Os cortes também afetaram a frota de cerca de 1.600 viaturas da Polícia Civil.
A crise financeira que atinge o Estado do Rio já ameaça investigações e afeta o funcionamento de delegacias em toda a região. Uma dívida de R$ 10 milhões com a empresa Prol, responsável pela manutenção do sistema de informática que integra todas as delegacias do estado, preocupa a cúpula da Polícia Civil. Se a empresa interromper a prestação do serviço, até a confecção de registros de ocorrências e o levantamento de informações sobre suspeitos de crimes serão suspensos.
— Na prática, a delegacia vai parar de funcionar. Dependemos desses bancos de dados para investigar e atender nosso público — afirmou a reportagem um delegado titular de unidade da Zona Norte do Rio.
O sistema mantido pela Prol também é responsável pelo intercâmbio de informações entre a polícia, o Detran e o Tribunal de Justiça. A última parcela do contrato paga pela Polícia Civil foi a de novembro do ano passado. Outros terceirizados, como a empresa que presta serviço de recepcionista em delegacias, já interromperam os serviços após três meses sem pagamento.
Nessa terça-feira, a corporação anunciou uma série de medidas para cortar gastos. Entre elas, até economia de papel nas delegacias. A partir de agora, registros de ocorrência não serão mais impressos e entregues às vítimas ou advogados , mas sim enviadas por e-mail.
Os cortes também afetaram a frota de cerca de 1.600 viaturas da Polícia Civil. A partir de agora, um terço dos carros não poderá mais abastecer em postos dos órgãos de segurança pública. Unidades importantes foram deixadas de fora do corte, como a Divisão de Homicídios, a Coordenadoria de Recursos Especiais e o Departamento de Polícia Técnico-Científica. Todas as delegacias distritais da capital perderam ao menos dois carros cada com a medida. Contratos referentes ao aluguel de viaturas descaracterizadas serão revistos.
Operações e diligências fora do estado também estão suspensas, assim como a transferência de presos fora do Rio. A empresa que emite passagens aéreas para a polícia, sem pagamento desde o fim de 2015, deixou de prestar o serviço. Segundo a Polícia Civil, a suspensão vai ocorrer até “o restabelecimento de recursos disponíveis para custeio de passagens aéreas e ressarcimento de despesas relativas ao pagamento de diárias”.
Atendimento deficiente
A falta de recepcionistas e policiais prejudica o atendimento ao público nas delegacias distritais do Rio. Ontem, numa unidade da Zona Norte da cidade, diante de um balcão cheio de pessoas sem atendimento, o delegado titular saiu de sua sala e passou a também atender quem queria fazer um registro de ocorrência. Só um policial atendia o público na distrital.
— Depois que o estado parou de pagar policiais que aderiam ao RAS (Regime Adicional de Serviço), o atendimento ficou bastante prejudicado. Esses agentes eram usados quase exclusivamente no balcão — explica o delegado.
Ao longo de 2015, a Polícia Civil abriu cerca de 2.500 vagas mensais de RAS, gastando um total de R$ 40 milhões. Desde novembro, as parcelas não vêm sendo pagas. Diante da pouca procura a partir de fevereiro, a corporação diminuiu em um terço a quantidade de vagas.