105 mísseis e 3 alvos: veja como foi o ataque contra armas químicas na Síria.
O bombardeio de Estados Unidos, França e Reino Unido a alvos supostamente relacionados a armas químicas na Síria começou por volta das 4h da madrugada na Síria (22h de sexta-feira em Brasília), no momento em que o presidente norte-americano Donald Trump anunciava a ação.
A Rússia chegou a afirmar que a defesa antiaérea síria interceptou 71 mísseis, no entanto, o Departamento de Defesa dos EUA disse que nenhum dos 105 mísseis disparados sofreu interferência.
Soldados sírios protestam contra ação conjunta de EUA, Reino Unido e França
Os alvos
Centro de pesquisa e desenvolvimento Barzah
- Localização: na região da grande Damasco
- Suspeita de produção e testes de tecnologia química e biológica
- Armas: 76 mísseis (57 Tomahawk e 19 Jassm)
Armazém em Him Shinshar
- Localização: perto de Homs
- Suposto depósito de gás sarin e equipamentos de produção
- Armas: 22 mísseis
Bunker em Him Shinshar
- Localização: Homs
- Suposto depósito de armas químicas e posto de comando
- Armas: 7 mísseis
De onde saíram os mísseis?
Navios no Mar Vermelho
- Cruiser USS Monterey – 30 mísseis Tomahawk
- Destroyer USS Laboon – 7 mísseis Tomahawk
Navio no Golfo Pérsico
- Destroyer Higgins – 23 mísseis Tomahawk
Navios no Mediterrâneo
- Fragata francesa – 3 mísseis SCALP
- Submarino John Warner (EUA) – 6 mísseis Tomahawk
Pelo ar
- Bombardeiros B1 Lancer (EUA) – 19 mísseis ar-terra
- Tornados e Typhoons (Reino Unido) – 8 mísseis “Storm Shadow”
- Rafales e Mirages (França) – 9 mísseis SCA
Centro de pesquisa científica destruído em Damasco por bombardeiro de EUA e aliados
Bombardeios na Síria são sinal importante ao Irã e Hezbollah, diz ministro israelense.
Os ataques liderados pelos Estados Unidos na Síria são um “sinal importante” para o Irã, e para os militantes do grupo sírio-libanês Hezbollah, disse um ministro do gabinete do governo israelense neste sábado.
Yoav Gallant, membro do gabinete de Segurança do primeiro ministro de Israel Benjamin Netanyahu.
“O uso de armas químicas ultrapassa a linha vermelha que a humanidade não pode mais tolerar”, disse no Twitter Yoav Gallant, membro do gabinete de Segurança do primeiro ministro de Israel Benjamin Netanyahu.
Criança é atendida após ataque na Síria.
Forças norte-americanas, britânicas e francesas fizeram ataques aéreos na madrugada em resposta a um ataque de gás venenoso que matou dezenas de pessoas na semana passada. O presidente dos EUA, Donald Trump, disse que estava preparado para responder até que o governo de Assad suspenda o uso de armas químicas.
O clima de revolta se espalhou, e a repressão se intensificou. Apoiadores da oposição pegaram em armas, primeiro para defender a si mesmos e depois para expulsar forças de segurança das áreas onde viviam. Assad prometeu acabar com o que chamou de “terrorismo apoiado por estrangeiros“.
“O ataque americano é um sinal importante para o eixo do mal – Irã, Síria e o Hezbollah”, disse Gallant.
Vladimir Putin, cumprimenta presidente sírio, Bashar al-Assad, em encontro no Kremlin, em Moscou
Quais interesses cada país tem na guerra da Síria?
De uma guerra civil que opunha rebeldes e jihadistas ao regime do presidente Bashar al-Assad, o já longo conflito na Síria evoluiu para um enfrentamento internacional no qual potências como Estados Unidos, Rússia, Turquia, Irã, Arábia Saudita e também Israel estão cada vez mais envolvidos.
Hassan Rouhani
Irã: principal apoiador de Assad
À primeira vista, o regime secular da Síria e a teocracia iraniana têm pouco em comum. Mas foi justamente a ajuda de Teerã que evitou a queda de Assad, ao menos até a intervenção direta da Rússia, no final de 2015. Até lá, o Irã era o principal aliado militar de Assad.
Os iranianos forneciam dinheiro, armas, informações de inteligência e enviavam conselheiros militares, como também tropas para a Síria – formadas por membros da Guarda Revolucionária, por milícias xiitas ou também pelo grupo libanês Hisbolá, que é fortemente apoiado pelo Irã.
O viés religioso da guerra civil, por meio dos jihadistas sunitas, oferece ao Irã a possibilidade de se apresentar como a potência protetora dos xiitas, em oposição à potência regional sunita, a Arábia Saudita.
Além disso, a aliança bélica do Irã com Assad se baseia em três objetivos comuns: o desejo de conter a influência americana no Oriente Médio, o enfraquecimento de Israel e, no passado, impedir a ânsia por poder do Iraque comandado por Saddam Hussein.
Atualmente, Teerã e Damasco compartilham também a oposição à Arábia Saudita e aos países sunitas do Golfo Pérsico. Em termos de estratégia regional, a Síria é importante para o Irã como uma ponte para o Líbano, onde o Hisbolá tem sua área central de atuação.
Vladimir Putin
Rússia: a salvação de Assad
Quando Assad se encontrava num beco sem saída, a Rússia o ajudou: em 2015, Moscou deu início ao seu apoio militar ao regime sírio. O objetivo oficial da Rússia: a luta contra o terrorismo. Na verdade, os ataques se dirigiram não somente contra o “Estado Islâmico” (EI) e outros grupos jihadistas, mas também contra muitos outros adversários de Assad.
Manter Assad no poder nunca foi o único objetivo de Moscou: depois do isolamento da Rússia devido à crise da Ucrânia, o presidente Vladimir Putin quis reposicionar seu país no cenário internacional, principalmente como potência atuante no Oriente Médio – e foi bem-sucedido. O presidente sírio também lucrou com a intervenção russa: ele reconquistou grande parte da Síria.
Os maiores sucessos militares dos russos aconteceram em Aleppo e Palmira. Nesse contexto, no entanto, o Kremlin ignorou as diversas acusações de crimes de guerra contra civis.
Além disso, a Rússia e o Irã compartilham o objetivo de diminuir a influência dos Estados Unidos no Oriente Médio.
Mohammed bin Salman
Arábia Saudita: guerra de procuração contra o Irã
Desde a guerra do Iraque, em 2003, a Arábia Saudita, sunita, vem se preocupando com a crescente influência do Irã, xiita, na região, com quem compete pelo papel de principal potência regional. A proximidade entre Damasco e Teerã também é vista com desconfiança por Riad.
A Arábia Saudita vem apoiando fortemente a oposição síria desde o início da Primavera Árabe, em 2011. O objetivo: derrubar Assad e instalar um regime mais amigável aos sauditas. Para tal, grupos jihadistas também foram generosamente abastecidos com dinheiro e armas. Tanto para a Arábia Saudita quanto para o Irã, a Síria se tornou um palco sangrento para a expressão dessa rivalidade.
Recep Tayyip Erdogan
Turquia: antes amiga, hoje inimiga
A Turquia em geral e o seu presidente, Recep Tayyip Erdogan, em particular mantiveram excelentes relações com o regime Assad até meados da década de 2000 – incluindo fotos de férias conjuntas na costa mediterrânea turca.
Com a eclosão da guerra civil síria, o oposto se tornou verdade: a Turquia passou a apostar na queda de Assad, apoiando a oposição síria. Por território turco passam combatentes e armas – destinados muitas vezes a grupos jihadistas, incluindo o “Estado Islâmico”.
Além disso, Erdogan quer desempenhar um papel importante na modelação da Síria pós-guerra. As expedições militares através da fronteira também servem para reivindicar esse papel. Em alusão ao Império Otomano, essa exibição de poder também deve ajudar Ancara no seu objetivo de se tornar uma potência influente no Oriente Médio.
Benjamín Netanyahu
Israel: o inimigo está em Teerã
A maior preocupação de Israel na guerra civil síria é a presença contínua da Guarda Revolucionária iraniana e de combatentes leais a Teerã na Síria. Acima de tudo, Israel teme que a milícia libanesa Hisbolá se estabeleça nas Colinas de Golã, na fronteira sírio-israelense, e bombardeie o país a partir daí.
Por esta razão, desde o início do conflito sírio em 2011, a Força Aérea israelense lançou cerca de uma centena de ataques a comboios de armas para o Hisbolá, fábricas de armamentos e posições iranianas.
Donald Trump
EUA: envolvimento sem planejamento
Foram as lições do fracasso da intervenção dos EUA no Iraque e na Líbia que levaram o ex-presidente Barack Obama à sua hesitante política para a Síria. Quando, em 2012, Assad chegou perto de uma derrota militar, Obama se recusou a um maior envolvimento, ainda que condenasse fortemente os ataques do governante sírio contra o próprio povo. Em vez disso, foi a Rússia que interveio na guerra civil – ao lado de Assad.
A política do presidente Donald Trump é igualmente hesitante: seus objetivos são a destruição do grupo terrorista “Estado Islâmico” e a contenção da influência regional do Irã. É por isso que o envolvimento dos EUA se limita à presença de forças especiais e ataques aéreos individuais. Assim, a participação americana na Síria não desempenha um papel realmente decisivo.

Angela Merkel
Alemanha: ajuda à autoajuda
No passado, a Alemanha sublinhou repetidamente que uma solução pacífica para a guerra da Síria só seria possível sem Assad. Recentemente, o porta-voz do governo em Berlim, Steffen Seibert, instou o Irã e a Rússia, aliados da Síria, a exercer influência sobre o governante sírio. “Sem o apoio desses dois aliados, o regime Assad não estaria militarmente onde está”, disse.
Militarmente, a Alemanha não está diretamente envolvida na guerra na Síria e é antes um ator de pouco peso. No entanto, aeronaves alemãs apoiam o reconhecimento aéreo de posições do “Estado Islâmico”. Inicialmente, esses aviões partiam da Turquia, mas agora, depois da retirada das Forças Armadas alemãs (Bundeswehr) de Incirlik, eles passaram a voar da Jordânia.
Além disso, a Bundeswehr ajuda os combatentes curdos que lutam contra o “Estado Islâmico” no norte do Iraque, principalmente através de treinamento e fornecimento de armas. A Alemanha também desempenhou um papel central na destruição temporária de armas químicas sírias.
Mais recentemente, no entanto, os tanques de guerra Leopard fornecidos há muitos anos à Turquia estiveram no centro de debates acalorados na Alemanha, depois que Erdogan os usou em seus ataques aos curdos na Síria.
Emmanuel Macron
França: Macron procura a solução política
Dos países ocidentais, foi a França que assumiu um papel particularmente ativo na guerra da Síria. Inicialmente, a França forneceu equipamentos médicos aos rebeldes sírios, mais tarde também armas. No final de setembro de 2015, deu início a ataques aéreos contra o “Estado Islâmico”, expandindo-os após os atentados terroristas de Paris, em novembro de 2015.
Segundo declarações próprias, as prioridades da França na Síria se concentram na melhora da ajuda humanitária, na luta contra o terrorismo e na retomada das negociações de paz. Principalmente em relação ao último ponto, o presidente Emmanuel Macron se esforçou de forma especial.
A França apoia a oposição moderada e acredita numa solução política para a Síria. Além disso, Macron disse, no ano passado, que Paris não considera mais a saída de Assad uma condição para as negociações de paz.
Há pouco mais de uma semana, o presidente francês ameaçou executar ataques aéreos na Síria se houvesse evidências do uso de armas químicas contra civis. Ele já havia advertido, no ano passado, contra uma ultrapassagem dessa “linha vermelha”.
Theresa May
Reino Unido: Ataque envia “mensagem” contra uso de armas químicas
“Esta ação coletiva envia uma mensagem clara:a comunidade internacional não vai ficar à espera e não irá tolerar o emprego de armas químicas“, declarou a primeira-ministra britânica, Theresa May, em conferência de imprensa, acrescentando que os ataques eram “ao mesmo tempo justos e lícitos“. Por outro lado, May explicou que a necessidade de agir rapidamente e razões de segurança operacional levaram a que a intervenção britânica não fosse votada no parlamento.
Donald Tusk
UE ao lado dos aliados e da justiça
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, afirmou que a União Europeia “está ao lado dos seus aliados e ao lado da justiça”, em reação ao ataque militar. “Os ataques dos EUA, França e Reino Unido mostram claramente que o regime sírio, com a Rússia e o Irão, não podem continuar com esta tragédia humana, pelo menos sem terem custos”, escreveu Donald Tusk, no Twitter.
Secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg
Secretário-geral da NATO diz que todos os aliados apoiaram ataques
O secretário-geral da NATO, North Atlantic Treaty Organization (OTAN), Jens Stoltenberg, disse que todos os 29 membros da Aliança apoiaram os ataques dos EUA, Reino Unido e França na Síria, na reunião do Conselho do Atlântico Norte que se realizou este sábado em Bruxelas.
Na reunião, os três países informaram os aliados de que “a sua ação militar foi limitada às instalações que permitem a produção e emprego de armas químicas” e que a intervenção foi “muito bem sucedida”, afirmou o secretário-geral da Aliança Atlântica num comunicado.
EUA, Reino Unido e França “salientaram que não havia alternativa possível ao uso da força”, acrescentou.
“Os aliados manifestaram pleno apoio à ação destinada a danificar a capacidade química do regime e a impedir futuros ataques químicos contra o povo da Síria“.
uma sessão de emergência na ONU.
Antes, o embaixador russo nos EUA, Anatoly Antonov, já tinha dito que “tais ações não serão deixadas sem consequências“, considerando que Moscovo está a ser ameaçado. “Insultar o presidente da Rússia é inaceitável e inadmissível”, acrescentou.
ONU: António Guterres alerta: “A Guerra Fria voltou”
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou, na sexta-feira, para o retorno da Guerra Fria e denunciou que a situação na Síria no presente representa o maior perigo para a paz mundial. “As crescentes tensões, e a incapacidade de alcançar compromissos para estabelecer um mecanismo de responsabilização (sobre o uso de armas químicas na Síria), ameaçam conduzir a uma total escalada militar”, disse, na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas pedida pela Rússia, para discussão das tensões em torno da Síria.
Os EUA tinham ameaçado intervir militarmente, em resposta ao suposto ataque químico do passado sábado, atribuído ao regime sírio de Bashar al-Assad. Rússia e Síria negam autoria dos ataques.
Onde tudo começou: Contexto da Primavera Árabe.
A intervenção militar árabe-ocidental na Síria refere-se a uma série de operações militares lançadas pelas forças aéreas e navais dos Estados Unidos, das nações europeias (como Reino Unido e França), da Austrália e dos países aliados árabes contra o grupo extremista Estado Islâmico do Iraque e do Levante (Daesh) em território sírio. O objetivo dos ataques é deter, conter e eventualmente destruir os fundamentalistas para impedir que eles tenham uma base de operações permanente na região.
Em 22 de setembro de 2014, Estados Unidos, Barein, Jordânia, Qatar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos começaram a atacar posições do Estado Islâmico dentro da Síria (assim como do Grupo Khorasan na Província de Idlib, a oeste de Alepo, e da Frente al-Nusra em torno de Ar-Raqqah como parte da Guerra contra o Estado Islâmico.
Em 2 de novembro de 2015, em resposta à intervenção, representantes do Ahrar al-Sham participaram de uma reunião com a Frente al-Nusra, o Grupo Khorasan, o Estado Islâmico e o Jund al-Aqsa, que visando unir os diversos grupos linha-dura contra a coalizão liderada pelos Estados Unidos e outros grupos rebeldes sírios moderados.[58] Em 14 de novembro de 2014, foi revelado que as negociações entre al -Nusra, Jund al-Aqsa, Estado Islâmico e Ahrar al-Sham haviam falhado.[59]
Em abril de 2017, em retaliação por um ataque químico na cidade de Khan Shaykhun, no noroeste da Síria, os Estados Unidos lançou um grande bombardeio naval contra alvos militares do regime Assad, o primeiro ataque intencional contra o governo local desde o início da guerra civil síria.
A guerra civil na Síria começou em 2011.
No contexto da Primavera Árabe. Se iniciou como uma mobilização midiática e popular contra o regime do presidente Bashar al-Assad e rapidamente eclodiu para uma revolta generalizada de civis armados e soldados desertores contra as forças do governo sírio. Contudo, a guerra rapidamente mudou de caráter, se tornando um conflito majoritariamente sectário e religioso. Grupos fundamentalistas começaram a tomar o controle da rebelião e ganharam grande influência. Entre essas facções, estava a organização extremista radical Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ou EIIL). Os militantes deste grupo tomaram rapidamente vários territórios na Síria.
Em 2013, frente a crescente pressão do ocidente, grupos seculares e moderados (como o Exército Livre Sírio) lançaram ataques contra os fundamentalistas, iniciando um racha dentro da oposição. O Estado Islâmico (EI), contudo, melhor armado e mais bem preparado, resistiu e continuou a ganhar terreno até que em julho de 2014 proclamou a criação de um Califado, que englobava territórios na Síria e no Iraque.
Em abril de 2018, forças aeronavais dos Estados Unidos, França e Reino Unido, lançaram um pesado bombardeio contra as cidades de Damasco e Homs, mirando alvos de importância militar do regime de Bashar al-Assad.
Segundo o presidente americano, Donald Trump, o bombardeio foi uma resposta direta a um novo ataque com armas químicas perpetrado supostamente pelas tropas de Assad contra civis em Douma. O governo sírio e autoridades russas negaram que Assad tivesse envolvimento no ataque químico.
Por Antonio Alexandre, Magé|Online.com