Síria e Rússia intensificaram bombardeios em bairros rebeldes da cidade.
Imagens feitas por um drone e divulgadas pela agência Reuters, nesta terça-feira (27), mostram a destruição em um dos bairros controlados pelos rebeldes em Aleppo, cidade síria que foi alvo de intensos bombardeios nos últimos dias.
Segundo a agência a AFP, alimentos e medicamentos são cada vez mais escassos nos bairros rebeldes de Aleppo, submetidos a intensos bombardeios do regime sírio e da Rússia, acusados de “crimes de guerra” pelas potências ocidentais.
“Nos últimos anos suportamos os bombardeios e não abandonamos Aleppo. Mas agora não há pão, água, nada nos mercados. A situação piora dia a dia”, afirmou na segunda-feira Hassan Yasin, de 40 anos.
Este pai de quatro filhos teve que abandonar com a família o apartamento no terceiro andar de um prédio e buscar refúgio em uma barraca no térreo, para evitar os ataques contra o bairro de Ferdus.
Na segunda-feira, a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) informou que o balanço de mortos subiu a 140 – maioria civis – desde quinta-feira à noite, quando o exército sírio anunciou uma ofensiva mais intensa para reconquistar a totalidade de Aleppo.
Os aviões russos e do regime realizaram “dezenas de ataques” a partir da meia-noite no leste da cidade controlada pelos rebeldes, segundo o OSDH. Ao amanhecer, os bombardeios se intensificaram e provocaram incêndios.
‘Esgotados’
Os quase 250 mil habitantes dos bairros rebeldes de Aleppo não recebem ajuda externa há dois meses. Desde os bombardeios de sábado, a população não tem água, de acordo com o Unicef.
“Os hospitais se encontram sob forte pressão com o número elevado de feridos e a falta de sangue disponível, além da ausência de cirurgiões especializados em transfusões”, afirmou uma fonte médica à AFP.
“Por isto, as pessoas gravemente feridas são imediatamente amputadas”, completou a fonte.
“Os pacientes são colocados no chão e as equipes médicas trabalham no limite da resistência humana” contou o médico Abu Rajab, da ONG Save the Children, destacando que quase metade dos pacientes nos hospitais são crianças.
Tensão entre Rússia e Ocidente
Em Nova York, as potências ocidentais criticaram a Rússia no domingo em uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, com acusações diretas a respeito da ofensiva contra Aleppo.
“O que a Rússia apoia e faz não é luta antiterrorista, é barbárie”, disse a embaixadora americana Samantha Power.
O Kremlin respondeu na segunda-feira e criticou “o tom e a retórica inadmissíveis” dos Estados Unidos e do Reino Unido.
“Consideramos o tom e a retórica dos representantes do Reino Unido e Estados Unidos inadmissíveis e, inclusive, suscetíveis de prejudicar nossas relações”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
O embaixador britânico Matthew Rycroft citou a possibilidade de levar a questão ao Tribunal Penal Internacional, competente para os crimes de guera. A última tentativa do Conselho de Segurança esbarrou no veto da Rússia.
No atual contexto, o apelo do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para “acabar com o pesadelo” na Síria tem poucas possibilidades de ser ouvido nesta semana.
É a terceira evacuação desse tipo depois de um acordo de dezembro prevendo que esse setor passaria para controle do exército sírio em troca de levantar o cerco imposto três anos antes.
Cerca de 600 mil pessoas vivem sitiadas em toda a Síria, segundo a ONU.
Além disso, chegou uma ajuda no domingo pela primeira vez em seis meses a quatro localidades sitiadas: Madaya e Zabadani, cercadas por tropas do regime na província de Damasco, e Fua e Kafraya, pelos rebeldes em Idleb (noroeste), segundo a Cruz Vermelha.
O conflito sírio provocou mais de 300 mil mortes desde 2011, segundo o OSDH, e resultou na maior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial.