Um grupo de “patrulheiros civis” criado há mais de 30 anos nos Estados Unidos está atuando na Zona Sul do Rio de Janeiro para reprimir roubos e arrastões.
Treinados em defesa pessoal e primeiros socorros, voluntários brasileiros do Guardian Angels (ou “anjos da guarda”) circulam pelas ruas da cidade para “realizar prisões em flagrante” e “garantir a ordem e a segurança das pessoas de bem”. Seus integrantes andam desarmados e se baseiam no artigo 301 do Código de Processo Penal, que permite a qualquer cidadão dar voz de prisão a infratores flagrados cometendo delitos.
Na prática, sempre uniformizados, os patrulheiros fazem rondas em bairros como Copacabana, Lagoa e Ipanema, imobilizam suspeitos até a chegada da polícia e conduzem vítimas a delegacias ou hospitais. Desde os arrastões registrados em setembro, eles intensificaram a divulgação das abordagens em grupos fechados no Facebook.
“A segurança pública deve ser exercida por servidores capacitados para a função”, disse equipe do secretário José Mariano Beltrame, em nota.
O advogado Henrique Maia, fundador do Guardian Angels no Brasil, defende seus seguidores. “Nossa instituição realiza intervenções urbanas, salvando vidas e recuperando patrimônio das vítimas”, diz.
Criada em 1979, em Nova York, para combater o aumento dos índices de crimes no bairro do Bronx, a entidade diz reunir hoje 5 mil voluntários, em 144 cidades e 17 países. Nos Estados Unidos, divide opiniões e é classificada por alguns como grupo de extrema direita ou milícia, mesmo que desarmada.
Henrique Maia, fundador do grupo no Brasil, diz que “milícia e um grupo clandestino e que comete crimes”, afirma. “Nós somos pessoa jurídica de direito privado.”
O advogado prossegue: “Imagine, eles têm naturalmente maior produção de melanina por ser (sic) uma grande maioria de cor preta”.
Volta ao Central Park
Maia aparece em uma foto no site oficial do grupo americano durante uma de suas rondas em Copacabana durante a Copa do Mundo. Em seu perfil no Facebook, publica fotos tiradas em 2002 ao lado do fundador da matriz, que foi responsável por seu treinamento em 2002.
É a matriz americana que provê os uniformes e materiais didáticos para os Guardian Angels brasileiros.
No exterior, os Guardian Angels voltaram a ganhar manchetes em jornais na semana passada, graças ao anúncio de que voltariam a patrulhar o Central Park, no coração de Nova York, por conta do aumento nos índices de violência na região.
Os voluntários não pisavam oficialmente no Central Park desde 1994, após o aumento do efetivo policial na área promovido pelo então prefeito Rudolph Giuliani. Fundador e líder global do grupo, o radialista Curtis Sliwa culpou o atual prefeito Bill de Blasio por ser “alheio” à escalada do crime.
Na época, o grupo também encarava uma crise de reputação no país.
Segundo reportagem publicada pelo jornal The New York Times, em 1992, Sliwa teria admitido que seis abordagens divulgadas pelos Guardian Angels foram na verdade “golpes de publicidade” encenadas por dublês no lugar de bandidos.
Segundo o jornal, Sliwa e sua mulher tocavam um grupo que se transformou “em pouco mais que uma força de segurança para um quarteirão de restaurantes”.
Por aqui, o braço brasileiro do grupo teve seu auge de visibilidade em julho de 2003, quando patrulheiros levaram para delegacia grafiteiros que pintavam o muro do Jockey Clube, no Rio.