Até as 11h, 15 pessoas já tinham sido presas.
A Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, como o apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco-MP-RJ), realiza uma operação, na manhã desta quarta-feira (19), para cumprir 22 mandados de prisão preventiva expedidos pela Justiça. A Operação Soberano visa desarticular uma quadrilha que explora o transporte de vans na Ilha do Governador e detém ligações com o tráfico de drogas. Até as 11h, 15 pessoas já tinham sido presas e carros roubados foram recuperados.
Entre os 22 mandados de prisão preventiva, estão o do traficante Fernando Gomes Freitas, o Fernandinho Guarabu, o do ex-policial Antonio Eugênio de Souza Freitas, o Batoré, e o de Gilberto Coelho de Oliveira, o Gil, apontado como homem de confiança de Guarabu.
De acordo com as investigações, os criminosos arrecadaram cerca de R$ 27 milhões nos últimos três anos em extorsões feitas aos motoristas que atuam no transporte alternativo. Entre as práticas de terror adotadas para forçar o pagamento de taxas por semana por veículos, estão a utilização de armas pelos criminosos, ameaças de morte, incêndio e sequestro dos veículos para o interior da favela do Dendê. Na maioria das vezes, a coleta ocorria nos pontos finais. Ainda segundo a polícia, em alguns casos, cobradores eram colocados dentro das vans para recolhimento direto das taxas.
“Essa propina paga aos traficantes variava entre R$ 300 de Kombi e R$ 350 para os motoristas de van”, explicou o subsecretário de inteligência da Secretaria de Segurança, Flávio Galvão. O faturamento, segundo as investigações, chegava a R$ 700 mil mensais.
Ainda segundo a denúncia, Guarabu delegou ao ex-policial militar conhecido como Batoré a gerência do núcleo dedicado à extorsão semanal de motoristas de vans e kombis das 13 linhas que circulam internamente na região. Batoré foi expulso da Polícia Militar após condenado em 2005 pela venda de três armas de fogo à quadrilha liderada pelo traficante Fernandinho Guarabu.
O grupo liderado por Antonio Eugênio, o Batoré, segundo Galvão, era mais organizado. “A organização tinha respaldo, apoio logístico e causavam intimidação, ocasionando até mesmo no incêndio de uma kombi de um policial militar”, explicou Galvão.
O ex-policial Antônio Eugênio, segundo o Ministério Público, tinha um vida de luxo junto com a família inteira: mãe, filha e até a sogra.
“Haviam veículos blindados novos, registros de propriedade de imóvel em nome de presos, e isso evidencia uma obra de luxo. Isso até destoava da vizinhança. As buscas confirmaram o que foi relatado em juízo. Todos eram envolvidos com as extorsões, inclusive fazendo o controle de quem devia dinheiro aos traficantes”, explicou Carlos Laureano, promotor Gaeco.
Uma investigação da Subsecretaria de Inteligência da Seseg comprovou que Guarabu foi responsável pelo incêndio de uma Kombi em frente ao Ilha Plaza no dia 18 de agosto de 2014 como forma de intimidação. Outra frente do grupo era a exploração das linhas oriundas do Centro da cidade (Zumbi/Candelária e Bananal/Castelo), gerenciada por Carlos Alberto Cambraia Junior, o Metal, que morreu em uma troca de tiros em janeiro desse ano.
No período em que a investigação foi iniciada, em 2014, o transporte alternativo funcionava por meio de cooperativas de transporte usadas pelos criminosos para dissimularem as extorsões. A partir do decreto da Prefeitura do Rio que estabeleceu o Sistema de Transporte Público Local e a posterior licitação das linhas de transporte, foi possível melhorar o controle do sistema de transportes, com autorizações concedidas a cada motorista individualmente, independentemente de vinculação a qualquer cooperativa.
Ao longo de 2014 até outubro de 2015, o grupo de Batoré utilizava a Cooperativa Shalon Fiel como fachada para justificar a cobrança dos valores extorquidos dos motoristas, cerca de 500 cooperados. A continuidade da prática foi constatada mesmo após a dissolução da cooperativa, a partir de novembro daquele ano, após apreensão de diversos documentos pela Delegacia de Repressão ao Crime Organizado e Inquéritos Especiais (Draco/IE) em operação realizada àquela época.
A ação tem o apoio operacional da Polícia Civil. Os suspeitos vão responder por crimes que variam de tráfico e associação para o tráfico, à lavagem de dinheiro e extorsão. O Ministério Público pediu à Justiça o sequestro de bens e o bloqueio de contas dos 22 suspeitos.