nelson Gomes Souza e Darley Gonçalves Braga. O último teria sido assassinado por um ex-namorado da sua mulher, segundo as investigações. Nelson, de acordo com a polícia, foi morto após uma discussão de trânsito onde morava, em São João de Meriti.

“Ao tentar desviar de um ônibus, Nelson acerta duas pessoas em uma moto e saca uma arma durante a discussão. O da garupa foge, ele agride o condutor da moto. Eles voltam com um carro, no mesmo local da discussão, e dão vários tiros em Nelson, que permanecia no local discutindo com o motorista de ônibus”, explicou Lages.

Em agosto, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, pediu que a Polícia Federal que investigasse os casos. Segundo informações da inteligência da DHBF, entre os principais motivos de disputa que levaram às mortes, estão o furto de combustíveis da Petrobras e a briga por territórios em diferentes municípios. Um local de furto foi estourado na manhã desta quinta.

Nove mandados de prisão
As investigações continuam para esclarecer a série de mortes na Baixada. Nesta quinta, a Polícia Civil e o Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público (Gaeco) iniciaram uma operação para cumprir 22 mandados de busca e apreensão e nove de prisão. Até as 11h, não havia balanço.

A informação foi confimada pelo Gaeco. Os assassinatos ocorreram em Seropédica, Duque de Caxias, Magé, Paracambi, Queimados, Nova Iguaçu, Nilópolis, Japeri e São João de Meriti.

Envolvimento com milícias
Entre as vítimas, havia cinco envolvidos com milícias, segundo a polícia: Leandro da Silva Lopes, Sérgio da Conceição de Almeida Júnior (o Berém do Pilar); Julio Cesar Fraga Reis; Denivaldo Meireles da Silva e Oswaldo da Costa Silva (Ratinho). Luciano Nascimento Batista, vereador do PC do B em Seropédica, também tinha relações anteriores com a milícia.

Lista dos 13 políticos mortos na Baixada entre novembro de 2015 e agosto de 2016:

Vereadores:
– Luciano nascimento Batista (Luciano DJ)
– Marco Aurélio Lopes
– Geraldo Cardoso Gerpe (Geraldão)

Pré-candidatos:
– Darley Gonçalves Braga
– Anderson Gomes Vieira
– Leandro da Silva Lopes
– Manoel Primo Lisboa
– Sérgio da Conceição de Almeida junior
– Aga Lopes Pinheiro
– Oswaldo da Costa Silva
– Julio César Fraga Reis

Outros cargos:
– Nelson Gomes de Souza
– Denivaldo Meireles da Silva

Fonte: G1