LUCÉLIA SANTOS FALA DE VIDA LONGE DO GLAMOUR E PLANOS DE FAZER 180KM DE TRILHA

Atriz estreia peça “Vozes da floresta: Chico Mendes vive”, reflete sobre questões climáticas .

Tudo bem que o Rio de Janeiro já está acostumado a altas temperaturas, mas 40°C em pleno inverno, como a última quinta-feira, dia 24, é difícil de aguentar. Uma massa de ar seco paira por todo o país, mas não é de hoje que há alertas da Organização Meteorológica Mundial (OMM) para nos atentarmos às mudanças climáticas. A atriz Lucélia Santos, que está em cartaz com a montagem “Vozes da floresta: Chico Mendes vive”, entre hoje e domingo, dia 27, no Teatro Municipal Ipanema, já bate nessa tecla há anos.

Está um calor fora do lugar! E tudo muito ressecado. A geração mais jovem começou a descobrir agora que o clima é um grande problema para a sobrevivência humana. Mas nós estamos falando disso há quatro décadas. O equilíbrio ambiental depende de nós, depende da floresta em pé. Parece uma conversa batida, mas há muito trabalho pela frente  destaca a atriz, de 66 anos.

Lucélia guardou um áudio de Chico Mendes, seringueiro ativista morto em 1988, por 34 anos. Ela tinha o entrevistado meses antes de ele ser assassinado, no auge do conflito com ruralistas. A voz do sindicalista virou narração da peça que o homenageia.

Foi durante a pandemia que encontrei essas fitas. O governo inescrupuloso de Bolsonaro, que ignorava o meio ambiente e queria desmatar tudo, me motivou. A gente fala de Chico Mendes e mesmo passados 30 anos, as pessoas continuam sendo assassinadas. Termino a peça com o inventário de mais de 300 nomes. Mexe muito comigo revirar esse material.

Para além dessa situação específica, a paulista de Santo André não tem o hábito de rever o passado ou relembrar sucessos que a consagram nesses 50 anos de carreira recém-completados.

Eu vivo o presente, que é a somatória de tudo que passei. Tenho uma relação muito forte com a meditação, que é pra gente se colocar no hoje e não como a sociedade nos solicita. Senão, fico numa ansiedade… Já não aguento tantos estímulos. Tento manter minha mente o mais tranquila possível conta a veterana, resumindo: Não vou levar minha biografia na hora da morte. Sou budista. Na minha religião, a gente contempla a morte, e isso nos faz celebrar a vida.


 “Não vou levar minha biografia na hora da morte. Sou budista. Na minha religião, a gente contempla a morte, e isso nos faz celebrar a vida”
 
A simplicidade de focar no agora faz a atriz viver situações bem gente como a gente. Recentemente, ela viajou do Rio para São Paulo de ônibus, em linha executiva, reclamando do preço das passagens aéreas “caríssimas”.

 Não fico fazendo pose. Não sou um fenômeno midiático das redes sociais, não vivo o endeusamento dos artistas de Hollywood — simplifica ela, que continua: — Também não sou da turma do rosto cheio de retoques. Talvez isso me afaste desse mundo de glamour. Mas eu vivo de realidade. E consegui encontrar pessoas que combinam com meu jeito de viver. Gosto de fazer trilha, ficar na natureza.

É com essa turma que a artista pretende concluir a trilha Transcarioca, que percorre toda a cidade do Rio, com 180 km de extensão.

Ainda não consegui colocar em prática. Já fiz vários trechos dela, mas teve um que eu me perdi três vezes, porque estava mal demarcada. Com a turma, tentamos fazer o segundo trecho, que começa em Grumari, mas sempre chove. Enquanto isso, vou melhorando meu condicionamento físico. Me testo subindo a Pedra da Gávea, que é minha paixão. Vou persistir até conseguir.

“Não sou da turma do rosto cheio de retoques. Talvez isso me afaste desse mundo de glamour.”

Viver sem ostentar não significa que ela, que foi sucesso mundial protagonizando “Escrava Isaura”, em 1976, tenha ficado pobre, como algumas pessoas chegaram a questionar ao vê-la andando de ônibus.

Sabe quanto estava a passagem? R$ 2,7 mil. Tem que ser burro para pagar ou fumar nota de R$ 100. Eu tenho amor pelo meu dinheiro. Sou rica nas minhas propostas, como uma atriz normal, vivo do meu trabalho e de forma independente. Quando sobra, adoro investir. Mas odeio o mercado financeiro (risos). A diferença é que eu não sou rica como um ator que ganha um salário fixo todo mês.

Um bom contrato, aliás, é um desejo que ela não nega:

Trabalho muito produzindo teatro, viajando com minha equipe. Remontar um espetáculo diariamente é árduo. Mas se surgir um bom convite, com um bom contrato, claro que quero. Eu adoro fazer novela. Para mim, é quase estar de férias.

Lucélia fez escola, inclusive, em casa. O filho, Pedro Henrique Neschling, de 41 anos (fruto da relação com o maestro John Neschling), também seguiu a carreira artística e hoje é roteirista. Mas, por enquanto, eles não têm projetos juntos.

Eu adoraria fazer um projeto com o Pedro. Mas não fico toda hora falando com ele.
Às vezes, quando tenho uma ideia ou outra, nos falamos. Somos muito parecidos e Pedro é bem reservado como eu.


 

 

 

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