Regiões onde faltam policiamento, registram casos violência.
Durante dois meses, a equipe de reportagem percorreu a Avenida Brasil, as Linhas Vermelha e Amarela, a Avenida Dom Hélder Câmara, a Avenida Pastor Martin Luther King Junior e a Estrada Adhemar Bebiano, sempre de madrugada, e encontraram muitos perigos.
Todos os dias, milhares de pessoas passam pelas vias expressas e avenidas que foram projetadas para facilitar a ida e vinda entre diferentes regiões da cidade, mas para quem faz os trajetos nos horários de pico, um dos maiores problemas é o engarrafamento.
Quem pega o volante quando a maioria dos moradores já está em casa, tem o privilégio de não enfrentar o trânsito, mas também tem um preço: o medo.
“A gente fica, praticamente, à mercê de tudo, a gente fica vulnerável a tudo. Eu não vejo um policiamento nessas vias”, disse um motorista que frequenta as vias expressas durante a madrugada.
Jorge sabe exatamente o que é isso. Ele faz trabalhos como pintos, muitos deles são à noite, em fábricas e depósitos na Avenida Brasil. De vez em quando, Jorge precisa passar a pé pela região e já foi assaltado duas vezes.
“A Avenida Brasil eu tenho que passar, eu sinto medo. Está ermo, né? Está abandonado em matéria de segurança. Então, o que acontece? A gente fica exposto”, disse Jorge.
A Avenida Brasil, inaugurada em 1946, liga Santa Cruz, na Zona Oeste, ao Santo Cristo, na Zona Portuária, passando por 27 bairros. No caminho, estão áreas de risco, pontos de consumo de drogas e, nos últimos meses, muitas obras.
A qualidade do asfalto é precária em vários trechos. São 58 quilômetros de avenida e, e até achar um carro de polícia, é preciso rodar muito. A equipe de reportagem encontrou poucas viaturas nas viagens que a gente fez.
“Todos os dias, eu estou trabalhando neste horário e a coisa mais rara é ver policiamento, Principalmente, nos lugares mais necessários”, disse um motorista.
“A maioria que trabalha à noite se sente inseguro. Não tem segurança nenhuma durante a noite. Tudo que você possa imaginar está acontecendo na madrugada e o policiamento, zero”, disse outro homem que também precisa passar pela via de madrugada.
Locais de violência
Onde falta polícia, sobra violência. No dia 7 de maio, três pessoas foram atingidas por balas perdidas depois que cinco bandidos furaram uma blitz da Polícia Militar. Eles estavam em um táxi e passaram atirando. Os policiais perseguiram o carro e, ainda durante um confronto, um criminoso morreu e os outros foram presos.
No início de abril, teve mais tiroteio e perseguição. Dois criminosos morreram, um ficou ferido e outro foi preso. No porta-malas do carro, estava uma mulher sequestrada, que também foi baleada.
No fim de março, em Barros Filho, três carros foram atingidos durante uma troca de tiros entre policiais e um traficante em fuga. O criminoso morreu.
Só em fevereiro, foram quatro perseguições policiais. Um motociclista e um motorista que estavam passando pelo local na hora dos confrontos acabaram sendo atingidos.
A falta de iluminação é um dos problemas na Avenida Brasil. Em alguns pontos, a única luz disponível é a usada nas obras da via. Perto do Trevo das Margaridas não há nenhuma iluminação.
Na Avenida Pastor Martin Luther King Junior, que vai da Pavuna a Del Castilho, na Zona Norte, no município do Rio, são quase 14 quilômetros.
No trecho do bairro Engenho da Rainha, a equipe só encontrou dois carros de polícia perto de uma passarela de pedestres. Perto do local, em dezembro de 2015, um homem foi assassinado durante uma tentativa de assalto à noite. Raphael Gonçalvez Nogueira ia comemorar o aniversário de 28 anos com a família, quando foi baleado por criminosos.
Passar por essas vias durante a madrugada, que parece ter tranquilidade, na verdade, é um perigo. Ramón descobriu isso da pior maneira possível.
“Eles bateram no meu carro para poder parar o carro, só que eu não parei. Mesmo que você esteja correndo perigo, você nunca sabe. Você vai ficar com medo de parar, aí eu continuei. Reduzi um pouquinho, mas continuei, só que eles pararam o carro na minha frente e jogaram na minha frente. Eles viram que eu não ia parar e jogaram o carro na minha frente. Aí desceram três. Os três de pistola em cima de mim, tinha mais um motorista na frente e mandou eu sair do carro. Um queria até me matar. Me confundiu com policial”, disse a vítima.
A Estrada Adhemar Bebiano é outra que tem pouquíssimo movimento. Ela vai de Del Castilho a Tomás Coelho, na Zona Norte. No trajeto de pouco mais de cinco quilômetros, a equipe não encontrou nenhum policial . Foi nesta estrada que, em setembro, um policial militar acabou baleado quando tentava prender bandidos perto da comunidade da galinha, no Conjunto de Favelas do Alemão.
Fonte: G1