Crise ‘empobreceu’ a fórmula dos produtos lácteos do Brasil.
A pesquisadora Kennya Beatriz Siqueira, da Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora (MG), explica que as movimentações recentes da indústria dos produtos lácteos têm a ver com a crise financeira, a inflação e a escassez de matéria-prima no mercado.
Uma nova fórmula nos últimos meses, de acordo com especialistas e relatos dos próprios consumidores, houve um aumento na oferta de opções que substituem parte do leite por outros ingredientes, como o soro de leite, o amido, o açúcar, a gordura vegetal e os aditivos químicos, como conservantes e aromatizantes.
Algumas marcas, por exemplo, transformaram o creme de leite em “mistura de creme de leite”. Já o queijo ralado virou “mistura alimentícia com queijo ralado”. O doce de leite, por sua vez, foi substituído pelo “doce de soro de leite sabor doce de leite”. Em alguns mercados, até o leite tradicional compete nas gôndolas com novas bebidas lácteas.
Gato por lebre?
“A estratégia é trocar um alimento in natura por ingredientes mais baratos e com baixa densidade de nutrientes.“
De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), o leite longa vida acumula uma alta de 57% no ano.
Outros itens também registraram uma subida considerável. Apenas em julho, houve um aumento de 19% no leite condensado, 17% na manteiga, 16% no queijo e 14% no requeijão.
Prejuízos nutricionais e culinários
Além de uma possível confusão na hora da compra, o consumo constante desses produtos gera preocupação entre os especialistas.
“A substituição do leite por outros ingredientes significa que o produto vai ter menos proteínas e vitaminas, o que representa um prejuízo na alimentação”, analisa a nutricionista Laís Amaral, supervisora técnica do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Outro ponto que chama a atenção em alguns desses produtos é o acréscimo de açúcar nas formulações.
Vários desses alimentos lácteos “alternativos” têm uma embalagem muito similar à original, trazem no rótulo elementos que remetem ao leite — como vacas, pastos, tonéis e líquidos brancos — e são colocados nas mesmas prateleiras que os produtos tradicionais.
Para completar, nem sempre as novas opções são muito mais baratas — ou a diferença em relação aos itens convencionais é de apenas alguns centavos.
Segundo a Embrapa, cada brasileiro consome uma média de 166 litros de leite por ano — taxa que aumenta exponencialmente desde os anos 1990.
Que fique claro: a venda dessas opções está regulamentada nos órgãos competentes, como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) ou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e, a princípio, não fere nenhuma lei.
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