Documentário sobre macaco Tião sairá no segundo semestre

O esqueleto do Macaco Tião está exposto no Centro de Primatologia do Rio de Janeiro, em Guapimirim, a serviço da ciência.

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Temperamental, inteligente, brincalhão, comunicativo, ciumento e exigente. Macaco Tião, a grande surpresa das eleições municipais de 1988, terá a sua história contada em um documentário do diretor Alex Levy-Heller. Produzido em tempos de Lava-Jato e descrédito por causa do grande número de políticos envolvidos em esquemas de corrupção, “Macaco Tião – O candidato do povo” está em fase de finalização e será lançado no segundo semestre deste ano. Serão 75 minutos que contarão não apenas o lado animal de Tião, mas também os bastidores da campanha política daquele ano.

— Ele era um cidadão do Rio e um candidato que ficou em terceiro lugar nas eleições daquele ano. Foi uma figura política da nossa cidade e merece ser homenageado. Há documentários produzidos de tantas outras personalidades, por que não do macaco Tião? — questiona o diretor.

Em 1988, Tião foi lançado candidato à prefeitura pela “legenda” Partido Bananista Brasileiro (PBB), uma brincadeira dos redatores do “Planeta Diário” e da “Casseta Popular”, que mais tarde se tornariam o grupo humorístico “Casseta & Planeta”. Mas o que tornou um chimpanzé do zoológico do Rio um fenômeno das urnas?

— A representatividade da classe politica era muito contestada. Não tinha em quem votar, quem o povo abraçasse como futuro prefeito do Rio. E aí surgiu a candidatura. O que começou como uma grande brincadeira, transformou-se em um protesto contra os candidatos e um incentivo ao voto nulo nas antigas cédulas eleitorais. As pessoas escreviam o que queriam, o nome que fosse, a frase que quisessem — conta Alex.

E o macaco Tião não fez feio: estima-se que ele tenha recebido 400 mil “votos”, não contabilizados oficialmente, dos eleitores. Essa votação o deixou em terceiro lugar entre os 12 candidatos que disputaram o pleito. Cerca de 9,5% dos cariocas que compareceram às urnas apostaram nele. Quem levou a eleição naquele ano foi Marcello Alencar. Se fosse no primeiro turno da eleição de 2016, Macaco Tião ficaria em quinto lugar, entre Flávio Bolsonaro (424.307 votos) e Índio da Costa (272.500).

Para Alex Levy-Heller, muitos queriam apenas expressar as suas frustrações com o cenário político da época por meio do animal.

Jorge Luiz de Oliveira foi um dos tratadores do macaco Tião. Durante 10 anos, ele conviveu com o “macaco mais humanizado que ele já conheceu”. O funcionário do RioZoo há 31 anos conta que Tião tinha as suas manias e que precisava ser agradado a todo momento. Diferentemente do que falam por aí, Tião não jogava as suas fezes nos outros. Jorge conta que ele arremessava uma mistura de terra, lama e frutas.

— Ele não colocava a mão nas fezes dele, sempre foi assim. Ele separava as frutas e legumes que não gostava e deixava em um cantinho para jogar no público — lembra.

Um dos prazeres de Tião era admirar as luzes acesas das torres que ficam no alto do Morro do Sumaré, na Zona Norte do Rio. Jorge conta que ele forrava o chão com sacos de estopa e passava as noites sentado na jaula e olhando as luzes. Outra curiosidade revelada pelo tratador era o fascínio que as mulheres loiras exerciam sobre o animal.

— Ele ficava louco, olhando para todas. Principalmente as que usavam botas nos pés. Mas apesar de toda essa admiração, infelizmente o macaco Tião morreu solteirão, sem formar uma família e nem deixar descendentes — lamenta Jorge.
A ESCOLHA DO SUCESSOR

Quando o macaco Tião faleceu, em 23 de dezembro de 1996, aos 33 anos, em virtude da diabetes, uma votação foi realizada para tentar encontrar o seu sucessor como uma das estrelas do zoológico. Na briga, estavam os chimpanzés Pipo e Paulinho. À época, o primeiro foi escolhido vencedor e tinha tudo para chegar ao estrelato. No entanto, Paulinho sempre foi considerado mais animado e engraçado, conquistando o coração dos frequentadores.

— Ele já estava no RioZoo há 10 anos e cresceu solto até os três anos de idade, correndo pelos corredores. Tanto que, até hoje, quando foge da jaula pelo acesso dos tratadores, ele vai direto para a cozinha dos animais, pois já conhece o caminho — revela Jorge.

A criação livre nos primeiros anos de vida é um ponto em comum entre Paulinho e Tião, que ganhou esse nome em homenagem ao padroeiro da cidade – São Sebastião – já que nasceu próximo ao seu dia, 16 de janeiro de 1963. Quando filhote, Tião passeava pelo zoológico de mãos dadas com seus tratadores e visitava diariamente as salas da administração.

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Paulinho hoje tem 31 anos, e segue saudável. Diferentemente de Tião, ele coloca as mãos nas suas fezes e de vez em quando arremessa os excrementos em direção ao público, geralmente quando se sente incomodado com os fãs que gritam o seu nome em busca de uma fotografia e uma pose. Mas nem tudo é sujeira. Paulinho já foi flagrado limpando o corredor de acesso às jaulas, com direito a mangueira e água, em uma das fugas.

A alimentação de Paulinho é a base de frutas, verduras, iogurte e legumes. Melancia, tomate e banana são os alimentos preferidos do macaco. Tião também sempre gostou de comer do bom e do melhor. No entanto, o tratador dos primatas recorda que o macaco sofreu muito quando viu as mangas, abacaxis e outras frutas serem substituídas por repolho e chicória devido a diabetes. Segundo Jorge, mesmo doente, Tião sempre era agradado com uma banana pelos outros funcionários do zoológico.

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O esqueleto do Macaco Tião está exposto no Centro de Primatologia do Rio de Janeiro, em Guapimirim, a serviço da ciência.

A COMÉDIA COMO FERRAMENTA CRÍTICA

Além de imagens da época, “Macaco Tião — O candidato do povo” terá depoimentos dos cassetas Marcelo Madureira, Helio De La Peña, Beto Silva, Hubert e Claudio Manoel, e de sociólogos e cientistas políticos como Roberto DaMatta e Sergio Besserman. O diretor Alex Levy-Heller afirma que há vários pontos por trás da campanha eleitoral de Tião: o voto obrigatório, o voto de protesto e a insatisfação dos eleitores.

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— Considero que há um legado. Hoje, vários candidatos políticos são seus seguidores. Pessoas sem vocação e sem um nível educacional adequado para fazer carreira política, mas que mesmo assim recebem uma quantidade expressiva de votos — explica o diretor.

Alex Levy-Heller lembra que o macaco Tião sempre teve a vida documentada pelas emissoras de TV, que faziam matérias e reportagens sobre os aniversários e peripécias do animal. Por isso, segundo ele, não foi difícil encontrar boas imagens. Um dos entrevistados para o filme, Marcelo Madureira afirma que, na época, o macaco reunia as principais características para um bom político, e lembra a grande repercussão conquistada.

— A campanha foi um sucesso absurdo. Uma pena que ele não pode prosseguir na carreira política. Mas eu acho que o macaco Tião não teria a menor chance no cenário político atual, pois ele sempre foi um animal honesto e nunca roubou ninguém — afirma.

O treinador Jorge Luiz, do RioZoo, lembra dos cabos eleitorais que iam até o zoológico, estampando a foto do Tião em camisas e cartazes. O diretor Alex Levy-Heller conta que o Bussunda, casseta falecido em 2006, era o grande porta voz da campanha que colocava o macaco Tião como o grande representante do “povão” no fim da década de 80.

— O fato saiu no Le Monde e no New York Times, teve fama internacional. As pessoas não acreditavam que um macaco tinha sido eleito para um cargo tão importante — conta o diretor Alex Levy-Heller, que mergulhou nas curiosidades do macaco Tião no final de 2014 e passou os últimos anos colhendo boas histórias. O documentário tem produção da Alelo Filmes e Afinal Filmes, e distribuição da Pipa Produções.

rede tv +Fonte: Jornal O Globo

 

 

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