Novo presidente chega com perfil discreto e expectativa de apaziguar tensões ao lado do congresso e executivo.
O ministro Edson Fachin tomou posse nesta segunda-feira (29) como novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) para o biênio 2025-2027. A eleição, realizada de forma simbólica no mês passado, confirmou o critério de antiguidade previsto no regimento interno da Corte: o tribunal deve ser comandado pelo ministro mais antigo que ainda não presidiu a instituição.
Indicado em 2015 pela então presidente Dilma Rousseff, Fachin é natural de Rondinha (RS) e construiu sua carreira jurídica no Paraná, onde se formou em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e foi procurador do Estado. Doutor em Direito pela PUC-SP, destacou-se no meio jurídico pela defesa de causas sociais, como a reforma agrária, os direitos indígenas e de trabalhadores.
Do protagonismo da Lava Jato à anulação das condenações de Lula
No STF, Fachin ganhou notoriedade ao assumir a relatoria da Operação Lava Jato, em 2017, após a morte do ministro Teori Zavascki. Tornou-se uma das figuras mais centrais do combate à corrupção, mas também foi alvo de duras críticas ao anular, em 2021, as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, decisão que devolveu ao petista os direitos políticos.
Além da Lava Jato, Fachin foi relator de temas de grande impacto social e político, como o marco temporal das terras indígenas e a ADPF das Favelas, ação que resultou em medidas para reduzir a letalidade policial em operações no Rio de Janeiro.
Sombra de Alexandre de Moraes e contraponto a Barroso
A chegada de Fachin ao comando do Supremo ocorre em um momento de forte protagonismo do colega Alexandre de Moraes, relator das ações penais ligadas à trama golpista de 8 de janeiro e ministro que se tornou símbolo de enfrentamento a ataques contra a democracia. Moraes, formado pela USP e ex-ministro da Justiça, é considerado combativo e direto.
Fachin, por sua vez, construiu imagem oposta: avesso a entrevistas, discreto em aparições públicas e com estilo mais reservado, especialmente em comparação ao antecessor Luís Roberto Barroso, conhecido pelo perfil midiático e pelos discursos contundentes.
Expectativa de pacificação com Congresso e Executivo
Ao assumir a presidência do STF, Fachin carrega a expectativa de apaziguar as tensões entre o Judiciário e as demais instituições, sobretudo o Congresso Nacional e o Executivo. Em meio à crise institucional que marcou os últimos anos, a nova liderança pode representar uma busca por estabilidade, diálogo e menos polarização.
Analistas apontam que o desafio de Fachin será equilibrar sua conhecida atuação em pautas de direitos humanos com a necessidade de reforçar a imagem do Supremo como guardião da Constituição, mas sem exacerbar choques com outros Poderes.
A trajetória marcada pela defesa de causas sociais e o perfil discreto podem favorecer uma presidência voltada à harmonia institucional, um fator estratégico em um país que ainda tenta superar divisões políticas e sociais profundas.