A defesa nega que Suel tenha enriquecido de maneira ilegal.
No dia da prisão do sargento do Corpo de Bombeiros Maxwell Simões Corrêa, de 44 anos, na última quarta-feira, a Polícia Civil não encontrou o celular pessoal do bombeiro, objeto considerado importante nas investigações. Os investigadores acreditam que ele tenha dado sumiço no aparelho pouco antes de ser preso. Suel, como é conhecido por seus pares, é apontado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) como cúmplice do sargento da PM Ronnie Lessa, acusado das mortes da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, há dois anos e três meses. Segundo os investigadores, o bombeiro teria emprestado o carro para o descarte de armas de Lessa, no dia seguinte à prisão do PM, em março do ano passado. Entre o armamento, que teve como destino final as profundezas do mar da Barra da Tijuca, próximo às Ilhas Tijucas, estaria a metralhadora HK MP5 usada no crime.
A demora do sargento do Corpo de Bombeiros em abrir a porta, alertou os investigadores, na manhã de quarta-feira, de que o militar estaria se desfazendo de provas. De imediato, os agentes arrombaram a porta. Mas depois de vasculharem por cerca de três horas o imóvel, uma casa num condomínio de classe média no Recreio dos Bandeirantes, o celular não foi localizado. Como o militar estava sendo monitorado, os policiais e a promotoria sabiam que ele fazia uso intenso do aparelho. Além de checar armários e paredes, os investigadores fizeram buscas embaixo do assoalho e até no telhado. Havia a desconfiança de que houvesse algum fundo falso que servisse de esconderijo. Na casa, só a mulher de Suel, a vendedora Aline Siqueira, estava com o telefone, que não foi apreendido. No entanto, documentos foram levados pelos policiais para serem analisados.
De acordo com as investigações, Suel teria um telefone exclusivo para comandar possíveis negócios ilícitos, como a exploração dos serviços de TV a cabo e internet clandestinos (gatonet) em favelas das zonas Norte e Oeste. Os agentes apuram também de onde vem o dinheiro do bombeiro, que está sendo investigado também por lavagem de dinheiro. A defesa nega que Suel tenha enriquecido de maneira ilegal.
O bombeiro, que é lotado no Grupamento de Busca e Salvamento da Barra, tem um patrimônio incompatível com sua renda. Com soldo de cerca de R$ 7 mil, sem os descontos, o militar vive numa casa com piscina avaliada em R$ 1,9 milhão pelo mercado imobiliário, no Recreio dos Bandeirantes. Mas o que surpreendeu as promotoras do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, Simone Sibílio e Letícia Emile, que acompanharam a ação, foi encontrar um veículo BMW, com valor no mercado de R$ 172 mil, na garagem do imóvel. O IPVA do carro é mais elevado do que os vencimentos do militar.
Embora o titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DH), Daniel Rosa, encarregado do inquérito da morte de Marielle e Anderson, tenha ficado otimista com a prisão de Suel, ele ainda não revelou nada que pudesse ajudar a elucidar o caso. Depois de ficar quase seis horas na DH, o bombeiro foi levado ao Instituto Médico-Legal (IML) do Centro, para exame de corpo de delito. Em seguida, foi transferido para a Penitenciária do Corpo de Bombeiros, localizada em São Cristóvão, na Zona Norte.
Leandro Meuser, que defende o militar, negou que Suel seja miliciano. Disse ainda que ele poderá provar como adquiriu seu patrimônio.
Eu acredito que ele não tenha envolvimento com a milícia. Eu não conversei com ele sobre isso — afirmou Meuser. O meu cliente não tem perfil de miliciano. Ele me disse que tem outras rendas. Acredito que ele não seja da milícia.
Meuser disse que a casa de Suel é alugada:
Aquela casa não é dele. Perguntei ao meu cliente sobre sua renda, já que ele não poderia ter um imóvel daquele tipo com o salário que ganha no Corpo de Bombeiros. Maxwell me contou que tem outras rendas e que, inclusive, foram declaradas. Posso afirmar que ele tem dinheiro suficiente para ter os bens que tem. Ele não vive só do soldo de militar concluiu Meuser, que também negou a participação do bombeiro no descarte das armas de Lessa.
O advogado, no entanto, confirmou a amizade entre Suel e Lessa. Ele disse que pretende impetrar um pedido de habeas corpus em favor do cliente nos próximos dias, mas se queixou de não ter acesso ao inquérito contra o bombeiro.
O titular do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), delegado Antônio Ricardo Lima Nunes, não acredita na versão do bombeiro.
Podemos afirmar que sua renda não é compatível com os bens que ele tem. O Suel está sendo investigado por lavagem de dinheiro e, futuramente, poderá até ser indiciado por isso declarou.
Sobre as acusações da Polícia Civil em relação à obstrução de justiça no Caso Marielle, a defesa de Suel garante que não houve.
Fonte: Jornal Extra