Site icon Rede TV Mais

Etanol irregular faz estado do Rio perder mais de R$ 5 milhões por dia em arrecadação

São cerca de 200 caminhões-tanque que entram por dia no estado com combustível sem nota fiscal.

Números impressionantes do setor de combustíveis afetam as já combalidas finanças do estado do Rio. Informações não oficiais de agentes rodoviários apontam que de 150 a 200 caminhões-tanque, a maioria com etanol, atravessam as divisas fluminenses todos os dias sem declararem o produto. Desta forma, o estado deixaria de arrecadar R$ 5 milhões por dia e em torno de R$ 150 milhões por mês.

Publicidade

O cálculo é baseado no preço médio cobrado pelo litro de etanol quando sai da usina (R$ 1,90) e levando-se em consideração duas centenas de carretas com sua capacidade máxima de 45 mil litros. Seriam 9 milhões de litros de álcool que abastecem os postos do estado sem pagar os 32% de ICMS cobrados em cima do combustível.

Tais estimativas são feitas a partir da rede de informantes de policiais rodoviários e com dados colhidos nas próprias ocorrências. O esquema impressiona pelo tamanho e ainda envolveria depósitos de caminhões-tanque – principalmente na Baixada Fluminense – e agentes fiscais que atuam em estradas federais e estaduais. Há indícios de uma tabela da corrupção.

 As carretas geralmente vêm de São Paulo e Minas Gerais. Algumas usam estradas de terra ou mesmo fazendas, mas a maioria segue mesmo pelas rodovias federais que cruzam o estado. “Os criminosos pagam suborno, mesmo nas BRs. Em média, R$ 0,05 por litro que entra no Rio de Janeiro”, revela um policial que pediu anonimato.

Um balanço da Polícia Rodoviária estadual (BPRv) relativo a ocorrências de crimes contra a ordem tributária nas estradas estaduais (as RJs). De 16 de janeiro a 31 de março, mais de 30% dos registros envolviam combustíveis. Só nesses casos, foram mais de 670 mil litros sem pagar imposto.

A reportagem solicitou às assessorias de imprensa Polícia Rodoviária Federal (PRF) e à Polícia Militar (PMERJ) – responsável pelo BPRv – dados sobre a quantidade de caminhões-tanque abordados e apreendidos nas estradas que cruzam o estado. Até o fechamento desta edição não houve retorno.

A Secretaria de Fazenda (Sefaz-RJ) também foi procurada para comentar. Em nota enviada por e-mail, a pasta alega que não há separação de dados sobre perdas fiscais por atividade econômica e afirma que “desde o início da nova gestão, a Sefaz-RJ vem implementando uma série de ações de combate à sonegação fiscal para o aumento da arrecadação”.

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) também foi questionada sobre mecanismos para controlar e monitorar estoques, volumes e vendas das usinas para combater tais crimes. Em comunicado, a ANP garante que “controla dados de compra e venda por meio da declaração das usinas” e que “apura as denúncias de entrada ilegal de produtos nos postos revendedores em suas fiscalizações e também em forças-tarefas com a participação de outros órgãos”.

Ações dos caminhões aos postos

As ações contra fraudes fiscais no setor de combustíveis também se estendem aos postos. Na última quinta-feira (4) a reportagem do jornal O DIA acompanhou operação Bomba Limpa da Barreira Fiscal em conjunto com a ANP, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e Procon-RJ em estabelecimentos de São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Um tanque clandestino foi descoberto pelos agentes e lacrado.

O reservatório não tinha autorização da ANP e foi encontrado no Auto Posto Zé Colmeia com aproximadamente 12 mil litros de etanol hidratado. A nota fiscal referente ao produto não foi apresentada pela loja e a procedência do combustível também não foi informada.

Caso o posto não comprove a origem do produto através de documento fiscal, o combustível será apreendido definitivamente e será aberto processo administrativo. “Em regra, um tanque sem utilização é preenchido com água e não com combustível. Este posto tem um histórico de infrações na agência. Já encontramos irregularidades na qualidade do combustível em outras fiscalizações”, explica o técnico da ANP, Márcio Ferreira.

Fato que chamou a atenção na operação é que os demais tanques homologados no mesmo posto continham etanol da Paranapanema, distribuidora que faz parte do Grupo Canabrava. Nos últimos meses diversas carretas com etanol e ligadas à empresa foram apreendidas por agentes do BPRv por estarem sem nota fiscal ou com a documentação irregular.

A usina Canabrava, com sede em Campos dos Goytacazes, é também suspeita de crimes contra a ordem tributária. A companhia recebe incentivos de ICMS por parte do governo do estado e paga 2% (em vez de 32%) sobre o etanol que deveria produzir no norte fluminense, mas é suspeita de trazer o álcool de outros estados. Além da Paranapanema, a usina também é dona de outra distribuidora, a Minuano.

Fonte: Jornal O Dia