Os primeiros atingidos com deslizamentos na orla são os donos de quiosque.
Nos últimos 10 anos, isso aconteceu umas sete vezes. Da última vez, as ondas chegaram nos prédios. Aí fizeram a obra emergencial a partir de outubro, terminou em abril e no início de junho já está tudo assim. Os colchões deveriam impedir que o mar chegasse à areia, mas já chegou até depois da mureta conta Piero Carbone, de 62 anos, que é síndico de um dos prédios residenciais da região.
O grande deslizamento mais recente aconteceu em outubro. Depois disso, a secretaria de Conservação e Meio Ambiente do Rio de Janeiro iniciou as obras que refizeram o calçadão afundado com uma estrutura de contenção das ondas. O investimento foi de R$ 14,5 milhões. O órgão alega que a obra foi definitiva, mas é preciso ainda uma outra ação, preventiva, que evitaria os efeitos da ressaca, dissipando ainda mais a força das ondas antes de chegar à área construída.
Para isso, ainda em outubro de 2017, a pasta afirmou ter começado a estudar a implementação de um projeto apresentado pela Coppe, pela primeira vez, no ano 2000. A solução definitiva seria fazer um quebra-mar e repôr cerca de 600 mil metros cúbicos de areia da praia. O custo total estimado era de R$ 40 milhões a R$ 50 milhões, mas seria preciso ainda atualizar a série histórica sobre o comportamento das ondas na praia. A contratação da Coppe para revalidação dos dados, no entanto, ainda não foi feita. Paulo César Rosman, professor de Engenharia Costeira da Coppe/UFRJ, esclarece que os deslizamentos são normais:
Ali foi feito feita uma obra de contenção. Toda essa obra é sabidamente vulnerável. Esse pequeno deslizamento que ocorreu na extremidade oeste é então normal. Por isso, é necessário sempre fazer inspeção após eventos de ressaca para repassar os danos. A estrutura desempenhou seu papel afirma o engenheiro, continuando sobre o buraco aberto na areia depois do muro. Houve fulga de areia. É só botar uma barreira e encher novamente. Mas, é claro, isso mostra o que já era evidente: é necessária a obra definitiva, que repõe milhares de metros cúbicos de areia da praia. Pois quem oferece proteção é a praia e não os muros.
Ele ressalta que é compreensível que todos tenham ficado “impressionados” com a ocorrência, após o grave acidente do ano passado.
A Associação de Moradores do Recreio faz coro à cobrança da obra definitiva.
A gente está pedindo desde o início a obra definitiva, pois essa aqui era uma obra emergencial, uma etapa anterior e obrigatória. Sem as outras medidas, isso vai cair novamente. A obra definitiva engloba dois guias correntes, que são espécies de moles para barrar a força das ondas, o engordamento da areia da praia que por 50 anos era vendida, e talvez até recifes articipais. Algumas pessoas pensam que isso é para salvar meia dúzia de prédios. Mas, na verdade, é a ponta do iceberg de um problema muito maior. Pois se você assorear a boca do canal de Sernambetida, que é formado por quatro rios, entre os quais o Rio Morto, vai inundar toda a região do Recreio e das Vargens — afirma Simone Kopezynki, presidente da Associação dos Moradores do Recreio (Amor).
Para o oceanógrafo David Zee, vice-presidente da Câmara Comunitária da Barra, as intervenções feitas pela prefeitura foram um mero paliativo. E era até previsível que a força das ondas derrubasse a contenção a curto prazo. Segundo ele, outras intervenções eram necessárias enquanto a prefeitura não tirasse do papel o projeto de criar um mole de pedra no Canal da Sernambetiba, de modo a estabilizar a praia.
A prefeitura deveria ter engordado a praia repondo areia que foi retirada por ressacas anteriores. E feito um obstáculo em pedras próximo a arrebentação para evitar que as ondas atingissem a mureta com tanta força. Seria um paliativo bem mais duradouro até a obra definitiva. Inclusive defendi isso em audiências públicas na Câmara do Rio onde debatemos os problemas da praia da Macumba disse Zee.
Procurada, a Secretaria municipal de Conservação e Meio Ambiente declarou que “que técnicos vistoriaram ontem (16/06) o calçadão da Praia da Macumba e afastam qualquer risco de colapso da estrutura refeita, que segue íntegra. O projeto implantou ao longo do muro de contenção sacos de areia com o objetivo de dissipar a energia das ondas, sendo mais um anteparo antes do mar chegar à ciclovia. Portanto, esses sacos devem sim se romper quando há ressacas – pois essa é a função deles. A fiscalização da prefeitura já havia pedido à construtora para ajustar o espaçamento entre duas estacas adjacentes verificado em um ponto da orla (próximo ao condomínio amarelo), o que será feito pela garantia de obra, sem ônus ao município, a partir dessa semana. A contratação do estudo para a obra preventiva que visa amenizar o impacto das ondas no local está em fase de elaboração do termo de referência para que a Prefeitura possa contratar a Coppe-RJ para revalidar os estudos e, posteriormente, iniciar as obras”.
Prejuízo há nove meses
Os primeiros atingidos com deslizamentos na orla são os donos de quiosque. Em outubro do ano passado, o “Point dos Amigos” desmoronou aos olhos de Carlos Roberto Baptista, de 59 anos. Dono do estabelecimento, ele lembra o dia e hora exata em que tudo aconteceu com sua única fonte de renda própria. Nove meses depois, ainda sente o prejuízo.
Foi no dia 13 de outubro, uma sexta-feira 13, às 13h30. Mas a areia estava correndo por baixo há quatro meses. Ficamos avisando e não tomavam providências. Pedimos para rebocar o meu quiosque do local antes mesmo de acontecer e disseram que não tinha como lembra ele, reclamando também da ausência de atitudes do poder público mesmo depois do fato: O senhor prefeito falou que ia me dar uma solução e estou há nove meses sem trabalhar.
A Secretaria municipal de Fazenda não se manifestou sobre a reclamação até a publicação da matéria.