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Passageiros não têm abrigo em 60% dos pontos de ônibus da Av. Brasil

A Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) esclarece que não existe obrigatoriedade de que todos os pontos de ônibus tenham abrigo.

Na altura do número 38.500 da Avenida Brasil, em Campo Grande, o bancário Hugo Gonçalves, de 23 anos, e a colega Manuela Santana, de 28, esperam o ônibus para o trabalho ao lado do esqueleto do antigo abrigo de coletivo. Estão conformados, pois sabem que há cenário pior nos cerca de 60km da principal via da cidade entre o Caju e Santa Cruz. Das 116 paradas nos dois sentidos da avenida mapeadas pela reportagem, em quase 60% os passageiros ficam, literalmente, fora da área de cobertura: só 48 pontos tinham abrigos, ainda que alguns, com estrutura improvisada.

Além dos transtornos provocados pelas obras do BRT Transbrasil e das muitas viagens em veículos lotados e desconfortáveis, o usuário de ônibus sofre enquanto espera. E se vira como pode, abrigando-se embaixo de árvores, passarelas e viadutos.

— É uma falta de respeito. Pego ônibus aqui sempre e não tem nenhuma segurança, o conforto é zero. Um cadeirante, por exemplo, não consegue nem chegar até aqui — reclamou o aposentado Geraldo Neri, de 65 anos, enquanto aguardava com a mulher Edna Antoniol, de 62, o ônibus que os levaria para Campo Grande, numa parada em cima do viaduto de Coelho Neto, numa calçada estreita.

Ali, a proteção do sol e da chuva é cortesia do ambulante Clebson de Oliveira, de 36 anos, que vende biscoitos e bebidas no local. Ele oferece os guarda-sóis de sua barraca improvisada a grávidas e mães com crianças no colo que deixam o Hospital municipal Ronaldo Gazzola, perto dali.

— Às vezes trago cadeiras também — conta.

Na pista sentido Centro, em Bangu, é uma árvore que serve de abrigo até para fiscais e despachantes das empresas de ônibus. Já em alguns trechos, como na altura de São Cristóvão, na pista sentido Zona Oeste, o desconforto é provocado pelas obras. Lá, o abrigo até exite, mas está isolado por conta das intervenções.

Em Deodoro, no primeiro ponto onde param os ônibus que saem da seletiva da Brasil, no sentido Santa Cruz, dois abrigos com teto de zinco e estrutura de ferro começaram a ser instalados há cerca de três meses pelo posto de gasolina vizinho, incomodada com o grande fluxo de passageiros que, sem ter onde se abrigar, corriam para a cobertura das bombas de combustíveis.

Era um risco para os passageiros e prejudicava o movimento do posto. Antes de tomarmos essa decisão foram feitos vários pedidos à prefeitura para a instalação de abrigos de passageiros, mas não fomos atendidos — contou o gerente Jerônimo Saldanha, de 42 anos.

As paradas, que ainda vão ganhar assento de madeira e coberturas laterais foram bancadas pelo estabelecimento, um investimento total foi de R$ 5 mil.

A cobradora Eliane Paiva Silva, de 51 anos, que esperava no local o ônibus para Jardim Bangu, aprovou a iniciativa, mas acha que esse papel era da prefeitura:

— Estamos desassistidos.

Em nota, a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) afirma que “não existe obrigatoriedade de que todos os pontos de ônibus tenham abrigo, além disso, a implantação depende de viabilidade técnica”. A SMTR afirma que estuda, com a Secretaria Especial de Concessões e Parcerias Público-Privadas, proposta de locais e condições para instalação.

Um contrato antigo, de 1999, mas ainda em vigor, com a Adshel e Cemusa, as duas empresas responsáveis pela instalação do mobiliário urbano no Rio, apontam a existência de 2.100 abrigos em toda o município. A quantidade corresponde a 30% dos cerca de 7 mil pontos de ônibus do Rio.

De acordo com o contrato de concessão, 430 abrigos ficam na Zona Sul; 560 na Norte; 850 na Oeste e 260 no Centro. Nos primeiros meses de 2016, 200 sofreram atos de vandalismo, gerando prejuízos que já chegam à casa dos R$ 127 mil, diz a prefeitura.

Confira a resposta da SMTR na íntegra:

“A cidade do Rio de Janeiro tem cerca de 7 mil pontos de parada de ônibus homologados, dos quais 2.100 contam com abrigos, de acordo com o contrato de concessão (430 na Zona Sul; 560 na Zona Norte; 850 na Zona Oeste; 260 no Centro). Destes, 200 sofreram atos de vandalismo apenas nos primeiros meses de 2016, gerando prejuízos que já chegam à casa dos R$ 127 mil.

A Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) esclarece que não existe obrigatoriedade de que todos os pontos de ônibus tenham abrigo, além disso, a implantação depende de viabilidade técnica. Para novos abrigos, são levados em consideração os aspectos urbanísticos, paisagísticos, viários, interferências nas redes existentes no subsolo e a legislação pertinente à exibição de publicidade. A SMTR e a Secretaria Especial de Concessões e Parcerias Público-Privadas (Secpar) estudam proposta de locais e condições para instalação.

Sobre o contrato firmado pela Prefeitura, a Secpar informa que não sofreu aditivos financeiros”.


Fonte: Extra