Na Alemanha, por exemplo, duas pessoas em 1 milhão são baleadas fatalmente por outra pessoa por ano.
Duas pessoas que faziam camping no vale de Yosemite, na Califórnia, em agosto deste ano, estavam dormindo quando um galho de árvore quebrou e caiu sobre sua barraca, matando-as. “Não sabemos o que levou o galho a cair”, disse a representante do parque, Jodi Bailey. “Parece que foi um acidente esdrúxulo, totalmente inesperado.”
Ela tinha razão: ser atingido por um objeto em queda é raríssimo. Em média, 680 americanos morrem a cada ano dessa maneira, ou seja, duas pessoas em cada milhão.
Em outros países desenvolvidos, existe outra causa de morte que é tão rara quanto essa: homicídio por armas de fogo.
Na Alemanha, por exemplo, duas pessoas em 1 milhão são baleadas fatalmente por outra pessoa por ano, fato que faz esse tipo de incidente ser tão incomum na Alemanha quanto foram as mortes dos mochileiros em Yosemite. Na Polônia e Inglaterra, apenas uma em cada 1 milhão de pessoas morrem a cada ano em homicídios cometidos com armas de fogo. No Japão, onde esse tipo de crime é ainda mais raro, a probabilidade de uma pessoa morrer desse modo é de uma em 10 milhões.
Nos EUA, o índice de mortes em homicídios cometidos com armas de fogo é de 31 por milhão de pessoas. Os homicídios incluem as vítimas de chacinas, como as de 2 de dezembro em San Bernardino, Califórnia, e 27 de novembro em Colorado Springs. E, é claro, também incluem um tipo de crime que é muitíssimo mais comum no país: os assassinatos individuais.
Essas comparações podem ajudar a deixar clara a excepcionalidade dos EUA. Na América, onde o direito de andar armado é valorizado por boa parte da população, os homicídios cometidos com armas de fogo representam uma preocupação importante de saúde pública. No caso dos homens na faixa dos 15 aos 29 anos, são a terceira maior causa de morte, depois de acidentes e suicídios.
Em outros países ricos, os homicídios com armas de fogo são incomuns. Os ataques recentes em Paris deixaram 130 mortos, quase o mesmo número de pessoas que morrem baleadas em toda a França em um ano qualquer. Mas, mesmo que a França tivesse todos os meses do ano um massacre com tantos mortos, seu índice anual de homicídios por armas de fogo ainda seria mais baixo que o dos EUA.
A tabela que acompanha este artigo mostra os índices de mortalidade decorrentes de homicídios com armas de fogo em vários países, lado a lado com uma causa de morte de probabilidade correspondente nos EUA.
As cifras relativas a homicídios com armas de fogo vêm da Small Arms Survey, entidade suíça sem fins lucrativos filiada ao Instituto Superior de Estudos Internacionais e do Desenvolvimento; elas representam os índices médios de homicídios com armas de fogo nesses países entre 2007 e 2012. O índice dos EUA vem dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças e é relativo aos mesmos anos. Nos concentramos sobre os índices de homicídios com armas de fogo; o índice total de mortes por armas de fogo é substancialmente mais alto, porque os suicídios compõem a maioria dessas mortes nos EUA e sua incidência também é mais alta que as de outros países desenvolvidos.
A intenção não é que a tabela faça pouco caso de causas de morte raras. Nós as mostramos para promover uma reflexão sobre as diferenças entre os índices de mortes por armas de fogo.
O índice americano de violência com armas de fogo não é o mais alto do mundo. Em partes da América Central, África e Oriente Médio, esse tipo de violência é ainda mais comum.
No México, 122 pessoas por milhão morrem em homicídios cometidos com armas de fogo. Mas os países com esses níveis de violência são diferentes dos EUA de muitas maneiras, incluindo a educação e a expectativa de vida. Os EUA constituem uma exceção entre os países democráticos desenvolvidos.