Agentes já recuperaram 70 mil litros de bebidas e 14 toneladas de carne na região.
Cercada por um dos dois complexos mais perigosos do Rio, Chapadão e Pedreira — que são dominados por criminosos rivais —, a região de Costa Barros se tornou um verdadeiro ‘atacadão’ do tráfico. Com variedade de produtos roubados: carga de cerveja, carne, cigarro, eletrodomésticos, eletrônicos e até matéria-prima para a fabricação de medicamento que auxilia no controle do HIV. Segundo agentes da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), em um ano, foram recuperados 70 mil litros de bebidas, 27.480 quilos de frango congelado e 14 toneladas de carne.
Segundo o delegado titular da unidade, Marcelo Martins, pelo menos 60% dos roubos são praticados por criminosos da Pedreira. “Os outros 40% são de bandidos do Chapadão, que preferem as cargas de cerveja. Já na Pedreira, há mais roubos de carne. Embora as preferências sejam diferentes, agem da mesma forma: sempre em dois carros e com oito pessoas. Usam fuzis e são violentos”, afirmou.
O delegado da DRFC, Maurício Mendonça, diz que há ações distintas nos dois complexos. “No Chapadão, a vítima, geralmente o motorista, fica em cativeiro enquanto a carga é descarregada e os bandidos agem com violência e ainda pedem resgate pelo caminhão. Isso ocorre mais quando a carga é de gás. Na Pedreira, agem com mais rapidez e logo liberam as vítimas.”
As agressões a socos, pontapés e coronhadas na cabeça são comuns,segundo agentes. Um dono de frigorífico da Baixada Fluminense que preferiu não se identificar, contou que, apenas em dezembro, teve dez caminhões com carga de carne roubados na Via Light. “Abordam o motorista, que é feito refém e levam a carga para Costa Barros. O funcionário ainda é obrigado a descarregar a carga junto com os bandidos. Lá, a carne é vendida pela metade do preço. Por ano, temos um prejuízo de R$ 300 mil”, lamentou.
Uma das maiores apreensões feitas pela DRFC, ocorreu no primeiro semestre do ano passado, quando agentes recuperaram na Pedreira, uma carga de quatro toneladas de pó que seriam usados para a fabricação de medicamento para auxiliar o controle do HIV. O material estava avaliado em R$ 1 milhão.
Uma das cargas mais difíceis de serem recuperadas é a de cigarro. Segundo policiais, a explicação é clara. “É uma carga leve e que não precisa de armazenamento. Fácil de ser dispersa”, contou Maurício Mendonça.
Apesar das dificuldades, em 12 meses, a especializada apreendeu 1.532.815 unidades de cigarros. Ainda foram recuperados R$ 1.200,00 em eletrodomésticos.
Na semana passada, a DRFC recuperou cinco caminhões com cargas variadas: ovos de chocolate, carne suína, produtos de limpeza e mais de dez mil latas de cerveja Heineken e Desperados (cerveja com tequila).
Na quinta, um PM foi morto na Pavuna, após bandidos tentarem roubar um caminhão de cigarros.
Mais ataques em 4 pontos
As ações de bandidos da Pedreira e Chapadão têm ocorrido com mais frequência em quatro pontos do Rio. Na Baixada Fluminense, os ataques acontecem na Via Light, Arco Metropolitano, Rodovia Presidente Dutra e na Avenida Pastor Martin Luther King Junior, principalmente em São João de Meriti, que fica próximo de Costa Barros.
Na Avenida Brasil, os criminosos optam mais pelos trechos entre Irajá e Jardim América para atacar.
“A maioria das cargas, após serem roubadas e levadas para as comunidades, são vendidas para comerciantes do Grande Rio e Sul Fluminense. Eles são os interceptadores. Queremos cortar de cima. São eles que financiam este crime”, garantiu Maurício Mendonça, que além do delegado titular Marcelo Martins, trabalha com cerca de 50 agentes e nas operações utilizam um blindado e fuzis.
Eles estão à frente da especializada desde o dia 19 de dezembro de 2014. “Fazemos ações com inteligência e estamos identificando as lideranças das quadrilhas”, disse Marcelo.