Site icon Rede TV Mais

Megaoperações do Exército tiveram média de uma arma apreendida por ação, diz Observatório da Intervenção

O documento, divulgado, mostra também que elas mobilizaram 172 mil agentes e tiveram 81 mortos.

Um levantamento feito pelo Observatório da Intervenção da Universidade Cândido Mendes mostra que as megaoperações do Exército em comunidades não estão surtindo o efeito, no que diz respeito à apreensão de armas. De acordo com o relatório do entidade sobre os seis meses de intervenção federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro, um total de 372 dessas operações resultou na apreensão de 373 armas. Ou seja, a média de uma arma recolhida por operação. O documento, divulgado, mostra também que elas mobilizaram 172 mil agentes e tiveram 81 mortos.

PUBLICIDADE

 

Segundo a coordenadora do Observatório da Intervenção, Silvia Ramos, os dados mostram que as grandes ações não estão tendo o resultado esperado. De acordo com ela, o próprio Observatório se surpreendeu com os resultados ruins.

O que concluímos é que estas operações de guerra não são adequadas. Quando o objetivo de uma operação é prender criminosos e apreender armas, é necessária uma ação de Inteligência. Nessas megaoperações com forças do Exército, quando as tropas estão chegando ao bairro, todo mundo no morro já sabe afirma ela. O Exército alega que essas operações faraônicas impedem que os criminosos atirem de volta, o que é verdade, mas também não prendem criminosos nem apreendem armas.

“O crescimento do número de operações espetaculares, que empregam milhares de agentes para apreender poucas armas e raramente desarticular quadrilhas, é a grande marca da segurança no Rio nos últimos meses”, diz o texto do relatório.

O documento elaborado pelo Observatório contém ainda uma análise crítica de ações da intervenção, como a Operação Dínamo, de combate ao roubo de cargas. Silvia Ramos concorda que a ação do Exército tem sido efetiva para diminuir os índices no estado, mas aponta que já está havendo uma migração desse tipo de crime para regiões mais tranquilas.

O relatório mostra que o número de roubo de cargas na área do 35º BPM (Itaboraí) cresceu exponencialmente desde o início da intervenção. De acordo com os dados do Observatório, que utiliza os números do Instituto de Segurança Pública (ISP) nos períodos de fevereiro a junho, foram 200 roubos de carga na área do 35º BPM um recorde histórico desde 2003. No mesmo período do ano anterior, foram 55 casos (a média de 2003 a 2017 foi de 33,5 roubos de carga para este período).

O Exército está colocando muitas tropas na região da Pavuna, e realmente conseguiu sufocar os roubos de carga neste local. Mas isso não é sustentável, são R$ 500 mil por operação deste tipo. Enquanto isso, as quadrilhas continuam funcionando. Este aumento em outras áreas é um sinal vermelho, que espero que esteja sendo visto pelas forças de intervenção avalia Silvia.

O Observatório publicou junto com o relatório sobre a intervenção um documento contendo depoimento de intelectuais, artistas, ativistas, religiosos e especialistas em segurança pública sobre a intervenção. Entre eles, estão personalidades como Nísia Trindade Lima, presidente da Fiocruz; e João Paulo Charleaux, diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Nossa análise da intervenção é marcada criticamente. Ficamos preocupados com o mecanismo da intervenção federal. Então estamos monitorando politicamente. Havia uma parte da população com muita esperança depositada na intervenção. Então decidimos abrir para ouvir vozes de pessoas que não são da nossa área.

Entre as personalidades ouvidas estão vozes críticas à intervenção, como a da atriz Fernanda Torres. Ela afirma que “Quando a intervenção veio, tive a sensação de que os próprios militares não a queriam. Eles foram usados por uma agenda positiva do Temer, o que acabou colocando-os em uma fogueira de improviso complicada. Não condeno os militares. Eles foram usados como massa de manobra.”

Outras vozes apoiam o trabalho do interventor. “Desde o início, a Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) foi favorável à intervenção. A ACRJ espera que os recursos que estão sendo alocados no Rio de Janeiro sejam utilizados, o mais rápido possível, em benefício da população, e que a intervenção deixe um legado de gestão para o próximo Governador e Presidente da República”, afirmou a presidente da ACRJ, Angela Costa.

A reportagem entrou em contato com o Gabinete de Intervenção para que comentasse o relatório, mas ainda não obteve resposta.

Fonte: Jornal Extra