‘Enquanto houver batuque no coração, enquanto houver quem sonhe, o samba resistirá.’
“Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar…” — dos compositores Edson Conceição e Aloísio Silva, versos eternizados por Alcione ecoam com força nas ruas de Magé, na Baixada Fluminense. Em um cenário de resistência cultural, duas agremiações históricas se firmam como símbolo da identidade local e da luta por um Carnaval que, embora adormecido, não foi esquecido: o Grêmio Recreativo Escola de Samba Flor de Magé e a União do Canal.
Agnaldo dos Santos, o “Bino” e Flor de Magé homenageada na Sapucaí
Reconhecida oficialmente como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, a Flor de Magé é mais do que uma escola de samba. É um monumento vivo da cultura popular, símbolo da força da comunidade e da criatividade que brota das ruas. Fundada há décadas, a agremiação teve no carnavalesco Agnaldo dos Santos, o “Bino”, um de seus maiores entusiastas. Mesmo após sua morte em 2023, o legado de Bino segue vivo nas mãos do irmão Élcio José dos Santos, o “Preguinho”, que agora assume o desafio de manter viva a alma da escola.
Isaías da Silva Braga, o “Zico”
A outra joia da cidade é a União do Canal, fundada em 1930, considerada uma das agremiações mais antigas da região. Embora tenha enfrentado dificuldades ao longo dos anos, a escola resiste como símbolo de memória e identidade da população mageense.
O ex-vereador e ex-presidente da Câmara Municipal, Isaías da Silva Braga, o “Zico”, é um dos principais articuladores dessa retomada do Carnaval na cidade. Ele acredita que o resgate das tradições carnavalescas não é apenas uma questão de entretenimento, mas sim de inclusão social, geração de renda e valorização da cultura local.
Mais que festa, uma missão social
O Carnaval em Magé sempre foi mais que desfiles e alegorias. É um motor social que movimenta a economia local e oferece oportunidades para costureiras, carpinteiros, músicos, coreógrafos e jovens talentos. Nas quadras das escolas, nascem laços comunitários, projetos educativos e sonhos de uma juventude que muitas vezes encontra no samba seu primeiro palco.
“O Carnaval é a maior expressão popular que temos. É ali que o povo se vê representado, é ali que o menino do morro vira rei, que a menina vira rainha, que a gente esquece a dureza da vida por algumas horas e brilha”, afirma Preguinho, emocionado ao lembrar dos tempos áureos da Flor de Magé.
Um futuro possível
Apesar dos desafios logísticos e da falta de recursos, a chama do samba segue acesa. Os líderes das escolas se articulam com o poder público, empresas locais e instituições culturais para viabilizar a retomada dos desfiles de rua e garantir que as futuras gerações tenham orgulho de dizer que Magé tem samba no pé e história no coração.
Zico Braga reforça: “Se a gente deixar morrer o Carnaval, a gente está deixando morrer parte da nossa história. Mas enquanto houver um tambor tocando, um pandeiro vibrando e uma criança sonhando, o samba não vai acabar”.
Samba é cultura, é educação, é vida
A história do samba em Magé não se escreve com poucas mãos. Nomes como os de Eric Fanoel, Vitinho Cardoso, Itamar Bernardo, Lorinho Torres, Alfredo Brandão e tantos outros, muitas vezes longe dos holofotes, mas fundamentais nessa construção coletiva são parte essencial dessa jornada. Artistas, compositores, ritmistas, dirigentes e operários do Carnaval que, por décadas, se dedicaram à preservação dessa tradição.
Pagode com Feijoada é um evento que mobiliza os simpatizantes da retomada das escolas em Magé e conta com sua presença para reerguer a quadra da escola e recolocar a tradição do samba nas ruas da cidade.