Beltrame disse ainda que foi cobrado pessoalmente pelos problemas registrados em bairros da Zona Sul durante o fim de semana.
Após se reunir com o comandante-geral da PM, o secretário de Segurança Jose Mariano Beltrame disse que se os outros órgãos minicipais não dividirem com a polícia as responsabilidades de cuidar de menores desacompanhados e sem recursos para voltar para casa nas praias, a corporação vai voltar a recolher jovens em atitudes suspeitas. Beltrame pretende ainda na tarde desta segunda-feira contatar a Prefeitura do Rio e charmar Guarda Municipal, Secretaria de Ordem Pública, Secretária de Desenvolvimento Social e Polícia Civil.
Segundo o secretário, a decisão visa evitar até problemas de linchamento em áreas perto da orla. “Se ninguém atender meu chamado, voltarei com as ações de recolhimento o de menores como aconteceu em agosto, já neste fim de semana. A polícia foi tolhida em sua missão de prevenção. Muito me preocupa é que temos um outro problema que o setor de inteligência detectou ontem e hoje que é o de pessoas se preparando pra fazer justiça com as próprias mãos, com risco de linchamentos”, afirmou.
Mais cedo, em entrevista à CBN, Beltrame, disse que a polícia está “constrangida” para agir para coibir jovens que praticam arrastões nas praias. Há dez dias, depois de uma ação movida pela Defensoria Pública, a justiça do Rio proibiu que policiais apreendessem menores sem flagrante.
“Se a polícia atua, abusa do poder, se não atua está prevaricando. Conseguiram constranger a polícia”, afirmou o secretário, que disse que vai “trazer” órgãos responsáveis por menores para auxiliar a atuação da polícia no patrulhamento. Ele vai debater o esquema de policiamento da orla em reunião com oficiais no Centro do Rio na tarde desta segunda. Ele anunciou a volta da abordagem em ônibus.
Beltrame disse ainda que foi cobrado pessoalmente pelos problemas registrados em bairros da Zona Sul durante o fim de semana. “Ontem foram reclamar na minha casa o número de situações de ontem. Respondi que vocês tem que reclamar em outra casa. A polícia não tem que ficar mirando um jovem para ver se ele vai cometer alguma coisa”, contou. “[Durante a abordagem] não está em questão a questão racial, ou se ela [a pessoa abordada] vai cometer um delito. A palavra que fundamenta a abordagem da polícia chama-se vulnerabilidade. Eu pergunto para essas pessoas: como que o jovem sai, por exemplo, de Nova Iguaçu, a 30 km da praia, só com a bermuda e sem R$ 1 no bolso para comer, beber pagar um transporte e vai ficar no calorão que está fazendo. Não se trata de ser pobre ou rico, se trata de vulnerabilidade”, disse o secretário, cobrando a presença dos pais de jovens envolvidos em delitos.
“Temos uma infinidade de órgãos para exigir e só um órgão na ponta para executar. Quero trazer os órgãos responsáveis por menores, trazer tudo para esse lugar, para que a gente possa repartir essa responsabilidade”, acrescentou.
Beltrame criticou ainda pessoas que “fazem justiça com as próprias mãos” durante situações como as de ontem — moradores de Copacabana relataram espancamento de jovens suspeitos de roubos na região. Ele aproveitou para questionar a revogação do Estatuto do Desarmamento e afirmou que mais pessoas armadas em situações como a de ontem poderia ter gerado um “banho de sangue”.
Defensoria nega relação entre decisão judicial e onda de crimes
Por meio de nota, a Defensoria Pública afirmou que o Habeas Corpus que impede a apreensão de crianças e adolescentes sem flagrante delito, concedido pela Justiça no dia 10 de Setembro, apenas assegura o cumprimento do que já estava previsto na Lei. “O Estatuto da Criança e do Adolescente impede apreensão sem flagrante ou ordem judicial de autoridade competente”, diz o texto.
O órgão ainda afirmou que comandantes de vários batalhões da PM foram comunicados durante audiência que contou com o juiz da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, que a decisão judicial não proíbe a abordagem de menores suspeitos de atos ilícitos. “Entendemos que o direito de ir e vir deve ser respeitado, bem como o direito à segurança por toda a população, qualquer que seja seu endereço”, acrescenta o texto.
Fonte: G1