Com dólar nas alturas, brasileiros trocam exterior por destinos nacionais

Dólar turismo a mais de 4 reais afasta turistas de passeios fora do Brasil e faz com que quase 80% dos brasileiros prefiram viajar no próprio país

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A crise econômica e a disparada do dólar deixaram os brasileiros mais perto do Brasil. Se até pouco tempo atrás havia a percepção de que era mais barato ir para Miami, nos Estados Unidos, do que para o Nordeste brasileiro, por exemplo, o quadro já não é mais esse. Com o dólar turismo ultrapassando os 4,40 reais, o poder de compra do brasileiro no exterior caiu, aumentando a procura por destinos turísticos dentro da fronteira. Levantamento feito pelo Ministério do Turismo, mostra que 78% dos brasileiros que desejam viajar nos próximos seis meses preferem um destino nacional a um estrangeiro. Trata-se do maior índice para o mês dos últimos cinco anos.

De acordo com a Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav), o número de viagens de brasileiros ao exterior deve cair 10% neste ano em relação a 2014. A queda é significativa se for levado em conta que o indicador estava em trajetória ascendente desde 2009 – em 2014, o avanço foi de 5%. A instituição estima uma alta de 7% nas viagens domésticas.

A maior procura por destinos nacionais também é vista nos buscadores de passagens e agências. Entre janeiro e agosto deste ano, houve um aumento de 14% nas buscas para viagens domésticas no buscador Skyscanner. As cinco cidades brasileiras mais procuradas no período foram São Paulo (14,78%), Rio de Janeiro (10,28%), Fortaleza (5,42%), Salvador (4,79%) e Recife (4,64%). Levantamento inédito da Decolar.com mostra que, nos oito primeiros meses do ano, as vendas de passagens e pacotes para destinos nacionais cresceram até 12%, refletindo o aumento do turismo doméstico e a queda do internacional. Na CVC, maior operadora de viagens do setor, as viagens nacionais ganharam incremento de 5% no primeiro semestre. Com isso, os destinos em território brasileiro somaram 65% da preferência dos clientes.

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O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, diz que, embora seja preocupante, o atual cenário de crise abre alternativas de negócios para o setor. “Com o dólar tão proibitivo, há tempos não tínhamos uma chance tão importante para impor o turismo nacional como uma vertente econômica e social do país”, afirmou. Ele afirma que o estímulo ao setor gera emprego e renda, mas reconhece dois grandes obstáculos: a falta de mão de obra qualificada e a baixa divulgação.

Estudo feito pela Embratur, com base em dados oficiais de orçamentos públicos, mostra que o Brasil destinou apenas 60 milhões de reais para a promoção do turismo nacional em 2014. A cifra é significativamente menor do que a gasta por países próximos como México (485 milhões de dólares), Equador (95 milhões de dólares) e Colômbia (100 milhões de dólares). “Estamos mostrando ao governo a oportunidade que o turismo brasileiro merce ter neste momento. A estratégia passa por uma melhor e mais ampla divulgação, o que é, sobretudo, uma decisão política”, afirma o ministro. Segundo Alves, a estratégia pode acelerar a receita gerada pelo setor, que deve passar de 8 bilhões de dólares em 2014 para até 10 bilhões de dólares em 2015.

Crise – Não é só o câmbio que tem influenciado na decisão do brasileiro. “Outro fator importante é a crise econômica no Brasil. As pessoas estão preocupadas, o comércio está fraco, a indústria está mal, ainda há o medo de perder o emprego”, diz Leonel Rossi, diretor da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav). Com o custo de vida mais elevado por causa da inflação e dos juros altos, os brasileiros estão contendo os gastos. Os primeiros a ser eliminados são os considerados não-essenciais e de alto valor agregado, como viagens.

O dólar alto também tem levado à bancarrota muitas agências de viagem, que já não vinham bem por causa da disseminação de sites de desconto na internet. Uma das maiores do setor, a Nascimento Turismo, fundada em 1961, entrou com pedido de recuperação judicial em março para honrar o pagamento dos pacotes que já haviam sido comercializados. A Time Brazil, outra veterana do segmento, chegou a paralisar suas vendas temporariamente por problemas financeiros também em março.

Para driblar as adversidades, as agências tem lançando mão de algumas estratégias para segurar os clientes. A mais agressiva delas é congelar o dólar – algumas chegam a fixá-lo até 2,99 reais. “É uma espécie de desconto. É para fazer um chamariz”, diz a agente de viagem Federica Zocchi. “Algumas até enganam o cliente – você aumenta o valor do pacote e abaixa o do dólar. Mas a maioria faz isso para não perder a clientela. É preferível não ter lucro e conseguir só pagar as contas do mês do que perder o cliente”, completa Rossi.

Passagens – A queda na procura por viagens internacionais só não foi maior porque o preço das passagens aéreas também caiu. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ele despencou 32,19% no acumulado de 2015 até julho. Em um ano em que a inflação acumula alta de quase 10%, esse é um dos únicos itens averiguados pelo instituto que teve baixa no preço. “Essa queda violenta compensou e ajudou a manter as vendas”, disse Rossi, da Abav.

“O primeiro semestre deste ano, por exemplo, permitiu que os consumidores tivessem acesso a inúmeras promoções para os EUA, inclusive para viagens que ainda acontecerão neste segundo semestre”, complementa o diretor da Decolar.com, Alípio Camanzano.

Outro dado que deixa nítido esse fenômeno é o do gasto dos turistas brasileiros no exterior calculado pelo Banco Central (BC), que somou 1,67 bilhão de dólares em julho, tradicional mês de férias. O montante representa uma queda de 30,5% em comparação com om mesmo mês de 2014. Foi o mês de julho mais fraco em cinco anos. A lógica é simples: com o dólar nas alturas, não vale a pena gastar lá fora. “Agora, as pessoas estão indo mais para passear. Não tem mais aquela coisa de trazer malas e malas dos Estados Unidos. Não compensa”, diz Federica.

MGT
Fonte:  Revista Veja

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